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sábado, 10 de dezembro de 2016

Uma vida por aproximação ... Sem números, palavras (pasmem, e mesmo com eles)

''Estou neste momento'', enquanto redijo este texto, fazendo exercícios físicos, mais precisamente flexões. Eu contei que já fiz a quarta flexão, com 10 repetições cada (sim, eu sou fraco, e daí*). Sem os números e as palavras eu provavelmente teria deduzido por aproximação a quantidade de exercícios que fiz. Antes dos números e das palavras é provável que vivíamos em um mundo perceptivo que era entendido por aproximação, diga-se, possivelmente mais instintivo, sagaz, intuitivo, tal como acontece com todas as outras formas de vida. Mas menos preciso, mais bruto, do que como estamos por agora, isto é, ainda mais bruto.

Se eu não tivesse contado o número de repetições nem a quantidade de flexões eu o teria feito por aproximação ou "impressão numérica" ou mesmo teria me perdido na contagem

Quando olhamos, sentimos com o tato, escutamos, cheiramos,  enfim quando usamos os nossos sentidos, entendemos o mundo, em especial o abstrato, por aproximação, que pode ser facilmente traduzida como ''impressão'', claro, se formos comparar com a ''realidade'', porque na verdade, a compreensão pode se dar independente de ''nossas'' invenções, como o vocabulário e os números. A verdade objetiva ou concreta é o mundo dos sentidos, em que notamos, tomamos conhecimento da realidade de maneira inflexível e direta. Este é o nosso alcance perceptivo universal, que é mais equilibrado, mais holístico do que os das outras espécies e que nos faz a priore excepcionais na capacidade de encontrar causas e efeitos e agir de modo logicamente apropriado, a priore. Mas para entendermos o mundo e não apenas percebe-lo, o fazemos primeiramente por aproximação não-verbal, intuitiva.


 Uma espécie de lógica intuitiva primária (a lógica intuitiva se consiste na continuidade da tentativa de compreensão factual de uma realidade, que pode ser metaforicamente representada por uma tela parcialmente pintada. A lógica intuitiva se consistiria então na continuidade desta pintura, isto é, olhando para onde que está incompleto e prevendo/sentindo logicamente como que o desenho poderia continuar).

A concepção direta da realidade percebida pelos nossos sentidos ainda se fará com base em aproximação porque apesar de sabermos que a realidade existe, ao menos aquela que nossos sentidos captam, esta percepção não será idealmente precisa quando o fizermos a partir das abstrações. A evolução para o pensamento abstrato é muito provável que levou a invenção das culturas humanas. Como eu já falei outras vezes, o instinto humano é atrasado. Ao invés de agirmos de imediato tal como pseudo-autômatos e portanto hiper-sensíveis ou "impulsivos', como as outras espécies, nós podemos pensar e re-pensar (quantas vezes 'quisermos') antes de agirmos, supostamente, ainda que tal vantagem não costume se manifestar de maneira universal, constante e ideal. O instinto se consiste justamente no pensar/agir ao mesmo tempo. Penso/ logo ajo. Para o ser humano existe a possibilidade que é bastante variável a níveis individual e grupal, de se pensar de modo mais prolongado, podendo assim repensar ou consertar antes que a ação aconteça ou seja efetuada. Não é que nenhum outro animal não seja capaz de pensar reflexivamente. Novamente, o ser humano sendo uma continuidade das outras espécies, é apenas muito mais inteligente neste aspecto do que as outras e portanto isto quer deixar a entender que elas também exibem esta capacidade mas em níveis muito mais simples. A cultura humana é uma invenção que veio a calhar quando nos livramos parcialmente de nossos instintos. A cultura humana é uma reorganização potencialmente lógica do mundo perdido do instinto humano. Podemos dizer que somos muito mais lentos que as outras espécies, neste aspecto do pensar-para-agir, de tal maneira, que podemos repensar/refletir várias vezes, e ao longo da vida, entre uma ideia/pensamento e uma ação, o mundo humano foi construído.

Quando olhamos para as coisas deduzimos por aproximação intuitiva os seus tamanhos. Podemos mensura-las e prover uma maior precisão de julgamento. Números e palavras organizam pensamentos e que por sua vez organizam ações. Escrever ideias é uma maneira muito inteligente para se prever/mensurar/entender uma ação, separando-a de si mesmo, e como consequência do seu pensamento em relação ao seu comportamento.

Fazemos o mesmo em relação a tudo aquilo que percebemos antes da reflexão, mesmo sem palavras (ou linguagem) ou números ou mesmo já com esses dois instrumentos que são essenciais para qualquer cultura humana. O primeiro pensamento humano (e animal) nunca é verbal mas sensorial ou não-verbal.

Desde novo que eu percebo diferenças no comportamento das pessoas e em relação aos grupos em que elas naturalmente se encaixam. Todos nós desenvolvemos de maneira mais ou menos significativa este tipo de impressão e antes de fixarmos as nossas impressões, mantemos tal percepção factual enquanto uma aproximação da possível realidade, que será revelada pela experiência, por um rompante de atividade ideacional pré conclusiva, quando transformamos essas impressões em conhecimento bruto, ou por fim, pela fixação via técnica primordial reflexiva humana, ou seja, os símbolos para quantidade e para categoria, respectivamente números e letras/palavras. A impressão é uma percepção factual bruta, ou preconceito cognitivo, que pode ou não estar certo, e o mais provável é que seja ''por aproximação'', revelando um largo espectro de acertos, mas que não é preciso. A percepção factual dilapidada, se fará, novamente através de ''nossas'' invenções, linguagem, vocabulário e sistema(s) numérico(s).

A precisão parece algo complexo mas muitas vezes não será. Por exemplo, a precisão quanto a factual existência de diferenças fisiológicas e comportamentais entre grupos geográficos humanos. Podemos percebe-las em vários senão em todos os seus  aspectos mais visíveis ou sensíveis, isto é, que são sensorialmente capturáveis a olho nu, porque as linguagens numérica e categórica/verbal desde quando são aprendidas, passam a funcionar como filtros. Portanto antes de verbalizarmos qualquer realidade perceptível, complexa/plural ou simples/singular, ela já terá sido capturada por nossos sentidos. A lógica, em especial a de natureza abstrata, parece localizar-se nesta transferência coesa de informações em que as impressões apreendidas serão verbalizadas, por meio de categorias qualitativas/descritivas e numéricas/quantitativas. 

Percebemos contrastes, semelhanças, enfim padrões e os verbalizamos. Sem a linguagem é provável que continuaríamos compreendendo o mundo no mesmo nível básico em que estamos, visto que a meu ver foi a necessidade humana pela linguagem que possibilitou a sua emergência ou invenção e não o oposto,  porque seria obviamente impossível que a abstração por ser sempre fruto ou expressão da concretude, pudesse, enquanto uma entidade mágica, aparecer antes do seu criador. 

Todos os seres vivos sentem a realidade por meio de seus respectivos sistemas sensoriais e que é interpretada por seus sistemas mentais. Todos os seres vivos não-humanos compreendem o mundo por aproximação e de maneiras profundamente "tendenciosas", em termos abstratos, por serem muito mais instintivos e portanto por herdarem comportamentos pré-programados (muitos que já nascem muito mais desenvolvidos que os seres humanos) e que por causa do maior impulso vital ou instinto são "forçados' a agirem e a reagirem quase sempre de modo mais imperativo e menos reflexivo. 

Em tese o ser humano seria muito mais reflexivo que as outras formas de vida mas esta vantagem não parece esplendorosamente notável a ponto de funcionar de modo perfeccionista para a própria humanidade porque tende a resultar na "complexidade" da subjetividade humana mas que também pode ser entendida parcialmente como uma confusão de se tentar adivinhar o mundo abstrato (ecos ou expressões que emanam da concretude) por aproximação. Justamente porque estamos no início da compreensão da verdade ''subjetiva' ou abstrata que regredimos ao estado da percepção [abstrata] por aproximação, em que tomamos a metade como se fosse toda a verdade, como se fosse o inteiro, por aproximação, onde que, ao invés de pensarmos naturalmente como fazemos sobre a concretude onde que 1=1(banana = banana) nós tenderemos a pensar a partir do mundo abstrato em que 1= 1,3-1,4-0,9-0,6.... As religiões oficiais funcionam desta maneira em que por aproximação cria-se um longo espectro de princípios e factoides [sempre] vagos, entre o fato e o errado, onde vivem os factoides, alimentando a ignorância sempre pulsante do ser humano com base em suas quase, meias-verdades e mentiras fantasiosas que apelam para a emoção.


Estes vácuos que a compreensão por aproximação provoca costumam ser férteis para a complexidade ou confusão humana e debilmente falando, para o uso indevido ou egoísta desta fraqueza por grupos imorais.

A maioria das culturas humanas principalmente em seus aspectos culturais mais puros são basicamente a tomada de um achismo por aproximação enquanto uma verdade exponencialmente perfeccionista. Aquilo que invariavelmente faz ou pode fazer sentido, mas que não é definitivamente factual.


A precisão simples é o reconhecimento bruto da realidade de acordo com cada alcance perceptivo basal ou simples de cada espécie. O alcance perceptivo basal ou simples do ser humano lhe propicia reconhecer a verdade objetiva, concreta, imediata ou reconhecimento bruto da realidade da maneira mais equilibrada, mais holística via percepção sensorial + interpretação cerebral. O ser humano pode mensurar com melhor aproximação ou probabilidades de acertos,  o peso, a coloração, a textura, enfim as características das coisas ou existências, não apenas por causa de seu cérebro mais avantajado mas pode ser também por ter uma estatura média bastante ponderada e muito adequada para este tipo de percepção. Se fosse tão grande quanto um dinossauro de porte tiranossáurico o ser humano talvez apresentasse uma percepção simples ou aquela captura da verdade objetiva se faria mais mais distorcida. Da mesma maneira que o oposto também é verdade, por exemplo no caso das formigas, em que a escala geo-biológica será muito menor.  Ser intermediário tem muitas vantagens porque muitas vezes se poderá compreender melhor de maneira holística e mais ponderada a realidade imediata em que se vive. Mas sem o seu cérebro prodigioso mesmo uma estatura ponderada é provável que não seria suficiente. Apesar disso continua fazendo toda a diferença não ter o tamanho de dinossauro gigantesco, muito menos de uma formiga. 

Portanto reconhecemos por exemplo uma pedra, sua textura, seu tamanho, sua coloração, sua dureza, e isto é uma nano-parte da verdade objetiva. Do mesmo modo podemos reconhecer os contrastes físicos entre as diferentes identidades biológicas do ser humano. 

Quando deixamos este mundo direto, constante, inescapável mesmo em nossos sonhos, e partimos em direção a um mundo além do imediatismo da concretude, da existência bruta, existência por si mesma, chegamos à uma realidade que se faz não-verbalmente por associação e por aproximação ou impressão. Já conseguimos fixar com grande precisão a realidade objetiva, mas ainda estamos engatinhando em relação à verdade/realidade subjetiva. Este é o principio do mundo abstrato e todas as formas de vida parecem capturar ao menos algum fiapo deste mundo por seus sistemas perceptivos/vitais. E é claro que o ser humano é o único com grande desenvolvimento desta percepção abstrata.

Além da pedra ou das populações humanas e que no segundo caso já apresentará um caráter acumulativo ou plural, e portanto menos imediatista e mais -especulativo a corretamente conclusivo-, nós podemos olhar para as mesmas de modo desapaixonado, isto é, sem intencionalidade instintiva.

O ser humano pode se interessar pela pedra sem ter qualquer utilidade prática. No entanto por causa do instinto predominantemente sempre aceso, a maioria das espécies não- humanas quase sempre se relacionarão com a realidade e as peças que a compõe com finalidades restritamente utilitárias ou ego-cêntricas.

O simples ato de conhecer muitas vezes começará pelo completo desinteresse utilitário. Isto é, conhece-se pelo prazer de se conhecer, pelo valor em si mesmo. O conhecimento verdadeiro é a finalidade do conhecimento. No reino não-humano o conhecimento muitas vezes antecederá  à utilidade vital ou de sobrevivência. Isto é, será especialmente um meio para uma finalidade. Os fins justificam os meios para a maior parte dos animais não-humanos... e humanos. 

Como eu já falei antes, pra muitos criativos especialmente os mais sábios o conhecimento tende a ser entendido como a sua finalidade por si mesma, isto é, aprende-se pelo simples gosto de se aprender.

Portanto os animais tendem a analisar o mundo de modo mais separado ou hiper-concentrado, direcionado por seu instinto, sem encontrar ou mesmo buscar por uma portentosa e crescente quantidade de causas e efeitos ou inter-relações dos mais variados temas, do ''chão ao firmamento''. Percebam que o ser humano comum também tende a perceber o mundo mais ou menos desta maneira e quando tenta abstratizar um pouco mais, a sua percepção muitas vezes terminará generalizando, isto é, ao tentar encontrar causas e efeitos, caíra na velha falácia "causalidade = correlação", uma extensão percepção para uma pluralidade de perspectivas/temas que a maioria das outras formas de vida não são capazes de fixar atenção de longo prazo.

A expansão da precisão simples de modo correto que tem natureza acumulativa se consiste na evolução da percepção geralmente dissociada ou separada da realidade, a vendo cada vez mais como ela é, apenas do jeito como ela é. As abstrações são os padrões ou expressões de funcionamento dos organismos, da realidade por si mesma. Por exemplo. Ao vermos um balão colorido no céu estamos capturando a sua existência concreta. A abstração começa pela curiosidade quase que irresistível ou ao menos pela capacidade de se entender que, para cada comportamento há um mecanismo subjacente e possivelmente escondido ou sistema de padrões invariavelmente repetitivos, bem como também as suas expressões [das formas] ou, os seus comportamentos. A abstração é um novo mundo abstrato onde que o tempo e sua implacabilidade podem ser vencidas mesmo que por período curto porque desta maneira podemos voltar ao passado, claro que em sentido figurado, imaginar o futuro, voltar um pouco no passado recente, analisar as coisas de modo separado e depois pluri-relacionado, isto é, reintegrando-os. Enfim podemos aumentar a quantidade dos nossos olhares em relação ao mundo que vivenciamos, além de nossas fronteiras egocêntricas ou utilitárias.


Pelo instinto sabe-se mais sobre si mesmo, ainda que a um nível primário (primitivo), e pouco sobre a realidade circundante e suas múltiplas perspectivas. Sabe-se mais sobre o efeito, ou o comportamento, do que a causa de si mesmo. Sabe-se o que ''tem'' que fazer, mas não o porquê.

Por meio de uma descentralização ou redução do instinto, do EU primário, começa-se gradualmente a ampliar os horizontes perceptivos enquanto que um extremo de docilidade ou domesticação cortará as vantagens instintivas que chegam ao seu ápice de funcionalidade, ao menos ou especialmente ao nível ideacional, a partir daquilo que denominei como ''zona habitável da sabedoria'', o meio caminho entre instinto e docilidade/domesticação.

Portanto como conclusão deste texto, sem números, palavras, mas especialmente sem linguagem, compreenderemos o mundo de modo não-verbal e por aproximação, enquanto que a junção do símbolo com o ''ser'', a existência ou coisa, a partir do seu ''aprendizado'', geralmente veloz, a partir da língua ''materna'', parece funcionar como uma maneira de evidenciar por nós mesmos via ''memória verbal/ambiental'' de modo mais saliente os contrastes e similaridades que perfazem a realidade. Os símbolos abstratos inventados pelo ser humano lhe dão, a priore, maior precisão, ainda que possamos compreender intuitivamente, ''sem saber'', em relação a uma série de realidades, sem a necessidade do método científico, de necessariamente ter que provar a existência de algo.

Sem a voz interna recobrando as palavras e números memorizados desde ou especialmente a partir da primeira infância, continuaríamos entendendo o mundo no mesmo nível perceptivo em que estamos, mas sem a simbiose simbólico-mental que se consistem as palavras ''e'' os números, que no final também são palavras, símbolos-de-símbolos, novamente o velho exemplo que sempre gosto de usar, reconheceríamos as características que definem uma vaca, apenas por olhar, sentir, cheirar e gravar na memória. Pode ser possível que sem a linguagem, ''poderíamos'' ter criado outros meios, não para memorizar a associação e como consequência reconhecer certa coisa ou particularidade, mas para fixa-la e reconhece-la de outro modo. Quem sabe* Também existem as diferenças individuais de autoconsciência* Sem a cultura humana do jeito que é, como que agiríamos ou perceberíamos o mundo* O gato ou o cachorro sabe que uma vaca é de fato uma vaca* ou que,  por aproximação, podem ''apenas'' reconhece-la de maneira aproximada** (e sem muito interesse, como quando alguém tenta nos ensinar algo e conseguimos entender um pouco, mas sem ter qualquer interesse que inflame este desejo pelo aprofundamento pra esta tentativa de aprendizado/internalização factual) 

Os primatas mais próximos do ser humano sabem que uma vaca é uma vaca do jeito que nós sabemos*

Eu não acredito totalmente que sem a linguagem ''não seríamos humanos'', pois humanos nós já somos, com ou sem cultura ou linguagem.

E sem contato social humano**

Os primeiros hominídeos é muito provável que se comportavam similarmente aos outros primatas, mais primários... 

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