Em tempos de fake news e teorias conspiratórias, em sua maioria, produzidas e consumidas por indivíduos autodeclarados conservadores, de direita, pode ser comum de se pensar que negacionismos da realidade, se científicos ou políticos, são exclusivos a um lado do espectro político-ideológico. No entanto, existe um negacionismo que, se não é exclusivo à esquerda, ocupa um papel central em seu sistema de crenças, que é o da influência predominante da genética ou biologia no desenvolvimento e no comportamento humanos (que também se estende para outras espécies), chamado de tábula rasa.
Esse negacionismo se baseia na crença de que nascemos tal como folhas de papel em branco, sem herança genética (direta ou por combinação), particularmente em relação ao comportamento, como a inteligência, que somos totalmente moldados pelo meio.
Pois se é verdade que não existe livre arbítrio ou não da maneira como muitos acreditam, também não é possível dizer que somos absolutamente condicionados pelo meio, se pessoas nas mesmas circunstâncias tendem a agir de maneiras distintas e não apenas por causa de diferenças contextuais, de classe social ou cultura, por exemplo, mas também ou especialmente porque já apresentam diferenças intrínsecas de personalidade e de níveis qualitativos e quantitativos de inteligência. Então, essas variações são sempre consideradas produtos das circunstâncias dos ambientes em que cada ser humano tem nascido e se desenvolvido.
Esse negacionismo já está apresentando consequências esperadamente negativas, tal como o aumento da criminalidade, em partes resultado de políticas multiculturalistas que favorecem a imigração em massa para regiões ou países outrora mais seguros. Inclusive e, particularmente nas universidades ocidentais, essa crença de que apenas a cultura ou o meio que explica diferenças médias de comportamento e capacidades cognitivas entre indivíduos e grupos humanos se tornou consenso quase absoluto especialmente nas ciências humanas, com direito à perseguição declarada aos acadêmicos que discordam dele (causado pela criação de panelinhas de conformidade ideológica). Além disso, o sistema tradicional de ensino, predominante nas escolas em todo mundo, também tem sido baseado justamente nessa crença no determinismo do meio sobre o desenvolvimento intelectual, como se o mesmo dependesse totalmente da qualidade do ensino dos professores, desprezando que a inteligência acadêmica dos estudantes se desenvolve paralelamente, tanto em potencial alcançado quanto ao seu tempo de desenvolvimento, e que o máximo que os professores podem fazer, de positivo, é acelerar aprendizados específicos, de acordo com a capacidade de cada estudante.
Eu acredito que, se a esquerda parasse de endossar essa crença negacionista e aceitasse a realidade das diferenças médias e predominantemente intrínsecas de indivíduos e grupos humanos, talvez conseguisse se tornar mais popular ou mais eficiente no combate à ascensão da extrema direita. Por exemplo, se na Itália, políticos e acadêmicos progressistas abandonassem a defesa pelo multiculturalismo, ideologicamente baseada na crença da tábula rasa, mas que também funciona como uma estratégia arriscada para aumentar seu número de eleitores a partir dos imigrantes, a extrema direita teria uma pauta a menos a seu favor, diga-se, uma pauta muito importante mediante o seu poder de transformação, especialmente para causar problemas, e provavelmente não teria vencido de maneira tão avassaladora nas últimas eleições legislativas de 2022, em que uma mulher neofascista foi eleita primeira-ministra, Giorgia Melloni, e em que setores conservadores obtiveram o melhor resultado desde Mussolini (além de servir como demonstração didática de que não basta uma "representatividade" vazia de minorias ou maiorias historicamente marginalizadas, como as mulheres, tal como pregam identitários liberais, se for para eleger membros desses grupos que estão do "lado mais hipócrita e psicopático da força"). Porém, eu tenho consciência que essa revisão de mentalidade não seria nada fácil já que exigiria reconsiderar alguns de seus pontos mais importantes. Mas, se esses pontos são negacionistas... mesmo se são bem intencionados, a justiça nunca é plenamente possível com mentiras.
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