Entre a narrativa e o mundo real
A bússola para o mundo abstrato é o mundo concreto, de onde se origina...
Quanto mais abstrato for o fenômeno, mais analogias em relação ao mundo concreto devem ser feitas, para que possa ser progressivamente compreendido. A interpretação precisa ''casar'' com a realidade, isto é, de se consistir em um espelhamento exponencialmente perfeito.
Eu desenvolvi dois conceitos em relação à verdade. A verdade objetiva e a verdade subjetiva. Eu disse que a verdade objetiva se consiste na realidade imediata, aquilo que os seus sentidos estão captando e o seu cérebro está identificando. A verdade objetiva é composta por fatos concretos, por coisas ou existências. É a narrativa onisciente da super-lógica. Aqueles que sofrem com esquizofrenia são mais afetados justamente nesta verdade onisciente, extremamente necessária. A realidade que o ser humano pode entender se estende além do mundo concreto e imediato. Não é que os outros animais não possam fazê-lo. O que sempre nos diferencia é a que grau que nos encontramos em relação a eles neste aspecto ou característica.
O ser humano exibe capacidade perceptiva mais equilibrada de todos os organismos terráqueos, isto é, para perceber a verdade objetiva ou concreta e em partes explica o porquê de sermos menos ''savant'' do que os demais animais que tendem a nascer espetacularmente adaptados, pelo fato de nascerem praticamente prontos, aprendem fácil as suas técnicas de autoconservação ou sobrevivência e que, se comparadas com as nossas, olharão muito mais ''geniais''. Por causa deste maior equilíbrio perceptivo em relação ao mundo concreto ou verdade objetiva que o ser humano pode perceber abstrações e ou também construí-las. Todas as abstrações tem as suas origens na verdade objetiva e se consistem por sua vez na verdade subjetiva. O termo subjetivo se adere a esta realidade, por agora, exclusivamente humana, porque não é possível perceber todas as abstrações primeiro porque se consiste em um mundo a ser desbravado sem qualquer garantia de tempo de validade perceptiva, isto é, o seu potencial pode ser "infinito". Segundo que por causa da especialização cognitiva dos seres humanos em diferentes grupos perceptivos (perspectiva existencial), nós não podemos perceber as abstrações que se encontram fora de nosso alcance perceptivo abstrato, que geralmente será assimetricamente específico, seja porque são muito difíceis de serem percebidas ou ainda a serem descobertas, ou, por causa de suas próprias naturezas, por exemplo, as abstrações que um matemático pode perceber subconscientemente e aprender subsequentemente, e em relação à própria matemática, pode não ser igualmente percebida/apreendida por um poeta com déficit neste aspecto.
A priore somos mais holísticos para perceber a verdade objetiva e [também] por isso que nos diferenciamos dos outros animais. Mas nos tornamos novamente assimétricos quando passamos a tentar entender a verdade subjetiva e por isso que merece este adjetivo. Em outras palavras, voltamos a agir parecido com as outras formas de vida ao percebermos a realidade abstrata ou verdade subjetiva de maneira muito mais específica ou assimetricamente percebida, tal como as outras formas de vida fazem só que em relação à realidade imediata/concreta ou verdade objetiva. Pra eles, a nossa realidade objetiva, será subjetiva.
A prisão abstrata, termo que cunhei no velho blogue, se consistiria justamente numa constância perceptiva excessivamente ambígua ou predominantemente ilógica da verdade subjetiva [como o esquerdismo, mas que tem as suas origens justamente no tipo de pensamento neuro-mecânico/ ilogicamente esparsado que é predominante nos indivíduos que estão mais vulneráveis para aderirem à essas psicoses políticas]. A prisão abstrata é o produto de um viés ou ênfase cultural/parcialmente perceptiva que encontra-se excessivamente abstrata, isto é, que despreza a necessidade de uma integridade e de uma dinâmica interacional coerente entre as abstrações e as concretudes, entre a verdade subjetiva e a verdade objetiva, basicamente, a associação analiticamente perfeccionista/completa entre os eventos que acontecem no mundo real e que precisam ser compreendidos a partir das abstrações, por exemplo, as correlações de comportamentos e grupos. Voltamos ao estado de incompletos quando tentamos entender e a interagir em especial em relação à verdade subjetiva. Por ''tomarmos'' a parcialidade de nossas percepções enquanto totalidades acreditamos que podemos impor nossas respectivas perspectivas existenciais sobre os demais. Não é toda perspectiva existencial que será parcial ou incompleta e a sabedoria se consiste justamente neste exercício de se completar todo o quebra-cabeças da realidade ou ao menos de dar o máximo nesta empreitada transcendental.
A compreensão factual também pode ser entendida como a relação continuamente coerente ou lógica e fundamentalmente honesta entre o conceito e a prática, basicamente a precisão semântica só que aplicada a um contexto menos descritivo e mais prático. O conceito deve se expressar em sua prática, a minha ideia filosófica, ou melhor, fenomenológica, da forma e da expressão, em que a expressão se consiste em uma espécie de holograma espectral ou limitadamente diverso e lógico/coerente de sua forma, regredindo até ao comportamento dos objetos inanimados. O que nos diferencia em relação aos objetos inanimados é que somos seres/existências-de-ação, isto é, a ação nos define de maneira fundamental, que eu denominei de ''vício essencial'', o vício/hábito de viver [ o único vício/hábito que existe], porque os nossos comportamentos são auto-induzidos e mais expressivamente diversos do que apenas bruta ação e reação.
Quando deixamos de checar/associar/relacionar com o mundo real, ou melhor, hiper-real, direto, objetivo, concreto, àquilo que estudamos em relação ao mundo abstrato, nos personificaremos naqueles ''pensadores'' que discutem o sexo dos anjos de dentro de universidades seguras, se vangloriando por suas verborragias sofisticadas sem qualquer finalidade filosófica, confundindo literatura e elitismo com filosofia.
Se o establishment vai triturar com carinho as muitas verdades subjetivas [disponíveis/discretamente reconhecíveis] e dar-lhes diariamente em suas bocas via meios de comunicação, eu não sei, muito provavelmente não [se na realidade, de fato, não está acontecendo, pelo contrário...]. Mas um verdadeiro pensador, de raiz filosófica, não vai esperar como um ''bovino'' que, simplesmente, lhes deem a verdade como ela é, em toda a sua integridade, e em especial os seus nacos mais importantes, que estão diretamente relacionados a vocês, pois ele a buscará por si próprio.
Associamos com facilidade a pedra com o seu significado e as suas características. Quando tem uma chuva de pedras de gelo, já estaremos lidando com mais associações para serem estudadas/analisadas. Quando estamos lidando com uma cascata de comportamentos sub-coletivos, por exemplo, a maior criminalidade de um grupo em relação aos demais, precisaremos de mais referências com o mundo real, que vivenciamos, e que graças à estatísticas maciças ''nos ajuda'', para quem consegue compreendê-las minimamente, a entender esta sobreposição de fenômenos concretos e abstratos.
Parece inacreditável que ainda tenhamos que ensinar o básico do pensar lógico, potencialmente racional, às pessoas, se já nos parece tão fácil de entendê-lo e ainda com aquela quase-certeza de que a maioria não irá de fato aprender, nem sequer apreender, porque isso se traduziria em uma constância auto-motivada e inteligente. As pessoas em sua maioria são muito mais propensas a seguir, ao invés de compreenderem por si mesmas os caminhos das pedras, seguem aqueles que os desbravam pioneiramente.
Portanto a expansão do reconhecimento da realidade a partir das abstrações, precisa com grande urgência ou imprescindibilidade se regredir ao mundo concreto, do contrário, cairá na prisão abstrata, fenômeno que afeta a boa parte dos esquerdistas ocidentais pós-modernos.
Para perceber o mundo concreto, estamos essencialmente holísticos e portanto equilibrados. Mas como a verdade subjetiva não tem limite de expansão e não estamos adaptados a ela ou a maior parte, então estaremos fatalmente unilaterais [semelhantes aos animais não-humanos ao interpretarem/interagirem de maneira assimétrica/unilateral o mundo concreto], e o pensador sábio se segurará nas certezas simples e imediatas do mundo concreto assim como também em seu mundo particular [perspectiva existencial] para que possa navegar pelo mundo abstrato e em especial o que estiver diretamente relacionado com as nossas vivências/experiências pessoais, isto é, obedecendo à coerência de continuidade perceptiva entre o mundo concreto e o abstrato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário