Minha lista de blogs

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Eu escrevo... mas não gosto de ler

Espantam-me essas pessoas que conseguem ler livros de mais de cinquenta páginas em dois, três ou quatro dias. Eu não consigo. Para um livro médio, eu costumo demorar no mínimo duas semanas. A explicação é bem simples, eu não gosto de ler. Eu adoro sentir, perceber, gosto quanto tenho ideias, mas não gosto de ler, nunca gostei e pelo parece nunca vou gostar, parece ser genético, algo no meu sangue. É preciso entrar no ritmo do texto e quanto mais rebuscado mais complicado. Engraçado isso não* Eu escrevo desta maneira, isto é, pretensiosamente rebuscado, e que no final mais parece uma verborragia do que uma sofisticação exaltada. E detesto ler os meus textos, a maioria deles. São tão mal escritos, eu tento de todas as maneiras explicar, tim por tim, algumas vezes me perco até nisso. Os melhores textos são como poesias sem rimas, são lindos, fluidos, como uma vida feliz, na santa ignorância ou em uma pérfida sabedoria. Começa-se a escrever e as palavras vão aparecendo, quase que se convidando para darem o ar de suas graças. No entanto, os seus significados, suas sugestionabilidades, vão todos sendo deixados de lado, porque costumamos cair em uma dicotomia muito comum, ou a beleza ou a atenção aos detalhes semânticos. Ou você seduz e conquista o leitor com aforismos perfilados e acumulados compondo um texto degustável porém potencialmente vago ou você o faz parar muitas vezes, em muitos quebra-molas, para entender e se possível reler para ver se conseguiu entender melhor. Os textos emulam a alegria na vida, isto é, a fluidez. Quando teimamos em não seguir qualquer ritmo, costumamos sofrer com isso, por causa disso. E no entanto, deixar-se ao relento, deixar-se, pura e simplesmente, tem sido uma das principais causas de todos os sofrimentos humanos, seja na vida pessoal ou comunitária. Este transe, que cunhamos de alegria e mais alargadamente como felicidade, muitas vezes nos faz deixar de lado a precisão de nossas ações, e como resultado, agimos mais livres, ainda que tal liberdade facilmente possa ser traduzida em libertinagem e portanto irresponsabilidade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário