A depressão É ou pode SER entendida como um mal funcionamento do organismo no entanto as suas reverberações filosóficas ou hiper-realistas serão muito mais significativas do que mero ''transtorno da mente'', como a ciência/psicologia quer conclusivamente sentenciar.
A depressão e a melancolia, especialmente a segunda por se consistir na conscientização quanto à loucura da vida e da existência (falta de sentido), provocam o desligamento do poderoso e universal sistema de auto-ilusão que todos os organismos apresentam e que é essencial pra suas estratégias evolutivas e este desligamento se fará ainda mais ressoante pra espécie mais autoconsciente deste planeta.
A autoconsciência, que questiona as metas evolutivas podendo deixar tudo a perder, se consistindo num complemento extremamente importante para a criatividade, ainda que em suas manifestações mais puras, mais epicêntricas, se desdobrarão de maneiras potencialmente distintas entre si.
Portanto, depressão e condições similares como a melancolia, não são apenas ou fundamentalmente ''transtornos mentais provocados por desequilíbrios orgânicos'', mas também, a partir de uma perspectiva filosófica e menos pragmaticamente mecânica/científica, em hiper-consciências existenciais, quanto às macro-incongruências da própria vida e da própria existência, porque tais desequilíbrios serão bem mais propensos a desligarem esse sistema de auto-ilusão ou ignorância/hipnose essencial, que nos faz agir, em direção ao cumprimento de ''nossas'' metas evolutivas: se ''adaptar', procriar, usando de nossas características/'armas' biológicas, e de modo quase-hipnótico OU subconsciente.
Quando uma máquina feita por humanos começa a apresentar defeito, ela para de funcionar como devia. Imagine a nós como ''máquinas'' orgânicas e que algumas dessas máquinas poderão apresentar defeitos de operacionalidade e que esses defeitos poderão resultar em prelúdios para a hiper-consciência, porque o ciclo naturalístico ou as ''nossas'' metas evolutivas passarão a ser questionadas, enfim, tal como a um rato de laboratório (pobres criaturas) que desiste de correr atrás do queijo, preso em cima da esteira em que estava correndo.
Quando temos muito mais por que(s) do que porque(s), estão este acúmulo de insegurança é provável que nos fará muito mais infelizes do que quando tínhamos tudo ''bem triturado'', de ''mão beijada'', tal como a criança que antes era alimentada pela mãe e que agora passa a se alimentar sozinha, ou que era sempre carregada no colo e agora passa a ter que andar com as próprias pernas, só que tal autonomia se fará a macro-nível existencial, isto é, que não se consistirá neste tipo, geralmente, pequeno de desafio, mas ''apenas'' no pensar sobre si mesmo, sobre tudo aquilo que se encontra além das ilusões mundanas. Poder-se-ia concluir que quanto maior a segurança existencial, maior a ignorância, maior a conformidade à paisagem sócio-cultural vigente.
A autonomia que a autoconsciência produz, quando finalmente acessada em todo o seu alcance individual, de nos fazer andar com as próprias pernas, de questionarmos com as próprias cabeças, em muitos, resultará na depressão, quando o cérebro percebe que não conseguirá aguentar esta pressão extra e portanto deprime propositalmente a atividade do organismo, pois precisa/deseja voltar ao mundo hipo-perceptivo/geralmente hipo-neurótico da ignorância. Talvez para este tipo o prelúdio para a abertura filosófica/existencial se consistirá mais em um efeito colateral do que em uma manifestação subsequentemente lógica ou complementar ou desdobramento natural. Em compensação em alguns poucos, esta abertura para a verdadeira filosofia existencial, de se pensar e de maneira constante, a longo prazo, justamente naquelas questões macro-perceptivas ou profundas, que a maioria foge tal como o diabo foge da cruz, se fará presente e possivelmente produtiva em termos culturais a filosóficos, e no entanto, também apresentará o seu lado negativo, especialmente a melancolia, ainda que esta condição ou temperamento potencialmente permanente seja bem mais ambíguo em termos de valores e que portanto não possa ser conclusivamente definido como ''negativo''.
Portanto como conclusão deste texto, a depressão e especialmente a melancolia não são apenas desordens da mente provocadas por desequilíbrios orgânicos, dando a entender que a única causa e efeito que ambas, mas novamente, em especial, a melancolia, poderiam ter seria a mecânica causalidade que é geralmente proposta pela ciência/psicologia, ''desequilíbrio orgânico causa depressão'/'melancolia'', esvaziando de valor potencialmente racional as suas expressões, isto é, tratando a melancolia como mera doença mecanicamente causada, da mesma maneira que se trata uma gripe, enquanto que, especialmente para alguns casos, bem mais do que uma condição proto-patológica, ela se tratará de um desligamento (parcial ou significativo) da hipnose natural que faz com que a grande maioria dos seres vivos vivam as suas existências, de maneiras quase ininterruptas, com o intuito subconscientemente subjacente de passar os seus genes adiante, em que, ao invés da cega ignorância da ''mediocridade biologicamente natural'', ser e fazer aquilo que se é, que se tem, este distúrbio no sistema de auto-ilusão também faz com que aqueles que forem acometidos, passem a questionar sobre tudo, de estourarem esta bolha ''egoísta'', ou epicêntrica, que conforta à maioria das vidas, e muitas vezes as condena por negá-las o poder da criatividade comportamental/individualmente adaptativa, ''de planos B,C,D'', como quando uma única bactéria é incapaz de modificar o seu comportamento habitual para evitar a morte certa, despejada por um novo e propagandisticamente invencível inseticida bacteriano.
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