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sábado, 20 de fevereiro de 2016

Tornando útil a propensão a fantasia



"Um país chamado desejo"

Eu já comentei algumas vezes sobre o meu tio materno e sobre ele ser um mentiroso patológico. Falei brevemente sobre as mentiras fantasiosas que ele inventa e que tenta sagazmente forçar minha família e eu, de lambuja, a acreditar. 

Pois bem, esta relativa tendência para inventar, viver, acreditar em fantasias também está presente em mim mas de maneira adaptável, isto é, ao invés de arrumar problemas pra mim, esta disposição se tornou uma aliada para me ajudar a aguentar o mundo absurdamente estupido em que vivo ( em que vivemos).

E uma das maneiras mais interessantes para tornar útil aquilo que poderia ser apenas mais uma dor de cabeça foi a de inventar países em que todas as minhas ideias de mundo perfeito pudessem ser aplicadas. Das muitas obsessões que tenho, esta é com certeza uma das que, também, mais me ajuda a aguentar a vivacidade de minha mente enquanto uma híbrida de associações difusas a la esquizofrenia e apreço estético a detalhes específicos a la autismo. 

Semelhante a utilidade de um saco de pancadas para reduzir a ansiedade, a invenção e construção subsequente que possa dar sustentação a este devaneio controlado parece estar funcionando muito bem enquanto uma maneira de dispersar todas as minhas frustrações especialmente em relação a realidade coletiva produzida pelo ser humano, exponencialmente destrutiva e categoricamente idiota. 

Meu país, uma cidade-estado ao lado de Trinidad e Tobago, perto de Maracaibo, tropical, modernamente reluzente como Cingapura, progressista como San Francisco, filosófica como a Atenas de Sócrates, alegre, artística, sisuda e elegante como a uma tal Paris, salva-me do tédio que a vida propicia a todos os seus navegantes  e ao ódio de vivenciar o predomínio asfixiante da estupidez humana e pouco poder fazer ao menos por agora.  

Tem "males" que vem pra bem. A imaginação e engenhosidade tagarela do meu tio veio-me via hereditariedade indireta, manifestar-se em mim de maneira mais branda, e eu diria, mais controlada também. Como resultado posso colocar as minhas asas imaginárias para socorrer-me primeiramente de mim mesmo, mas com certeza também do mundo ignóbil do qual eu sou forçado a vivenciar.


O que em meu tio resulta em devaneios sofisticadamente construídos, pra mim, em doses mais parcimoniosas, resulta em uma janela de oportunidade para que possa trabalhar com o meu auto-controle.

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