todo dia,
o servo põe-se ao trabalho,
a colher os seus dias com as mãos,
a colher sensações,
raízes que podem dar frutos,
de sentir dor ou aquelas emoções,
profundas,
que nos causam arrepios,
a comoção...
A colheita é um fenótipo,
todo dia é uma vida,
nasce, vive e morre,
se chove ou faz sol,
se na montanha ou se misturando à areia da praia,
se na cidade ou na zona rural,
se se enxergando ou pelo tato do ouvido,
ou por ruelas, por cortiços,
Nos colhemos,
para depois nos devorarmos,
o dia nasce a luz da ilusão dourada
e morre na verdade dum céu d'estrelas,
A lembrança é o blefe do vício,
de se viver,
de querer um início,
e do fim,
se ver,
e perceber que,
o fim é apenas uma palavra,
um começo,
mais iludido estamos
quando pensamos de fato saber
pela ilusão de tal símbolo,
acreditamos viver
mas nos enganamos com as suas curvas
e promessas
e naufragamos n'além mar,
quando não temos terra firme,
pois não sabemos remar,
colhemos ilusões,
corremos sem parar,
respiramos sem buscar por sua razão,
pelo simples ato de respirar,
A colheita da vida,
é a colheita do ser,
de se ser,
só sabemos porquês,
se rezamos,
ou na meditação,
ou num simples coçar,
como a um macaco,
que nós somos,
com roupas e um nariz empinado,
fino a soprar pedantes ilusões,
no coletivo da vida,
é ser indivíduo,
de fazer o próprio trabalho,
e de preferência não dá-lo aos demais,
se já é um estorvo este ritual mecânico,
se somos autômatos,
viciados por nós mesmos,
porque estamos em nossos precipícios,
nos segurando,
a mão que nos mantém é de nossos espíritos,
o espelho d'água abriu nossos olhos de tal maneira que,
nos vemos mais
e queremos o sempre,
mas sempre não existe,
aliás, não se sabe se.