A grande maioria dos pais gostariam que os seus filhos fossem 'perfeitos', mas sabem, que não é bem assim como eles são e ainda existe uma minoria em que desordens explícitas e epicentricamente características ceifam de maneira diversamente intensa o bem estar pessoal dos mesmos.
Eu já expliquei que somos entidades e que elas são a soma de nossas identidades, facetas ou perspectivas. Não somos apenas branco/negro/outra raça ou hétero/bi/homo ou ricos/classe média/pobres ou .... Somos uma soma de todas essas perspectivas. Os nossos verdadeiros e respectivos Eu's são a somatória dessas identidades ou as nossas entidades. Porque estamos fatalmente pendentes à assimetria identitária, isto é, priorizando algumas identidades ou perspectivas de nós mesmos em relação à outras, então tendemos a estabelecer uma hierarquia prioritária de identidades ou auto-identificações de acordo com os seus níveis de intensidade ou agudez/intrinsecabilidade, mas também possivelmente por causa da maneira com que as circunstâncias ambientais se apresentam diante de nós, por exemplo, se sentimos que uma certa identidade encontra-se mais em perigo do que outra então tenderemos a enfatizá-la. Se você é homossexual, vive em um país em que esta sua faceta é condenável, e no entanto não é capaz de conter esses impulsos, então é provável que acabará enfatizando-a, mesmo se for de maneira intrapessoal, consigo mesmo. Em compensação se você vive em um país muito mais livre, ao menos neste sentido, então é provável que, mesmo independente do seu nível ou intensidade de desejo sexual, olhará para esta sua faceta de outra maneira do que se estivesse em um ambiente muito complicado.
Vivemos em uma atual realidade cultural e política das identidades, que se sobrepõem de maneira ainda mais significativa à entidade que cada um é, a sua individualidade. Deste modo, tem-se criado um ambiente de desunião, que enfatiza pelas diferenças ao invés das similaridades, e sabemos que todos nós apresentamos as duas, e em especial as similaridades ou mesmo, igualidades, por exemplo, a condição humana ou a condição vital, esta que pode ser definida como ''pan-igualidade de condição'', por reunir toda forma de vida numa mesma condição. Enquanto entidades, ainda que distintos por causa de nossas individualidades ou idiossincrasias de assimetrias identitárias, estamos todos iguais, e essa perspectiva nada mais é do que a existencial, a primeira e/ou a última camada de consciência.
Antes, nossas individualidades, e em especial muitas de suas facetas ou identidades, não eram respeitadas, porque éramos tratados como ''modelos de entidade'' de acordo com a cultura em que se vivia [geralmente]. Éramos forçados ao menos a emular superficialmente as regras de comportamento cultural vigente. Hoje o extremo oposto tem acontecido no ocidente, em que ao invés da doutrina da super-enfatização pela entidade [desprezando as idiossincrasias] e moldando-a conforme o tipo cultural desejado, temos a doutrina da super-enfatização pelas identidades ou facetas, desconstruindo o indivíduo, reforçando as suas idiossincrasias ou diferenças e tendo como resultado o enfraquecimento da coesão coletiva. Os dois é claro, estão errados.
Antes, desordens de todos os tipos eram os alvos principais da máquina de homogeneização de matiz conservadora. Hoje existe certa e obscura tentativa de respeito [e claro, sem qualquer diálogo racional entre as partes queixantes ou diametralmente envolvidas] em relação às diferenças individuais e em especial com as identidades que emanam de desordens, por exemplo, das deficiências motoras às deficiências sexuais [homossexualidade, hipo-sexualidade, etc], de personalidades mais incomuns até à desordens como o autismo. A partir de então criou-se uma atmosfera impossível para a eugenia, até mesmo porque com base naqueles que sempre a defenderam não haveria como extremos em sensibilidade confabularem com leveza e versarem com razoabilidade sobre esses assuntos tão eticamente polêmicos.
No entanto, o mundo caminha, a humanidade precisa prosseguir e de preferência seguindo o caminho da sabedoria, que só se dará com base em uma eugenia realmente ética, completa, que reflita a natureza totalitária da sabedoria.
Então, como dizer a uma pessoa que exibe uma 'desordem' explícita [ou mesmo, implícita] que seria bom se, talvez, esta sua perspectiva ou faceta não continuasse a ser geneticamente perpetuada*
É complicado ser sincero, honesto, em termos intelectuais inclusive, sem machucar parte ou certa perspectiva das ou de algumas pessoas, especialmente se lhes forem agudamente prioritária ou enfatizada.
Portanto a minha proposta aqui é a de voltar, a priore, para a ênfase na entidade, no indivíduo como um todo, só que, respeitando as suas identidades se, por sua vez, respeitarem o bom senso do racionalmente aceitável, sem tentar encaixá-lo ou forçá-lo a se encaixar em um pré-molde cultural de comportamento [invariavelmente e largamente subjetivo em qualidade] como até pouquíssimo acontecia, ao menos no Ocidente. De celebrar a ''todos' como indivíduos e em especialmente quanto às suas características positivas ou virtudes, e com isso dissociar a percepção coletiva e que claro regride ao nível individual, de uma ênfase identitária, especialmente em relação à desordens, que no final das contas, todos nós apresentamos, se a própria vida já não poderia ser definida como tal, como uma desordem, como um transtorno da realidade. A partir daí mostrar às pessoas que a humanidade precisa evoluir não apenas por si mesma mas também por causa do planeta que tanto tem agredido e que boa parte dessas agressões advém da condição humana por agora indissolúvel de imperfeição, não apenas por ser imperfeita, mas também por, loucamente, enfatizar-se na própria imperfeição, numa espécie de imperfeição ''tolerável', prontamente querida por controladores parasitários, visto que manter certas fraquezas humanas parece ser altamente rentável. Mostrar que, como não somos apenas ou unicamente um de nossos rincões identitários, que somos entidades, que somos um/uns todo[s], que apresentam[os] traços desejáveis, mesmo e não incomumente, que podem ser admiráveis ou supra-desejáveis, mediante uma variada ótica de qualidade, e que então precisamos aceitar que talvez alguns de nossos traços identitários possam ser reduzidos [se não germinativamente finalizados] ou mesmo quando certa condição encapsula ou influencia significativamente a entidade, como é o caso da síndrome de Down. Especialmente neste exemplo, de separar o EU da desordem, a entidade das identidades, aceitando-as, especificamente as mais virtuosas e também as menos moralmente polêmicas.
Essa mudança na narrativa pode ter excelente efeitos neste paradigma que sempre coloca a sinceridade intelectual contra a empatia [afetiva]. Precisamos superar isso se quisermos de fato conciliar a eugenia humanitária/vitalista com o bem estar nas interações sociais humanas.
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