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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Monty Python, por que eles acham graça?

Recentemente eu vi um documentário sobre o seriado humorístico inglês dos anos 70 de grande sucesso Monty Python e sua odisseia para conquistar o público americano. Durante este documentário três tópicos centrais foram conclusivamente determinados: a qualidade superior do humor feito pela trupe britânica, o seu contraste em relação ao humor tipicamente americano (conservador) da tv dos anos 70 e o ''fato'' de que para "entender" as piadas do seriado é necessário "ser mais inteligente"

Eu já tinha ouvido falar do grupo ainda na faculdade por meio de alguns dos meus colegas mais nerds. Meus irmãos também já comentaram positivamente sobre o seriado.

Depois de ver o documentário eu passei a me perguntar sobre o quão objetivamente verdadeiro poderia ser a tal qualidade sofisticada do humor desses comediantes britânicos  e precipitei-me conclusivamente ao constatar que, se a plateia do Monty Python tende a ser mais inteligente (ou que tende a atrair uma maior proporção de "mais inteligentes") então o humor que produziram não poderia ser, logicamente falando, de menor qualidade, e que o mais provável é que seria divertidíssimo e definitivamente inteligente. 

Então eu resolvi assistir alguns episódios e pra minha surpresa eu não consegui achar qualquer graça. Pra fazer um julgamento pessoal ainda melhor eu pretendo ver outros episódios mas é aquela situação porque quando gostamos de um programa humorístico tendemos a fazê-lo logo de início, uma espécie de paixão à primeira vista. Parece haver um quê de personalidade influenciando em nossas predileções para o humor e que tendem a resultar em diferenças culturais marcantes neste aspecto. 

No entanto chamou-me a atenção esta relação entre maior capacidade cognitiva e Monty Python, especialmente entre os tipos mais nerds. Talvez eu mude de opinião se o placar de episódios em que consegui achar graça saia do zero e empate com os três que até agora assisti. Achei o humor da trupe do Monty Python ao contrário da suposta sofisticação ou humor inteligente, tão alardeado por seus fãs, bastante bobo, um termo que até agora está sendo mais do que adequado. 


O choque e a decepção foram tamanhos que até cheguei a pensar se tal como a arte moderna ou a pseudo filosofia que predominaram no século XX o seriado também não fizesse parte destes jogos mentais em que por conformidade e propaganda acabou-se criando uma armadilha para os mais tolos e pasmem ou nem tanto, para muitos dos inteligentos, isto é o cognitivamente inteligente só que sem maiores atributos qualitativos que o faça minimamente sábio. Em palavras mais certeiras, se este seriado também não fosse mais um desdobramento da metáfora da nova roupa do rei. Isto é, da mesma maneira que muitos se convencem do valor de um quadro apenas pela fama midiática do seu autor, sem analisá-lo de maneira objetiva e imparcial, eles também podem ser enfeitiçados a acreditar que Monty Python é aquele tipo de seriado de humor sofisticado que apenas os 'inteligentes' podem entender. [E o mesmo para boa parte do marxismo acadêmico e muitas de suas invenções excessivamente abstratas.] Será possível???

Objetivamente engraçado...



Se Chaves e Chapolin tivessem tido mais episódios com piadas inéditas eu aposto que faria ainda mais sucesso. É difícil entender quem não consegue gostar desses seriados. É claro que devem existir outros fatores que nos fazem mais simpáticos a certos seriados do que a outros. Por exemplo, eu sempre assisti Chaves e Chapolim desde muito novo. E sempre achei engraçado. Eu acho que tenho bons argumentos para usá-los como exemplos de humor objetivamente qualitativo


A trupe de Bolaños produziu uma mistura heterogênea de diferentes tipos de humor, da comédia pastelão ao humor realmente inteligente. Ainda que ofensivo (quase todo o tipo de humor é invariavelmente ofensivo) as suas qualidades sempre prevaleceram fazendo de suas costumeiras ofensas um atributo mais secundário do que primário. Todos da vila tem apelidos, tem momentos de piadistas assim como também de alvos de tiradas inteligentes de outras personagens. O humor de Chaves e de Chapolin é fulminantemente entendível mesmo que muitas das piadas possam apresentar datação. Uma das principais críticas a esta obra prima da comédia mundial tende a se relacionar com o fato de ser repetido, mas mesmo os poucos episódios que foram comprados e dublados são muito bons. 

Nos três episódios que vi até agora do Monty Python eu não vi qualquer sofisticação humorística. Por exemplo, em um dos episódios que vi, um homem está em uma suposta entrevista de emprego. Não achei graça nas exigências sem pé nem cabeça feitas pelo entrevistador. Não achei graça no acato das exigências esdrúxulas pelo candidato à vaga de emprego. E também não achei graça no desfecho do episódio. Em compensação é difícil não achar graça em um episódio inteiro de Chaves ou Chapolin. Esbocei uns sorrisos tímidos no episódio da ''piada mais engraçada de todos os tempos'' mas não foi por qualquer sofisticação intelectual embutida até porque, creio eu, não tinha qualquer uma, mas justamente pelo componente pastelão ou diretamente ridículo. 

No documentário que assisti foi dito que para gostar (achar graça) de Monty Python era necessário ser " mais inteligente''. 

Quanto mais e mais eu tento lembrar de minhas sensações assistindo aos três episódios, e as piadas tolas, mais eu suspeito de que Monty Python mais se pareça com o marxismo acadêmico, com a arte e a filosofia modernas e com a nova roupa do rei porque apenas os inteligentos que podem rir, entender e ver quão bela é a nova vestimenta de vossa majestade.


Atualização: assisti até agora a cinco ou seis episódios e ainda que tenha aumentado a frequência de sorrisos, isto é, que tenha encontrado alguns momentos timidamente engraçados, o meu placar de ''episódios inteiramente divertidos'' continua zerado. 

Por que ELES acham graça nisso* E por que eu não acho*


Eu procurei e até agora não encontrei aquele espetáculo de humor inteligente tão alardeado pelos aficionados de Monty Python. No entanto eu consigo perceber muito humor inteligente no Chaves e no Chapolin, dois seriados mexicanos de mesmo elenco e produção, de baixo orçamento, com cenários de papelão, tecnologia surpreendentemente avançada para a década de 70, extremamente populares na América Latina e diametralmente impopulares entre os auto-declarados ''intelectuais'' da região. Na verdade uma das razões para gostar tanto dos dois seriados mexicanos é justamente pelo fato de estarem salpicados de tiradas espertas que a maioria das pessoas podem entender. O humor inteligente não é exatamente aquele que encontra-se ao alcance apenas de uma pequena parcela da população, mas essencialmente aquele que não se limita a ofensas de baixo calão, uso de recursos proto-pornográficos ou mesmo ''bizarros'', por exemplo, de atores anões ou com qualquer outra ''anormalidade' assim como também da pura comédia pastelão, onde sobram tortas na cara. Claro que a dublagem sensacional contribuiu consideravelmente mas mediante a legião de fãs de todas as idades que a trupe de Bolaños usualmente reúne em toda América Latina é complicado pensar que sem a dublagem brasileira, para nós, seriam menos engraçados. 

Eu não achei qualquer graça significativa, natural e constante nos cinco ou seis episódios que vi até agora do seriado britânico. Eu me convenci precipitadamente que morreria de rir e o que tive até agora foram apenas sorrisos, ainda longe de poderem ser denominados de ''risadas''. Eu rio das mesmas piadas de Chaves e Chapolin desde que me conheço por gente. A dublagem, a atuação impecável dos atores, muitas vezes valem mais a pena que a piada em si. E no entanto, as piadas costumam ser excepcionais. O sarcasmo esperto que encontro em ambos os mexicanos eu não consegui identificar até agora em Monty Python

O absurdo não me é tão bizarro assim a ponto de ser divertido. Talvez para tipos mais formais seja divertido. O simples ato de fazer palhaçadas como caras ou sons estranhos, geralmente, não é suficiente para que caia no chão de tanto rir. 

Muitos dos meus colegas nerds, assim como também os meus irmãos, devem ter achado engraçado o episódio que relatei, da entrevista. Basicamente uma comédia pastelão, uma bizarrice fomentada em um ambiente que a priore visa emular com perfeição uma situação absolutamente corriqueira e formal de nosso cotidiano tecnocrático, uma entrevista de emprego. 

Agora pouco eu vi o episódio sobre preconceito. Teve momentos engraçados, mas que não foram suficientes para que saísse finalmente de sorrisos esboçados e disparasse a rir. 

Vou continuar assistindo novos episódios, mas até agora eu vi pouco do tal ''humor inteligente'' espetacular que os aficionados pelo seriado britânico tanto falam. 

Portanto como conclusão pessoal, até agora, eu não vi qualquer espetáculo de humor inteligente que os fãs de Monty Python tanto falam. Em compensação eu cresci rindo destes tipos de piadas muito espertas e simples dos seriados mexicanos Chaves e Chapolin, que são da mesma época que o Monty Python, e que costumam ser tão odiados pelos auto-declarados ''intelectuais''.


''Eu prefiro morrer do que perder a vida''

''Não existe trabalho ruim, ruim é ter que trabalhar''

''Você é tão burro que até te confundem comigo''

''Seu Madruga, é verdade que o senhor sabe fazer papel de animal**''

e tantas outras...

Talvez, Monty Python seja mais uma ''extrema sutileza qualitativa'' de ''gênio'' que apenas os ''mais inteligentes'' podem ver.

Tal como a plateia americana no primeiro programa de relevância nacional que a trupe britânica se apresentou, eu não consegui identificar o humor definitivamente inteligente neste seriado.

Será que eu sou muito estúpido*

Enfim, continuarei a ver mais episódios...

Quem sabe eu não me redimo daqui a um tempo*!





4 comentários:

  1. Muito boa crítica.

    Gosto de humor inglês, mas ri mais vendo Downton Abbey e as frases espirituosas contidas no roteiro do que em qualquer episódio de Monty Python.

    Quanto ao Chaves e Chapolin, valeu muito o que você disse sobre a dublagem. Outro dia eu via uma série americana legendada e não achei a mesma graça como quando a vi dublada. A voz e a entonação sugerem tanta coisa quanto as expressões faciais dos atores. Para exemplo, como quando a Bruxa do 71 fala: "Como disse?".

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    Respostas
    1. Valeu! :)

      Sim, eu lembrei da Maggie Smith quando fiz este texto. Isso é humor inteligente puro. Não vi o mesmo no Monty Python.

      Sim, mas eu acho que seria engraçado de qualquer maneira, o que pega também é que tendemos a achar mais graça quando é na nossa língua materna do que quando precisamos ler nas legendas. Sim, com certeza, os recursos que são utilizados na atuação, na voz, são igualmente importantes. É aquelas né: uma piada intrinsecamente boa se multiplica em sua capacidade de provocar risadas quando se alia a uma interpretação perfeitamente cabível.

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  2. Obrigada por esse texto! Você conseguiu traduzir tudo o que penso!

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