Quando vemos uma "coisa" nós tomamos conhecimento sobre a existência desta coisa, especialmente se for parte da verdade objetiva/concreta. No entanto sem as palavras é provável que memorizaríamos 'apenas'' as impressões ou memórias não-verbais, porque primeiramente assim o fazemos, memorizamos, ou seria melhor, internalizamos impressões corretas e/ou vagas da realidade que nos rodeia sem símbolos associativos ou palavras.
As palavras funcionam como identificações associativas (cavalo= aquele animal) primariamente reflexivas dessas impressões não-verbais. Isto é, identificam as "coisas" por associação e ainda refletem a impressão de onde se originaram (impressão: Reconhecimento de um certo animal. Palavra: Este animal=cavalo).
Vemos que o cavalo é um cavalo, e a palavra [parece que] nos ajuda a fixar esta impressão aguda que o nosso sistema sensorial é capaz de construir, diga-se, de maneira bastante equilibrada, se formos comparados às outras formas de vida. Percebam que os outros animais também são capazes de reconhecer as características de um cavalo, incluindo o próprio cavalo, mas como são impressões (reconhecimento não refletido ou lógico-diretamente percebido) ou que não são importantes para as suas diretrizes evolutivas de espécie, então esta compreensão factual primária será superficial. No entanto os animais, dentre outras formas de vida, ainda são capazes de desenvolver um conhecimento mais amplo sobre os seus predadores, presas ou qualquer outro ser que esteja em constante contato, em especial se conseguirem desenvolver armas ou adaptações biológicas em relação às suas investidas instintivas predatórias, parasitárias, mutualistas ou cooperativas .
No entanto tal reconhecimento não se aproxima daquele que o ser humano é capaz de produzir, mesmo o ser humano menos inteligente, mediante o seu grau extremamente elevado de sofisticação balanceadamente perceptiva [em relação à verdade objetiva ou concretude imediata], porque ao invés de ser compreendido por associação é provável que se dará de modo "complementaridade co-evolutiva" [ a ''metade'' da laranja, ;) ], isto é, de se consistir em uma sobreposição de características de duas ou mais espécies que evoluíram conjuntamente, resultando na cadeia alimentar, por exemplo de sinais sensoriais primários (evoluídos) direcionando-os para as suas presas ou fugindo do seu predador mais comum (a mesma relação de conexão que pode existir entre mães e filhos).
Por causa de nossa "bússola" perceptiva mais equilibrada e especialmente em relação ao reconhecimento da verdade primária ou objetiva, podemos reconhecer e internalizar com maior requinte de detalhes as concretudes ou existências não-abstratas.
Provavelmente os cérebros das outras espécies encontrar-se-ão significativamente atrelados às diretrizes evolutivas das mesmas cabendo pouco espaço para a internalização de 'superfluidades".
Nós somos talvez os únicos que podemos internalizar superfluidades e mesmo ao ponto de as considerarmos mais relevantes que as prioridades fundamentais. A maioria das outras formas de vida é provável que nunca internalizarão qualquer superfluidade, porque seria perda de tempo e perigoso pra elas.
A evolução da inteligência humana é provável de ter tido como efeito colateral essa nossa capacidade de internalizar (e fixar via linguagem) impressões díspares em termos de utilidade evolutiva e este excesso pode ter contribuído tanto para a canalização potencialmente equivocada do pensamento abstrato como as já alardeadas superfluidades ( por exemplo frivolidades oriundas de ''religião'', ''cultura'' ou ''ideologia''), assim como também a ''querida'' criatividade.
O que veio primeiro a linguagem ou a aptidão para se adquiri-la??
Como eu penso, a linguagem é uma abstração, obviamente em uma não-coisa literal. Nós é que, como os seus "deuses", lhe demos vida por necessidade psico-cognitiva. Isto é, ''evoluímos'' sem a linguagem até certo ponto da pré história em que nossos cérebros adquiriram a avançada capacidade de reconhecer de maneira mais profunda e equilibrada a realidade ou parte fundamental da mesma.
Portanto a linguagem foi um produto genial de todas as populações humanas em que houve a emergente necessidade de sofisticação dos grunhidos que nossos antepassados pré históricos usavam para se comunicar. Tal como a roda ou o domínio do fogo. Primeiro aconteceu o aumento cerebral significativo e complementar sofisticação neurológica. Depois surgiu a necessidade de organizar os pensamentos cada vez mais sofisticados e sinais corporais ou grunhidos já não davam conta do recado. Interessante notar que todas as populações humanas de todos os continentes parece que tenham evoluído de maneira independente, para mais ou para menos, em direção a esta capacidade ou aptidão, desenvolvendo estratégias para sanar esta crescente demanda pela sofisticação eficiente na comunicação social e no reconhecimento da realidade percebida e interagida. Tal como aquelas pessoas de hoje em dia que são mudas, se esforçando muitas vezes de maneira exagerada para se comunicarem, evoluímos de grunhidos e sinais corporais ou comunicação não-verbal para a linguagem verbal que com certeza tornou a comunicação muito mais eficiente. A necessidade é a alma da criatividade.
Seguimos o subconsciente porque ele predomina em nós. O consciente, provavelmente um produto das áreas mais recentes de nossos cérebros, ainda está dando os seus primeiros passos evolutivos, rastejando diante da eficiência brilhante de nosso subconsciente, que evoluiu juntamente com as neo-sofisticações "culturais" como a linguagem. De acordo com o espectro do inconsciente ao consciente, a maioria dos animais são predominantemente "inconscientes", isto é, a possibilidade de se reconhecerem de modo significativo, simulando-se de fora do seus corpos, de suas identidades existenciais, metaforicamente falando, como se pedissem uma segunda opinião sobre si mesmos, o princípio da consciência, é muito pouco provável de acontecer.
Eles sabem aguda e "cegamente' quem eles são. Mas não há auto- reflexão para pensar em melhorar a si mesmos. Eles reconhecem as suas características por meio da essencial "clausura natural" e partem para a vida. Estão jogados à própria sorte. Mas muitos seres humanos também estão se as sociedades que "construímos" nada mais são do que réplicas pedantemente sofisticadas e parcialmente apaziguadas do cenário de cadeia alimentar que predomina no meio natural.
Quão dependente da palavra está o pensamento reflexivo?? Maior inteligência verbal maior autoconsciência??
Como falei acima as palavras fixam nossas impressões ou memórias não-verbais internalizadas transformando-as em "coisas" (palavras). Quando desejamos recobrar algo nós utilizamos as palavras intrincadas ou associadas às memórias não-verbais (memória por si mesma) que também podem ser recobradas via voz interior. Eu sou parcialmente desconfiado quanto ao grau de dependência do pensamento reflexivo humano em relação à linguagem. Se a necessidade veio primeiro, e parece óbvio que sim, então eu acredito que, mesmo sem a presença de uma linguagem o pensamento reflexivo continuaria existindo. É provável no entanto que se daria de modo mais desordenado se sem essas "coisas" ou associações simbólicas, internalizaríamos"impressões" ou memórias não-verbais e vendo como que o ser humano moderno encontra-se dependente e ou confiante nas palavras de fato haveria reflexão mesmo sem a linguagem ordenada, mas provavelmente seria menos eficiente ainda que mesmo com as mesmas, a maioria, senão a grande maioria de nós, permanece menos sábio no seu uso mais racional, por causa da pontual e muitas vezes decisiva influência de nosso subconsciente, produto que é paralelo à emergência da autoconsciência incompleta, predominante entre os humanos.
O pensar racional é o pensar eficiente, isto é, ser factualmente entendível, capturando logo de início o bojo correto da realidade que estiver sendo percebida, sem filtros culturais que quase sempre são problemáticos, mas também constante e muitas vezes, paradoxalmente falando, mais lento, se a reflexão por si mesma já será um processo mais lento do que o pensar instintivo, isto é, pensamento/ação.
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