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quinta-feira, 21 de abril de 2016
Todo poeta (poeta) nasce morto
Todo poeta é um aborto
Vive sem viver de fato
Não é que viva apenas como um vegetal
Não é que não saiba aproveitar a vida
É porque quando se projeta
o faz sem qualquer proteção
se deixa levar sem se deixar,
vive só de alma
pois seu corpo animal a muito se despedaçou,
Nasceu desumano,
Especialmente pra si mesmo
O mundo o comprime
E não tem armadura que possa defende-lo,
Lacrimoso em sua ceroulas,
Põe-se a lamentar por seu não-nascer,
Vive suspenso onde quer que vá
Reconhece espaços e tempos
porque pode reconhecer-se,
Se para o não-poeta, ser e lugar são os mesmos,
Promíscuos nestes coitos de ignorâncias,
De gozos, risadas ou tramas
Por estes corpos colados
O não-poeta se deixa levar
de seu casulo de (in)certezas
nasce sempre uma nova borboleta,
enganada por seu ego,
e por sua ignorância,
bela em sua estampa,
mas a mente é de uma criança,
e das mais mimadas,
O poeta, que é magro de brilho
Ilumina no escuro por seu pesar
pesado como a uma pedra
o poeta-poeta é intransmutável,
pois expressa apenas o brilho de sua alma,
de sua essência,
em sua pureza de luz,
original e verdadeiro,
Se não vive como os vivos
então respira como os mortos
observa mais do que vivencia,
Vivencia mais com a mente
do que por suas pernas ou braços,
Mais da metade do seu mundo
está dentro de si,
É um pequeno cronos
a se auto consumir,
todos nós somos,
mas ele é dos poucos que sabem
e quer saber mais sobre este princípio,
que terá um intragável fim,
Vive o seu tempo
o seu espaço
as suas leis
o seu descanso
ou o seu cansaço
Extremamente original
a sua essência pulsa à flor da pele
Todos podem ver
o poeta-poeta é assim
Translúcido
a luz dum inocente neste mundo de sujos
O poeta-poeta é um senso profundo de individualidade
Não se espante se vaidade e ego lhe forem de afinidade
Quem não tem mais ninguém neste mundo
Só pode amar e odiar a si mesmo
Os espinhos estão virados pelo avesso
E machucam os seus órgãos internos
E se os afiarem demais
Cairão enfermos
E terminam cedo essa sua solidão
Desta morte,
que outros chamam de vida
Já se preparam pra esta vil donzela
desde o berço
até o beijo mortal e selador
Se aprendermos a nos amar
E a pedir pouco, sem maiores cobranças
A sabedoria pode nos tomar,
em seus braços doces,
E apintar com cores mais vivas
Esta amante melancolia
Faze-la sorrir
De vez em quando
Fazer a tristeza
ainda mais linda
Fazer a vida
mais bem vinda
Faze-lo aceitar melhor
esta despedida
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