Parece elementar que a nebulosa "abertura para a experiência" se relacione de maneira significativa com altos níveis de criatividade. No entanto ao menos pra mim ainda não ficou claro qual que seria a relação entre a criatividade e o psicoticismo que [Hans] Einsenck, o criador do big Five, disse ser fortemente correlativo com a mesma. Que as pessoas mais criativas são mais artística e/ou intelectualmente curiosas e engajadas, geralmente de maneira específica [e não necessariamente de maneira factualmente correta], isso não parece ser difícil de entender. No entanto o mesmo não pode ser dito em relação ao psicoticismo.
Primeiro vamos novamente buscar por seu conceito. O psicoticismo se consiste em um dos traços ou expressões de personalidade que foram agrupados por Einsenck e mais especificamente enquanto um oposto da agradabilidade. Aqueles que pontuam alto neste traço ou nível de expressão, pressupõe-se que tendem a ser mais irritadiços, agressivos, manipuladores, indiferentes ou desafiadores em relação às outras pessoas. Interessante pensar que o psicoticismo mais parece ser uma versão externalizável ou mesmo "masculina', extrospectiva do neuroticismo, de maneira que o que parece diferencia-los como eu já devo ter falado, é justamente a perspectiva de interação, intra ou inter-pessoal. O neurótico consome os seus pensamentos negativos consigo mesmo, com maior frequência, enquanto que o psicoticista o faria de modo muito mais interpessoal. Por isso que identifiquei o neuroticismo como algo mais feminino e mesmo introvertido, por causa de sua natureza mais introspectiva. Outra possibilidade de pensamento em relação a essas diferenças propostas seria que o neuroticismo seria uma versão mais autoconsciente ou auto-controlada do psicoticismo.
O psicoticismo também poderia ser denominado como um continuum da personalidade psicopática de modo que o psicoticista não seria necessariamente um psicopata ou um sociopata, mas estaria mais perto dessas condições do que uma pessoa [correntemente] normal, e inclusive, acaso pontuar alto neste valor, estaria mais próximo de praticar ''crimes'.
Uma das vantagens pouco abordadas sobre as personalidades anti sociais é a grande perspicácia geralmente direcionada para o meio social, que ''oferece'' àqueles que 'melhor' as expressam. Uma aguda capacidade perceptiva só que tendo como objetivo o próprio bem estar, num eloquente egoísmo. Psicopatas e sociopatas percebem o mundo de uma maneira mais distinta e mesmo mais realista mediante algumas perspectivas e é justamente por isso que são mais talentosos na arte da manipulação com finalidades moralmente obscuras ou intensamente autocentradas. Em meio ao jogo complexo de subjetividades sociais/emocionais, psicopatas e sociopatas, especialmente os mais talentosos, veem um mundo objetivo e trabalham em cima desses rituais sociais subjetivos com o intuito de tirarem proveito pra si próprios.
Portanto essas vantagens psico-cognitivas de manipulação é logicamente provável de também serem encontradas entre aqueles que são mais propensos a expressarem maiores níveis de psicoticismo.
Outra maneira de encontrar lógica nesta correlação (invariavelmente causal como na explicação acima) entre criatividade e psicoticismo pode ser melhor vislumbrada logo abaixo
Hiper sensibilidade +/= perfeccionismo [geralmente de natureza insular] + frustração =
O psicoticismo tem uma natureza intensa, de disposição e talento para a manipulação, realismo cru, menor empatia afetiva [não necessariamente no mesmo hipo-nível que o epicentro espectral da personalidade anti-social] e maior empatia cognitiva só que mais direcionada para "atividades cognitivas ou não-sociais" que também tendem a ser mais [concretamente] objetivas [resolução de tarefas] do que as atividades psicológicas.
O ''psicoticista'' pode ser mais irracional, agir de maneira errante/irregular ou de maneira constante e generalizada/ação primária. E claro que também pode ter razões racionais para agir e/ou se expressar desta maneira.
Independente se agirá mais de acordo com a quebra de regras racionais subjacentes de interação ou não, é fato que níveis altos de criatividade também querem indicar níveis altos de perceptividade ou atenção aos detalhes e também de sensibilidade "generalizada' e isso quer dizer, sensibilidade cognitiva E afetiva, isto é, esses fatores são os mais prováveis de se consistirem nas causas para o ímpeto e a realização criativa.
A sensibilidade cognitiva pode ter como resultado subsequentemente esperado uma maior capacidade de manipulação, das pessoas ou ''sensibilidade cognitiva mentalista'', e/ou de ''ideias, pensamentos, etc'', ou ''sensibilidade cognitiva mecanicista'' [ou os dois].
Portanto, pelo que parece, o mesmo nível de expressividade que pode tornar o criativo mais interpessoalmente intempestivo/muitas vezes por ''já'' ser mais [especificamente] inconformista, também pode ter um papel em sua aguda capacidade perceptiva e concomitantemente manipulativa.
Maior sensibilidade cognitiva = maior perfeccionismo [insulado, geralmente]; maior sensibilidade afetiva = maior frequência e intensidade de distúrbios de humor. E muitos desses atritos podem estar relacionados justamente com o trabalho ou especialização do indivíduo mais criativo ou mesmo de apresentar uma natureza mais generalista, como costuma ser o caso, por exemplo, da idealidade moral [subjetiva, que o indivíduo acredita, estando ele certo ou não, ter encontrado].
Criativos mais neuróticos, dos dois tipos e os mais psicoticistas*
Existem diferenças entre eles*
Ei-é possível ser neurótico e psicoticista [eita desgraça] ao mesmo tempo* Parece que sim, ;). Se o criativo, mais para o psicoticismo, extrai a sua maior criatividade por meio da faceta cognitiva ''sensibilidade cognitiva ou perspicácia'' que prediz a capacidade manipulativa, que também é essencial para a criatividade, então como que o criativo, mais para as neuroses, o faria*
Também percebam que estamos falando de quase-extremos, já que o neuroticismo se consiste basicamente na instabilidade emocional [intrapessoal] enquanto que o contínuo em direção às personalidades anti-sociais geralmente se consiste no oposto da instabilidade emocional ao estilo neurótico. O neurótico geralmente não é/não parece ser mais psicopático do que a mé[r]dia, talvez seja até mesmo o oposto, enquanto que o psicoticista se localizaria exatamente ''no meio'' do/no caminho em direção ao ''delicioso'' reino encantado da personalidade anti-social. O neurótico parece mais como um psicoticista consciencioso/maior autoconsciência, que internaliza mais a sua negatividade do que a externaliza.
Talvez, todos os tipos de criatividades, independente da comarca psiquiátrica mais próxima, apresentem esta dobradinha: sensibilidade cognitiva & afetiva, para maior ou menor intensidade de ambas ou de modo mais assimétrico entre elas. E seria o tipo de intensidade comportamental acoplada que determinaria o seu tipo. O próprio caso do psicoticismo que se relacionaria mais umbilicalmente com a ''criatividade mentalista'', e que tenderia a ser mais útil em certas áreas do conhecimento humano por exemplo a própria psicologia. Por outro lado uma criatividade mais mecanicista ou ainda mais direcionada para o meio ''não-social', é provável que se relacionaria mais com o espectro do autismo, por exemplo. E lembrando [ou não] que o mentalismo tem o seu máximo de expressividade ou de autenticidade justamente em relação ao meio social, só que ao longo do seu espectro usualmente adquire feições mais ''mecanicistas'', por lidar mais com ideias do que com pessoas, de maneira direta, mais conclusivamente, por lidar com ''ideias sobre as pessoas/sobre 'o social' ''. Enfim, complicô..
Portanto, se já não concluí mais de uma vez ao longo deste texto sofrível, o faço novamente: tal como comentei no texto anterior, uma das facetas que encontra-se presente tanto no continuum do psicoticismo quanto no espectro da psicopatia, que se consiste a capacidade manipulativa, além de resultar em altos níveis de criatividade mentalista [de curto a curtíssimo prazo] entre os 'anti-sociais' e especialmente os mais 'talentosos', quando deslocada para outras atividades ou perspectivas de interação, por exemplo, mais para as artes [manipulação intelectual predominantemente simbólica ou recreativa] ou mais para a intelectualidade, para o epicentro das atividades intelectuais, ou para as ciências, pode surtir o mesmo efeito, isto é, de resultar na manipulação daquilo que está sendo escrutinado ou ''pensamento divergente', e percebam também a natureza [morbidamente] instintiva da psicopatia/sociopatia/narcisismo em sua obsessão por jogos de manipulação e tendo como objetivos principais o próprio divertimento sádico [isto é, se consiste em uma motivação intrínseca] e também para angariar vantagens moralmente imerecidas. Desloque o perfil cognitivo do psicopata para outra utilidade a que ele caracteristicamente está morbidamente direcionado, e talvez veremos o nascer de um gênio criativo. No mais, é 'no' psicoticismo que mais parece se consistir em um fenótipo mais alargado da personalidade anti-social, que parece estar mais eloquente a sensibilidade cognitiva ou perspicácia ]mais insular, mais irregular ou não, mas característica de qualquer maneira[ que eu também tenho denominado de ''hiper-perceptividade'', preditores do ímpeto e de possíveis realizações criativas. E a mesma sensibilidade que alarga ou torna aguda a perspicácia cognitiva, também seria mais propensa a ter o mesmo efeito ou a relacionar-se com uma sensibilidade afetiva igualmente aguda. Se o psicoticista tende a ser menos neurótico, então seria interessante pensar se o típico criativo seria ao mesmo tempo, mais neurótico e mais psicoticista do que a média, se no final, mais parece que, como eu tenho falado, o mais criativo seja MAIS, ou tenda a ser, em relação a praticamente todos os traços do big five, uma espécie de ''liberdade meio esbórnia, meio porcamente controlável'', esta ideia de ''omniversão'' que, de maneira igualmente porca, tentei trabalhar.
Muito bom o texto, esclareceu umas dúvidas minhas.
ResponderExcluirQue bom!!
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