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domingo, 25 de dezembro de 2016

Chaves e a sociedade conservadora

Desde que eu me tornei mais moralmente consternado que passei a rever com maior criticismo as minhas atitudes mesmo as que pareciam ser as mais inocentes. Por exemplo, tratar de maneira natural  ou acrítica o humor politicamente incorreto de dois dos meus seriados favoritos: Chaves e Chapolim. Eu fico desgostoso por usar este termo "politicamente correto/incorreto" pois passa a ideia de se consistir em um selo de qualidade no trato alheio enquanto que na verdade foi criado e tem sido usado para promover a capitulação pacífica e posterior extinção das populações ocidentais, nomeadamente os brancos caucasianos, via chantagens emocionais, isto é, as suas verdadeiras razões. Ainda que exista claramente uma boa lógica naquilo que o politicamente correto diz defender, esta lógica [moral] está sendo usada de maneira errada e com segundas intenções, moralmente falidas. Sem falar que o próprio termo em si já  é enganoso por ter uma palavra derivada de política. Podemos então pensar em um termo mais correto: comportamentalmente correto

Chaves e Chapolim foram feitos em uma época e em um país fortemente conservadores, então é pouco provável que não tivessem encarnado as características desta paisagem até mesmo para que pudessem ser aceitos pelo público. 

De acordo com que a minha consciência moral foi evoluindo eu fui percebendo o quão ofensivo Chaves e Chapolim poderiam ser. Os dois seriados mais parecem com filiais de ofensas e preconceitos metralhados pra vários ... mas não para todos os cantos. A minha queixa de sempre sobre o humor é que existem grupos que são naturais alvos de zombaria, tal como costuma acontecer nas escolas, enquanto que outros grupos tendem a ser não apenas "esquecidos" de passarem pela berlinda mas sequer tratados como passíveis de humilhação grátis


Por exemplo homossexuais versus heterossexuais. Por que diabos apenas os homossexuais ou não-heterossexuais que seriam passíveis de zombaria por parte dos humoristas e os heterossexuais não??? Será que é impossível fazer piada de heterossexuais?? Eu duvido. Acho que é possível sim. No entanto é extremamente raro ver algum humorista zombando dos defeitos que são muitos deste grupo. Logo o humor é claramente tendencioso e  direcionado para uma visão de mundo mais conservadora, só que mais voltada para o naturalismo, isto é, com base em pressupostos evolucionários, em que "desordens' humanas de todas as espécies são alvos preferencias de zombaria. 

Em Chaves e Chapolim a perspectiva conservadora é dominante tal como tem sido desde a muito tempo e só recentemente que começou a ser desastrosamente desafiada, e pra quê. A bondade metafísica cristã/conservadora ou simplesmente hipocrisia está bem representada no seriado, por exemplo, quando a personagem Dona Florinda, elitista e moralmente idiota, sempre cometendo injustiças contra o seu Madruga, se torna boazinha mas apenas nos feriados religiosos, convidando o Chaves pra comer em suas ceias de Natal e/ou tratando o seu algoz preferido de maneira decente, enfim.... 

As piadas sobre sexualidade e mais especificamente sobre não-heterossexualidade são lugar comum, bem típico entre conservadores que gostam de zombar daqueles que não se adaptam ao seu jogo telequete de cartas marcadas, de sincronia com a sua lógica naturalista e geralmente binária. Nos anos 70 e em um país como o México, ser homossexual ou era pecado ou era crime. É divertido fazer piada sobre homossexuais mas será que eles ligam?? Será que você ligaria se fizessem piada com você ou de maneira indireta e com grande frequência?? E se fosse praticamente um hábito cultural, você se importaria??


É apenas uma piada...

Em Chaves e Chapolim os animais não-humanos também não são bem tratados. É o Quico que mata o passarinho com estilingue, claro, que antes ele ''vivia' preso na gaiola. É o Chaves que atropela e mata o gato/animal do Quico. É o Chaves que come peixes de aquário ainda vivos. É a dona Florinda que odeia animais não-humanos. São as constantes comparações pejorativas com animais entre as personagens, como se o ser humano fosse uma criatura separada do reino animal. Tudo bem conservador

O mundo conservador [mas não apenas ele] também é um mundo de status, que valoriza os bens materiais e a posição social apesar de supostamente ser mais religioso, mais metafisicamente bonzinho. E este apego materialista conservador encontra-se presente em ambos os seriados, claro que com boas doses de crítica social, ainda que não consigam dissipar a atmosfera tipicamente conservadora que predomina em Chaves e Chapolim, e talvez esta fosse necessária até mesmo para que houvesse crítica, ''criticar o que''.

A hipocrisia moral conservadora encontra-se presente por exemplo pelo fato de Chaves, o garoto pobre e que está sempre com fome, viver ali e ninguém quase nunca o ajudá-lo, e em vários episódios fantásticos podemos ver com clareza esta bipolaridade que por um lado clama pelo senso de comunidade e por outro lado enfatiza no individualismo da família nuclear/"tradicional". Dona Florinda e seu herdeiro representam a elite conservadora (ainda que a maioria das elites pelo que parece tendam a agir de maneiras similares, isto é, de serem mais conservadoras), elitista, generalista em relação aos mais pobres, materialista e claro, moralmente idiota.


 Não há uma única personagem que represente ou o outro lado da força ou outro grupo dissidente. A ênfase na educação, um velho hábito conservador que tem sido bastante esquerdizado, também está presente por meio da personagem do professor Girafales e sua autoridade intelectual. Invenção de apelidos maldosos mesmo em relação à personagens "legais" , que não fazem mal pra ninguém, como a bruxa do... Senhorita Clotilde do 71, enfim, problemas na interação interpessoal, que são uma realidade generalizada entre os seres humanos, que em sua maioria são de conservadores, serão elementarmente encontrados em sociedades ou comunidades conservadoras como no caso da vila de Chaves e sua turma. Dona Clotilde não gosta de ser chamada de bruxa. Então, as crianças da vila deveriam parar de fazê-lo, correto* Mas deste jeito, não ''haveria graça''. Mais e mais notamos o quão sádico o humor pode ser, em sua essência. Eu acho o humor essencial e eu sou muito bem humorado, mas acho que deve se tornar recreativo e separado da sociedade, em seu cotidiano de interações reais, tal como o esporte está pra guerra. 

Hábitos pouco empáticos ou cuidadosos como fumar na frente dos outros, uma clara representação do comportamento tido como aceito, dos anos 70, pré "politicamente correto", também podem ser facilmente percebidos nos seriados. Parece que poucos seres humanos neste mundo tem o hábito da curiosidade lógica, de associar causas com efeitos e se questionarem quanto às suas validações factuais

O completo desprezo pelos animais domesticados que são criados como fonte de alimento também é ressoante nos dois seriados. 

Chaves e Chapolim marcaram eu não diria apenas a infância mas a vida de muita gente, inclusive a minha. Sou fã dos seriados e não me canso de vê-los sempre quando eu posso. As críticas que fiz sobre eles não mudarão minha estima incomensurável e gratidão que tenho por eles. Apesar de não cair no velho papo do "contexto histórico", de que em outras épocas certas atitudes universalmente reprováveis eram "aceitas" ou "tidas como comuns", eu entendo que no final Chaves e Chapolim não poderiam representar realidades perfeitas que por agora seriam irrealistas em relação à realidade humana que é complexamente imperfeita e contraproducente pra própria narrativa central de desordem social dos dois seriados mas especialmente do Chaves, novamente, sem esta desordem ainda haveria humor* Ainda haveria com o que criticar*


Chaves, especialmente, representa quase que perfeitamente o perfil comum das sociedades conservadoras, com todos os seus defeitos e qualidades ali presentes, e claro, pendendo mais para os defeitos. 

12 comentários:

  1. Por falar nisto, olha este blog(é escrito por um liberal típico):

    http://chaveseafilosofia.blogspot.in/

    E este texto;

    chaveseafilosofia.blogspot.in/2015/01/chaves-suis-charlie-para-entender.html

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    1. Obrigado vou ver. Eu sei que tem muitas críticas sociológicas sobre o seriado, que aliás é rico neste tipo de potencial.

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    2. http://chaveseafilosofia.blogspot.com.br/2016/07/meritocracia-e-chaves-e-filosofia.html

      achei esse texto uma grande bobagem. Marx é totalmente dispensável do ''ensino'' da filosofia. Inclusive pode-se falar de ''luta de classes'' com base em outras leituras se ele não foi o primeiro nem o último a falar sobre isso. Também não foi nem o primeiro nem o último a sugerir que as classes trabalhadoras devem se revoltar contra os desmandos das classes dominantes, ainda que talvez possa ter sido original ele ter concluído que as primeiras deveriam então tomar o poder.

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    3. e pra ser sincero nem li o resto depois desta parte, kkkk, ai ai

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    4. Extremamente dispensável, principalmente para a verdadeira filosofia. São idéias que nasceram mortas e ainda tem milhares de crentes acreditando que é algo novo, que vai funcionar; "Gente, vai acontecer, é só questão de tempo, logo vamos instalar o papel de parede da humanidade"(válido pra qualquer sistema filosófico/ideológico/religioso, etc que nasce doente).

      Ainda mais envolvendo esse sistema educacional bagunçado e a interação com cada indivíduo que não dá funcionamento.

      E tu acha que é válido ensinar "filosofia" ou filosofia nas escolas?

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    5. Bem, ensinar ''filosofia'' nunca é válido. Já filosofia, de fato, aí sim, é absolutamente importante. O problema no entanto

      qual é o percentual de crianças mas especialmente de jovens que de fato apresentam alguma facilidade ou motivação para aprender filosofia*

      Como ensinar filosofia*

      Será que temos que mostrar todos os clássicos*

      Assim como é perda de tempo tentar ensinar física especialmente quando começa a complicar mais, pra maioria das pessoas, ao menos aqui no Brasil, acho que o mesmo acontece com a filosofia, e com possibilidade de piorar este cenário porque ao contrário da física que se consiste em uma ciência separada do ser humano, exatamente em um conhecimento acumulado que é impessoal a nós, a filosofia é o oposto, e tudo aquilo que é mais pessoal é muito mais difícil de ser realmente internalizado pelas pessoas, claro que falo da sabedoria, porque em termos de estupidez estamos todos muito bons pra internalizar e colocar em prática.

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  2. Gosteicdo texto,muito interessante,acompanho seus textos há anos desde seu outro domínio,vejo o Chaves e Chapolim desde os anos 80 ,sou direitista e conservador,aprecio e respeito suas posições a respeito de nossa sociedade ocidental.Embora nem sempre concorde,mas acredito que muitas de suas idéias tem consistência ,são frutos de uma consciência com vida própria...voltando ao Chaves e Chapolim,tenho saudades do fim dos 80 e início dos 90 ,época em que viver era simplesmente viver ,sem nenhuma conotação política.Certos debates a respeito de intimidações escolares e mimimis a respeito de coisas pouco significativas,parecem coisas de seres frágeis.O conservador ao contrário,dos liberais é capaz de manter relações sociais mais sinceras,respeitáveis e harmoniosas.Me pergunto que progresso o liberalismo e a falta de disciplina pode trazer de bom a essa geração,que nunca luta por nada e considera o trabalho árduo uma humilhação.E ademais enxerga a hierarquia como tirania.Poucas pessoas ,só as muito sábias podem se autorregular.O discurso liberal fraqueja em querer despir valores sólidos ,sem uma roupagem nova que venha a cubrir a nudez dos valores sociais atuais.

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    1. Obrigado pelo prestígio desde o Santo!! =)

      Obrigado pelo elogio, sim, eu, na verdade, estou apenas fazendo aquilo que poucos tem sequer pensado em fazer, parar de comprar apenas um lado, ver todas as perspectivas possíveis, e julgar com base neste panorama, muito mais sábio e justo. A partir daí, eu concluo facilmente que tanto a direita quanto a esquerda, quanto o meio, em cima, embaixo, todos apresentam pontos válidos, mais ou menos ou discutíveis e inválidos, como eu gosto sempre de dizer, a verdade em um mundo de mentiras está espalhada e é dever do sábio de coletá-las.

      O problema do PC é que, ele parece uma coisa, mas é outra. À superfície parece moralmente legítimo mas a principal razão de existir ou pra quê foi inventado é para exterminar lentamente as populações europeias e na diáspora, perceba como que todos os padrões convergem pra esse fim. O PC é apenas ou especialmente direcionado para o ''homem branco''. Em outras palavras, tudo uma farsa montada por doentes mentais psicopáticos, seguida por outros doentes mentais da situação, os esquerdopáticos, e com intenções claramente totalitárias, nada novo na estória miserável de nossa qirida espécie. No entanto, a superfície o PC seria apenas sabedoria aplicada, só que como eu disse, não é usada pra esse fim, e portanto é completamente ilegítima. O pior é que a grande maioria das pessoas acham que é ou que não é legítima, poucos parecem ter o hábito de pensar, incrível, eu vejo isso na minha própria casa.

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    2. Sim, porque são seres frágeis, eu sou um deles, sou emocionalmente hiper-sensível. Acho que, como sempre, há de se separar aquilo que é idiota, por exemplo, apropriações culturais, apenas por parte dos ''ocidentais'', leia-se, brancos, daquilo que é válido, por exemplo, ser contra o bullying, porque isso é coisa de gente sádica, atrasada, que vampiriza a sociedade, e muitos dos perseguidos são justamente aqueles que mais podem dar contribuições à sociedade, e mesmo se não fossem, está apenas errado e não deve ser justificado sobre nenhuma maneira.

      Discordo de sua posição, pense de novo se vc acha mesmo que o conservador médio é capaz de manter relações saudáveis. Primeiro que poucos são capazes, o ser humano é bem tolo pasmem em termos sociais e interpessoais, é um atropelo atrás do outro, nós achamos que somos muito inteligentes ''também'' nisso, mas não somos, somos muito crus, muito burros justamente por sermos híbridos de instinto e razão e a segunda perde na maioria das vezes. Este texto é exatamente aquilo que tenho falado, o exemplo do natal que eu usei inclusive que é mostrado no Chaves. As pessoas que inevitavelmente são em sua maioria de conservadoras, declaradas ou implícitas, ''se tornam boazinhas'' por causa da magia de uma tradição ou feriado, aí passam a fazer aquilo por um dia, que poderiam ter feito o ano todo. Os que mais criticam essa hipocrisia são, pasmem, os esquerdos e os que mais defendem são, os direitos. Neste caso claro que os esquerdos estão certos.

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    3. Muitos dessa geração consideram o trabalho árduo SEM A CONSCIÊNCIA CRÍTICA do porquê de se trabalhar, enquanto que muitos não o fazem e ganham mais, uma injustiça social, por isso que pedem por uma melhor distribuição de renda, e ao mesmo tempo coisa de pessoas tolas, de baixa consciência social, e não estão tão errados assim não. De fato, vai trabalhar árduo, ok, mas pra quem, por que, será bem recompensado** Em nosso país, assim como na grande maioria dos outros países, sabemos que a resposta é não. É aquilo que eu falo, a filosofia do trabalhador, em que o trabalho liberta. Outra questão é, por que tem que trabalhar em ritmo tão frenético, isso é natural, isso é necessário* NÃO. Fazem isso porque alguns poucos estão em urgência de lucrarem muito. Neste sentido, a esquerda está com a mão certa, a direita com a mão errada, protegendo a sua elite e seus privilégios injustos, tal como a esquerda faz quando protege Lulla e cia ilimitada.

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    4. Eu convivo em sua grande maioria com conservadores e posso lhe dizer que, como sempre, eles tem as suas falhas e as suas qualidades, mas como eu sou mais pra neurótico então as suas falhas me interessam mais, e são muitas e como são a maioria, muito eloquentes. O fato dos esquerdos serem esses eternos juvenis, sub-lógicos e bon vivant sem responsabilidade, não significa que os direitos serão infinitamente melhores se também são incompletos.

      A hierarquia é uma inevitabilidade, a hierarquia injusta por exemplo com ''celebridades'', é sim, evitável.

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    5. A função do que vc tem chamado de ''liberalismo'', acho que com base na maneira como que os americanos costumam denominar a ''nova esquerda'', é especialmente de dividir para conquistar, desestabilizar a sociedade, criar muitos goldsteins, e com isso fazer com que apenas os grupos mais coesos, mais unidos possam galgar posições e irem dominando a sociedade, tal como um jogo de xadrez. É uma peça mas tentam nos convencer que não é.

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