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domingo, 15 de novembro de 2015

Memória e gosto musical




Até que esta música é bonitinha. Mas reparem só na letra do refrão!!!

Seres humanos que foram expostos a ela em algum momento de suas vidas entenderão (ou não).

Eu, que modéstia em Marte, tenho um gosto musical muito bom, tenho internalizado parcialmente (desprezo as letras, não consigo memorizá-las) muitas canções RUINS, do tipo chiclete, de ''prole'...

Cumpadi Washington me acompanhará por toda a vida, :(

Meu gosto musical é ótimo, mas a minha memória musical nem tanto porque ela não internaliza/guarda principalmente as músicas de qualidade/esteticamente valorosas mas àquelas que ouvi em  épocas ou momentos que marcaram a minha vida.

A maioria das músicas-lixo que internalizei são quase sempre lembranças da minha infância. Isso também nos ajuda a entender parcialmente o porquê de memorizarmos músicas que marcam nossas vidas e não aquelas das quais mais gostamos/apreciamos e que por lógica também deveriam nos marcar. Nossos cérebros estão mais plásticos durante as nossas duas primeiras décadas de vida. Exponha músicas clássicas a uma criança em momentos ''estratégicos'' e quando se tornar adulta é provável que irá se lembrar de algumas delas (também ou principalmente por associação). Talvez não seja apenas isso afinal de contas, tem crianças e crianças. Mas o fato é que, parece, que tendemos a memorizar superficialmente (e isso significa, ecos) mais frequentemente as canções tolas, populares, do que àquelas das quais sentimos maior apreço estético (mas também sentimental). Algum conflito entre mente ''e'' cérebro** 

Nossa mente, quando é acessada de maneira constante e precisa, será quase sempre racional ou sábia e dará maior valor à qualidade estética de uma música (daquelas que tendem a tocar fundo em nossas almas) do que ao contexto em que a internalizamos. Não gostamos da música, gostamos do momento ou época em que foi internalizada. E a música, enquanto peça mais contundente de vivência, pode reforçar esta internalização involuntária. Outra possibilidade, complementar à proposta central deste breve texto, é a de que as músicas mais bonitas, geralmente as instrumentais, são bem mais difíceis de serem memorizadas do que as ''chiclete'' por serem mais complexas. Ao menos pra mim, memorizar a superfície (bem fina) das letras (tolas, em sua maioria) destas canções populares em conluio com suas sonoridades parece de fato menos complicada.

''Nossos cérebros'' (''em contraste'' com a mente ou a revisão do pragmatismo/lógica cerebral) por sua vez, não pensam no valor das coisas por si mesmas, por exemplo, a beleza de uma canção, mas na praticidade, na utilidade que pode oferecer para reforçar certa lembrança. Como resultado, você pode ter como lembranças da infância, uma música do pavoroso ''axé'' baiano, assim como também uma música da banda Scorpions, ''Wind of change'', uma apoteose extremamente representativa de seu tempo, quando tolos jovens germânicos cheios de idealismo subconsciente, destruíram os muros que os separavam e celebraram com base em suas supostas forças enquanto ''agentes da mudança'', da história. Sei! ;)

As lembranças estão cheias de emoção. A música pode ser horrível, mas a lembrança não. Justamente aí que se encontra, provavelmente, a resposta mais adequada para esta correlação relativamente negativa entre gosto e memória musical. Por associação, tendemos a utilizar certa canção como reforço de certa experiência. A supremacia do cérebro pragmático contra a mente racional.

Outro possível complemento: as músicas bonitas são tão belas (semelhante ao imortal que não morre no final), que ao invés de internalizá-las pragmaticamente, nós caminharemos (ou não) para senti-las, vivenciá-las. 


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