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quarta-feira, 16 de março de 2016

Lembranças de épocas passadas variadas que vem a cabeça sem serem convidadas e outras aquarelas


Por que eu tive este pensamento??

Porque agora pouco eu estava escrevendo um outro texto e então me veio a cabeça a lembrança de um sábado distante (não me lembro bem se foi no final dos anos 90 ou um pouco mais velho que isso) em que fomos, os meus irmãos, o meu pai e eu, para um local da micro-cidade em que ainda moramos para comprar "frango", numa época em que a minha consciência pelo sofrimento desnecessário, covarde e macabro de muitos animais não-humanos ainda estava em sua primeira infância, e eu em minha primeira adolescência. 


Esta lembrança veio-me sem ter sido convidada.

 A briga estúpida, não de minha parte, que tive com o meu irmão mais velho logo pela manhã, pode ter tido uma causa. O fato é que estas emersões de lembranças (do passado, obviamente) em minha cabeça  de variadas épocas tem sido constantes. O que isso significa? Que papel elas podem ter em minha vida? Será que contribuem no molde constante de minha personalidade?

 A primeira é uma obviedade, a melancolia. Como uma expressão potencialmente produtiva e/ou criativa da depressão ou de estados mórbidos desta natureza, a melancolia se relaciona com a memória autobiográfica e o constante acesso às lembranças do passado e principalmente de boas lembranças, pois se o meu cérebro filtrasse apenas ou especialmente as más lembranças é provável que não me tornasse tão nostálgico em relação ao passado. 

Novamente.... me lembrei de outro episódio ainda mais antigo, mais nebuloso, provavelmente por ser muito mais distante, lá pelos idos de 95. Novas lembranças relacionadas, episódios sem qualquer grande relevância de impacto, mas que para mim foram muito impactantes a ponto de tê-los comigo até hoje e possivelmente sempre. 

Ter uma memória episódica que filtra as lembranças ruins pode ser um importante fator para o desenvolvimento de uma personalidade melancólica.



Alegria de uma inocência perdida



Ah que belo espreguiçar, que pares de meias furadas, que tempo que não passava, que inocência perdida ou talvez nunca sentida, o espelho me chamou e eu fui, mergulhei na minha alma e encontrei o maior de todos os tesouros, louco para que nunca descobrissem, tornei-me o meu próprio sentinela, sereno à cor da pele, borbulhante e provocativo em meu núcleo quente, me perdi tímido, me redescobri sábio, amadureci, minhas asas nasceram, e eu me vi numa prisão sem muros e sem limites para a maldade.


O ser humano é o único animal que tem total consciência de que é um cobaia natural


O primeiro espreguiçar,
olhos de lince,
de relance,
no detalhe de ver melhor, 
mas sem ser águia,
de ser ágil,
mas sem ser leopardo,
de ser esperto,
mas sem ser vespa,
de ser humano,
que sente por todos os sentidos,
que sabe mais do que entende,
e isso é raro,
pois toda vida sabe mais do que o suficiente,
o olhar humano quer mais,
tem curiosidade,
quer ver mais do que pode,
quer ser mais do que é,
quer transpor barreiras,
porque é transcendente,
porque é um desespero só,
se vivesse só de presente,
mas sonha com noites passadas,
pensa em um novo amanhecer,
está no agora,
mas também está fora,
a voar por não-lugares,
que haverão de se formar,
está em qualquer lugar,
se desintegra e reintegra,
é como o movimento das ondas,
e alguns vão tão longe,
que invadem novas praias,
para se pisar.


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