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sábado, 29 de outubro de 2016

Chiquinha e Nhonho Astúcia e inteligência--qi





Fonte: Make A Gif  

[A Fonte dos Desejos] Chiquinha Rindo da Cara do Quico


Já faz algum tempo que o seriado mexicano Chaves, de grande sucesso na América Latina, tem me chamado a atenção, além de minha habitual vassalagem, isto é, além do hábito de assistir ao menos uma vez por semana a um de seus deliciosos episódios: os contrastantes perfis de comportamento e tipo de inteligência de duas de suas personagens, Chiquinha e Nhonho.

Astúcia versus inteligência escolástica


Bolaños (Chaves) e Maria Antonieta de las Nieves (a atriz que interpreta Chiquinha) construíram uma personagem que é levada da breca, astuta e comportamentalmente precoce, (abusivamente) adulta. Ela não gosta de estudar, pois se diverte contando mentiras e fazendo trapaças quase sempre bem boladas com as outras crianças. Chiquinha é precocemente perceptiva e parece que herdou muitas das características psicológicas de seu pai, o inoxidável Seu Madruga. Assim como o seu pai, ela é rápida no gatilho, sempre com uma resposta na ponta da língua. O professor Linguiça, quer dizer, Girafales, é muito provável de nem te-la como uma de suas alunas mais inteligentes. Apesar de não ser estudiosa, Chiquinha tem mostrado algum brilhantismo escolástico, a nível de Chaves e Quico, é claro, respondendo corretamente quando perguntada, ensinando como que se deve dizer, especialmente ao Chaves (''eu a convidoei'' ou ''eu a convidei'', ;)), ou mesmo quando remenda o seu pai, corrigindo os seus comuns atropelos em Geografia (''A França é capital de Paris'').

Nhonho, a personagem acima do peso e simpática que ''é interpretada'' (foi, ao menos na televisão) por Edgar Vivar, que também interpreta o senhor Barriga, é o típico cdf ou nerd, o estudante nota 10, que sofre "bullying" por causa do seu multiscissímo peso, caráter manso, e também provavelmente por causa de seus dentes de coelho inchado. Nhonho parece ter herdado vários atributos psicológicos e cognitivos do seu pai, senhor Barriga, por exemplo, um bom comportamento pró-social e uma maior inteligência escolástica/qi/cristalizada. 


Nhonho é o "gênio" cristalizado e Chiquinha a "gênia" fluida.

 Ele é um bom memorizador e tem motivação intrínseca para os estudos. Ela é uma boa estrategista interpessoal e tem motivação intrínseca para enganar as pessoas visando com isso alcançar os seus objetivos precocemente egoístas e imediatistas. 

Nhonho tem o perfil de alto funcionamento do sócio-tipo trabalhador enquanto que Chiquinha tem o perfil de médio a alto funcionamento do sócio-tipo manipulador. Chiquinha vê sutilezas e as usa pra si ainda que muitas vezes não seja muito bem sucedida. Nhonho em termos de comportamento é menos ''esperto'' do que as suas notas 10 ''estão sugerindo''.

Dois perfis psico-cognitivos bem distintos, provavelmente se assemelhando apenas no nível"quantitativo", isto é, no nível de QI.


Em termos de genética vemos grande influência em ambos os casos, fictícios, é lógico, pois a cognição mais fluida, desorganizada, mais ambígua em caráter, mais sutil em estilo, e mais malemolente em temperamento, encontram-se presentes tanto no Seu Madruga quanto em sua filha, e o mesmo acontece com o Seu Barriga e o seu filho pois ambos apresentam  cognição mais cristalizada, o caráter mais formal e menos ambíguo, menos malicioso ou astuto no temperamento.

Chiquinha é mais intelectual do que cognitivamente/tecnicamente inteligente enquanto que o Nhonho exibe o padrão inverso. Seu Madruga, como dito no (pseudo) parágrafo acima, é ambíguo em caráter, ora obrando mal, ora obrando bem a muito bem. Ele, na verdade, mais do que uma personagem ultra-popular, simpática e sempre injustiçada, e também, mais do que um ''vagabundo que não paga o aluguel de sua casa'', se consiste numa das manifestações fictícias mais verdadeiras da psique humana por causa dos valores que carrega, de sua complexidade e/ou diversidade de comportamentos. Poder-se-ia afirmar que toda pujança comportamental humana ou ao menos uma boa parte pode caber em alguns indivíduos, como o Seu Madruga. Enquanto que para muitos, ele é um vagabundo que não gosta de trabalhar e que não arca com as suas dívidas, eu o vejo, além destes defeitos, como uma pessoa que prefere viver a vida, primeiro, e trabalhar, depois, e não há absolutamente nada de errado nisso. Tal como a sua filha, Seu Madruga também é um sócio-tipo manipulador. Existe um quê de filosófico nesta personagem extremamente rica. 

Enfim, é isso. Mesmo no mundo fictício, é possível perceber diferenças marcantes de temperamento e cognição, ambos que compõe a ''inteligência'', e negar esta diversidade em prol das certezas pra lá de superficiais e generalistas geralmente transmitidas pelos testes de QI e suas correlações, com certeza que não é o correto a ser feito. Pelo milésima vez, a diversidade cognitiva é totalmente compatível, se não complementar, em relação aos testes cognitivos, sua natureza e suas correlações. Por meio dessas personagens, percebemos que a inteligência pode manifestar de muitas maneiras.

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