A verdade não é como Peters ou Mercator,
não é como um mapa medieval,
ou a de um império do meio,
não é como o mapa do tesouro,
a verdade é a verdade e nada mais,
as coisas só precisam de si mesmas,
para que possam ser sinceras,
e coesas,
A distorção da realidade começa,
e a pobre ponderação,
que se despreza,
ou a terra verde é maior que o mundo,
ou numa cidade do sul, onde cabe tudo,
ou,
mas a verdade não é apenas um lado,
a verdade é o todo,
e quem a persegue,
busca por Deus,
pelo fator g da vida,
por cada ponto da existência,
deseja a harmonia,
quer a precisão de linhas finas,
costas, rios e cordilheiras,
e não uns rabiscos coloridos,
e um falso santo rezando e rico,
adornado com cruzes e brilhos
Almadiçoa
alma dita,
bem ou mal vista,
bem sentir, vive-se n'alma,
nau em alto mar,
nadando prum horizonte infinito,
assim ser a vida,
se será Serafina,
se amaldiçoa,
ou se n'alma,
almadiçoa assim,
oh menina,
oh alma,
oh esperança, minha mãe do coração,
inodora, indolor,
inquebrável,
a quero desta maneira,
e só nesta beira,
nesta praia,
que a vida n'além,
no horizonte,
vem,
sem ser chamada,
engole-nos, mesmo desgostosa,
oh vida,
que vejo-a passar,
passeio em desventuras,
vejo-me gracejos,
apegado, sim, deveras e à revelia,
a rebelião da alma,
é a condição mais humana,
mais profunda,
mais náufraga e moribunda, oh poeta,
oh corcunda,
conta passos no chão,
mas cultua céus de anil,
de ano em ano,
quer entender o tempo,
mas se perdeu e a mil,
vai se encontrando,
ou ao menos se enganando,
pra fazer qualquer sentido,
na sombra da incerteza,
varam todos os pensamentos,
distorcem-me, oh corpo mole,
oh medo lento,
não sei se alegre,
no vício ou no início,
quando tudo é fresco e forte,
quando é tudo potencial,
sem que isso importe,
a história vai nos cansando,
mas nós nunca cansamos dela,
se não,
prepare o próprio funeral,
o próprio assassino,
a imprópria morte,
malgrado à ruela,
de ver-se mais como um menino
do que como um homem
de não conseguir mais suportar tudo isto
alma é maldição em si
evoluir é tentar-se em não se tentar,
é não amaldiçoar
n'alma viver,
e sábio,
assim ser
Segue e cegue
Segue o passo, firme, rente às lebres,
Cegue, confunda pés com raízes,
Segue o tempo, e prossegue
a loucura humana,
rica e doentia,
pobre de espírito, feita em ritos,
em bizarros mitos,
Cegue ao véu doce da verdade,
se segue sem perceber,
lute contra os fatos,
mostre muque, muja,
seja um mujique,
Cegue o passo, firme, segue nesta trilha,
e bênção,
continue e se repetirá,
é uma maldição,
preso sem perceber,
muje o cetro, chame-o mérito,
Se segue ou cegue,
tanto faz,
é a mesma ação,
mesmo engano,
seu conto de fadas,
sua aorta domada,
seu sangue se agita,
parasita,
lhe manda, lhe incita,
segue-o, e se cegue, oh lebre,
oh leve ignorante, que só segue,
sossegue...
O poeta é um escritor com pressa
Sem tempo pra estórias grandes,
pouca tolerância pra contos médios,
a vida, lá fora, é o meu remédio,
o contacto é mais forte, mais direto,
mais constante,
sorve sempre, num frenesi, e à beça,
eu poeta, sou um escritor com pressa,
prefiro viver do que escrever,
sou mais sutil do que biógrafo,
brinco mais do que fito,
poesias são sensações,
são pequenas estorinhas,
são sentimentos que fazem rima,
são cançõezinhas,
o escritor infantil, oh poeta!!!
romântico e servil, e suas pernas,
corre mais contra o tempo,
não sabe domá-lo,
vive ao ritmo da vida,
como uma sombra, a fitá-la,
segue os seus passos, tropica,
em tropicália,
se excita,
cheiros, ouvidos, olhares,
e se apega,
À flor da pele e vive
o escritor dos sentidos,
que descreve o efêmero
as coisinhas da vida
nos menores frascos
os melhores perfumes
a poesia cheira linda
beleza triste, de ser melancolia,
o poeta, no ritmo dos átomos,
o escritor abortado,
tem mil ideias num só verso,
grandes obras em nano-espectro,
não prende leitores, os solta,
viaja, foge de suas dores,
e roga, pragas ou amores,
não se absorve, absorve,
superficial mas nobre,
faz da infância sua arte,
oh poeta, das coisinhas breves da vida.
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