Antes do vento,
Da penumbra,
Da luz,
Do reflexo,
Dos transtornos do universo,
Dos raios de Deus a se espalharem como lava
A matéria e dentro o seu corpo-espaço
E sua força expansiva, o tempo
A inércia absoluta dominava
A dualidade era una
Não existiam contrastes nem forças
Tudo era perfeito
Desde o nada
Elementos existiam
Não se mesclavam
Tudo em seu devido lugar
Como um arco iris perfeito
Como uma prateleira organizada
em ordem alfabética
Gradual e sem qualquer conflito
Não era essa doença a dualidade
E quando a perfeição se quebrou
A unidade se eletrizou
E explodiu um câncer
e outras constelações
Elementos díspares se uniram
E a existência nasceu
E existe apenas por saber
Que é um problema a se resolver
A onda de estrelas e imensidão,
em todos os lados invadiu,
invade,
e continua com o seu caminho,
até perder força,
e por que não voltar*
pois quer de novo aquele calor,
daquele primevo pecado,
do primeiro desastre,
antes do vento,
assoprava a não-existência,
de uma paixão primeva,
e nasceu de si mesma,
num primeiro masturbar,
e o vento continua uivando,
uivos do primeiro amor,
do primeiro erro,
e sua força é a sua teimosia,
e o destino, pra quem se queixa,
é a tristeza,
a dor leve de uma melancolia,
e imaginar,
quando saberá,
quando finalmente saberá...
Quanta pressa
Onde vai Lua
Com tanta pressa!
Me espere linda que eu quero ir junto
Meu maior sonho é viver num céu bonito
Nesta noite iluminada por ti
Se esconde nas nuvens escuras
Não seja tímida
Você é uma rainha
Me mostre pra onde está indo
Tem tanta pressa!!
Parece andar tanto
mas também parece que está sempre no mesmo lugar
Eu confesso minha linda Lua
Estamos todos assim como você
Corremos tanto e no final
Também não saímos do lugar
também temos faces ocultas
deixamos apenas um lado amostra
ao combate ou à sorte
como ao seio da justiça
com o seu olhar incompleto
se não somos todos assim minha Lua querida
incompletos
Então, realize o meu desejo
Me leve deste chão imundo
Vamos fugir deste compromisso
Eu quero toda liberdade
Porque a vida é mesmo uma prisão
você sabe
Mas para querer eu preciso ser
O que eu serei quando deixar de ser?
Qual será o meu adjetivo?
Você também é pequenina não é minha Lua??
Também está sendo esmagada
pelo imenso silencioso
Quanta pressa, me espere
Eu quero me confessar
A vida é muito boa mesmo apesar de tudo
Eu encontrei a minha paz sabe
Ela estava bem aqui dentro de mim
Nós aqui de baixo somos assim
Procuramos aquilo que perdemos
De mais precioso
Mas nos esquecemos
Que está sempre no mesmo lugar
Dentro de nós
Corremos pra nos encontrarmos
Mas estamos sempre no mesmo lugar
Em nós mesmos
Eu não tenho pressa Lua
Deixo a vida ter por mim
A minha preguiça é tanta que eu vou embora
boa noite Lua querida
fique com Deus
que eu também estarei com ele aqui
do meu lado
em mim
em todo lugar
em cada canto
em cada espaço
Tímida tormenta da noite
O baile de nuvens que se confunde com o céu limpo
No limbo de fuligem
Do humano em seu absinto
Em meus olhos que miram o céu
Com mil perguntas sem conceitos
Mesmo sem interrogações
Encaro o teto que nunca cai
Nos protege e se sobressai
Aglomeram as nuvens que se apoderam do salão
Com os seus vestidos pomposos e seus robustos grilhões, delineando a cintura, encolhendo a barriga,
Numa valsa lenta, contam os espaços vazios
em passos tímidos, calculados
evitam toques e tropeços sem intenção
Parecem arquipélagos em algodão
Uma singela e silenciosa tormenta
Que escutamos pelo nariz
O seu vento cheiroso fala mais que damas e benzendeiras,
derrama todo o charme da vida
Que na verdade da noite
Se revela livre bailando acima
desta escuridão
desta tormenta calma
Na noite eu converso com Deus
Vejo o céu escuro
Ele revela a verdade da luz
Na noite em que eu converso com Deus
Vejo a beleza e me entrego no silêncio
Doce e solitário da noite
Eu contemplo a vida
E a compreendo num aprofundar...
Sentir-se com em conexão com o todo
O toque em mim,
o puro sentir
que é o puro existir
Na melancolia, num expirar mais pesado
Porém muito sincero
De me emocionar sério
De ouvir o ventinho da noite
Dominar o meu corpo e constatar
A mais óbvia e cristalina verdade
Eu estou vivo
Eu vivo
Eu amo viver
Apesar de tudo
Eu converso com Deus apenas pelo olhar
Lembro muitas vezes de amores que se foram
Se nesta estação estamos todos
Esperando o próximo trem
Eu acompanho a noite até sua casa
Me apresso à cama
Aos sonhos estranhos
Eu me conecto com o universo
Quando em mim adentro
Partindo mares profundos
num nado abstrato e cego
Buscando por minha alma
Por meu contato mais próximo com Deus
Com tudo e com o todo
Somos herdeiros desta primeira chama
Deste primeiro transtorno
Da onisciência de Deus, o primeiro faiscar de fogo,
Da existência e de seus filhos espelhos
A vida em sua centelha
em seu breve respirar
O céu olha pra mim
Eu retribuo gentilmente
E por dentro choro,
se a melancolia não é assim mesmo
A cascata do espírito
Serena inquietude
Depois de uma longa caminhada
Que Encontra o destino final
A serena sabedoria
Nas montanhas mais escondidas
Mais altivas
E digo a Deus pelo olhar
Que eu estou aqui
Que eu estou lhe vendo, o verdadeiro
E lhe pergunto ate quando
O que é o quando
O que é
E por que é
Porquês são sempre importantes
As falsas esperanças
e seus santos de barro
que sempre se esquecem deles
O verdadeiro contato
Não tem medos
Tem anseios mas também calma
Que um dia talvez todos nós saberemos
Valentes e pequenos
O broto da existência saberá tudo
o que mais importa quando se desbotar
Quando se entregar, por fim
sem demora ao espaço e tempo
E voltar a ser parte do todo
deixando de ser aparte
voltando a ser sensações puras
deste mistério orgulhoso e grave
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