O que eu entendo sobre genética?
Que nossos corpos são formados por genes que regulam e controlam suas funções; que são transmitidos de pai para filho; que também se combinam durante a concepção, no momento em que o espermatozóide fecunda o óvulo; que a expressão genética é variavelmente influenciada pelo meio; que existem genes recessivos e dominantes; que existem fenótipos mais simples e estáveis, compostos por poucos genes, tal como os que controlam a expressão da cor dos olhos, e longas cadeias de genes que formam fenótipos complexos, como as capacidades cognitivas; que a evolução das espécies acontece principalmente pela seleção de traços, ou expressões genéticas, considerados mais adaptativos; que mutações podem ser transmitidas ou ocorrerem a partir desses processos*, particularmente no período pré natal...
* Na verdade, eu não sei se certos tipos de expressões atípicas, como a orientação homossexual, são resultados apenas das condições do ambiente intra-uterino, durante a gestação, ou se já são determinadas, pelo menos parcialmente, na concepção, isto é, a partir da combinação dos materiais genéticos dos progenitores.
O que eu entendo sobre epigenética?
Eu entendo que é considerado um campo emergente da biologia e que se consiste, simplisticamente falando, na ocorrência de supressão ou promoção da expressão específica de genes, geralmente causada por gatilhos ambientais, que pode ser congênita ou adquirida, crônica ou temporária, positiva ou negativa, que é chamada de "epimarca" e que pode ser transmitida de uma geração para outra...; que a epigenética é um termo que, do grego, significa aquilo que está além ou acima da genética.
Agora, as minhas impressões:
Sinceramente, eu penso que a epigenética se parece ou se comporta como uma pseudociência.
Minha primeira suspeita vem da ininteligibilidade, especialmente para leigos, como eu, de alguns de seus artigos que já li ou tentei ler. Pode ser por causa da complexidade intrínseca da área em que é inevitável o uso de termos muito técnicos ou específicos, ou então porque seus pesquisadores são treinados para usar uma linguagem acadêmica obscura que visa esconder sua natureza pseudocientífica.
Pois eu poderia apostar que a maioria dos "epigeneticistas", os pesquisadores em epigenética, se interessaram por essa área justamente por causa de suas crenças na tábula rasa, no determinismo absoluto do meio sobre o desenvolvimento e o comportamento humanos (e de outras espécies). Consequentemente, também devem acreditar que as diferenças MÉDIAS de comportamento e inteligência entre diferentes grupos e indivíduos humanos são resultados exclusivos das diferenças dos ambientes em que se encontram, porque estas funcionariam como gatilhos para a expressão epigenética, de supressão ou promoção da expressão de genes específicos. E não que sejam primariamente reflexos das diferenças de variações genéticas ou biológicas dos mesmos.
O meu próprio exemplo em que, se eu não consegui desenvolver minhas capacidades matemáticas a um nível mediano até à idade adulta, segundo a epigenética, é porque ocorreu uma supressão dos genes relacionados, que aconteceu em algum momento do meu desenvolvimento, causada por algum fator ambiental e não que, eu, provavelmente, já nasci com um cérebro matematicamente inapto, que foi praticamente programado, mesmo em condições ótimas, para não se desenvolver muito nessa área, e/ou que o meu fenótipo cognitivo possa ser o produto de uma combinação dos materiais genéticos dos meus pais, ocorrida já na (minha) concepção...
Parece até que a epigenética visa desnaturalizar mutações ou variações da expressão biológica, separando-as do que seriam as variações "mais naturais", chegando a flertar com a hipótese do "design inteligente", mas um tipo mais "progressista": de que existe um desenvolvimento ou uma expressão ideal e que marcadores epigenéticos seriam, na maioria das vezes, erros ou anormalidades unicamente decorrentes da influência de circunstâncias ambientais desfavoráveis.
Outro aspecto que me faz suspeitar da epigenética como uma possível pseudociência, ou que tem se desenvolvido desta maneira sem necessariamente ser, é o estabelecimento precoce de uma "narrativa assertiva ou triunfalista" presente em alguns artigos que li em que, primeiro, afirma que o debate "genética x ambiente" já está encerrado, justamente por causa dos resultados encontrados nas pesquisas da área e, então, despreza a importância da (variação) genética...
Outra variante de narrativa triunfalista ou assertiva endossada em pesquisas e artigos de epigenética é a de se afirmar que Darwin e Wallace estavam errados quanto à sua ideia de seleção natural, porque a mesma estaria provando que o ambiente é mais determinante...
Então, talvez Lamarck estava ou está mais certo?? E a epigenética seria uma espécie de neolamarckismo??
Na verdade, eu acho que ainda (?) não foi encontrado que a "supressão ou a promoção da expressão de certos genes" tende a acontecer de maneira totalmente independente da variação ou probabilidade genética de indivíduos e grupos, se é isso o que a epigenética está sugerindo...
Assim como a sociologia tem desprezado, de maneira categórica, o papel da biologia como um fator relevante de influência no comportamento humano, a epigenética também tem se comportado assim em relação à genética, atribuindo à si mesma a maior parte da influência.
A priori, eu acredito que seja uma área relevante, mas que tem fragilizado sua própria validade científica ao deixar implícito que busca confirmar crenças político-ideológicas pré estabelecidas da maioria dos seus pesquisadores, dos pioneiros aos atuais, ao invés de sistematizar o pensamento lógico-racional ou imparcial-objetivo em suas abordagens, isto é, de praticar ciência de maneira legítima.
Existem muitos exemplos que confirmam a influência preponderante da genética ou biologia sobre o desenvolvimento e o comportamento humanos, ao mesmo tempo que também mostram a influência do meio, tal como o aumento da estatura, primariamente percebido em populações de países ocidentais, nos últimos 80 anos ~, atribuído a uma grande melhoria na alimentação das mesmas, em um sentido quantitativo. Pois se não foi detectado um padrão robusto e específico de seleção que tenha acontecido nesse período, então, parece que esse aumento se deve principalmente a fatores ambientais. Porém, mesmo consumindo valores similares de calorias, populações etnicamente diferentes têm apresentado aumentos médios de estatura que estão de acordo com a sua etnia ou raça, vide os exemplos dos leste asiáticos que, quando bem alimentados, têm alcançado uma média máxima em torno de 1m70 cm de altura, e dos norte europeus, especialmente os neerlandeses, que já alcançaram médias 10 cm mais altas, por comparação. E antes que se possa argumentar quanto às diferenças socioeconômicas dos países do norte da Europa em relação a países de outras regiões como um possível fator para explicar as diferenças de estatura alcançada, basta mostrar que, entre os povos mais altos do mundo, têm uma tribo africana, os dinka, e um povo dos Balcãs, os montenegrinos, no sudeste europeu, de duas regiões historicamente empobrecidas...
Não que a genética, sozinha, seja o destino, mas eu não acredito que seja possível superar limites ou potenciais anteriormente determinados ou previstos por ela ou pela biologia, novamente, se é isso mesmo que a epigenética está deixando a entender... É por isso que, nós, seres humanos, não podemos voar, mas podemos nascer com uma deficiência física ou adquiri-la, bem como de desenvolvermos algum tipo de agilidade motora, sempre de acordo com as possibilidades da nossa espécie.
Outros exemplos e que são muito populares para a demonstração de alterações de natureza epigenética são: o vício ao cigarro ou tabagismo que, por si mesmo, se expressa a partir de alterações neuroquímicas no cérebro e é seguido pelo risco aumentado de desenvolvimento de doenças relacionadas, a médio e longo prazo, e de um transtorno pós traumático a partir de experiências geralmente vividas na infância ou adolescência. Pois ao invés de serem, puramente falando, resultados da influência do meio sobre determinado organismo ou indivíduo, tal como muitos "epigeneticistas" parecem pensar, podem ser resultados de uma maior sensibilidade específica, como parte de uma variação genética ou biológica anterior ou predisposição, porque não são todos aqueles que são fumantes crônicos que desenvolvem doenças respiratórias e nem todos os que passam por traumas que adquirem sequelas psicossomáticas.
Parece haver um engano comum em relação à genética, de se pensá-la como sinônimo de determinismo absoluto ou rigidez expressiva, enquanto que sua expressão tende a variar em sensibilidade, reatividade ou estabilidade, dependendo do traço em si, das circunstâncias do meio e do próprio indivíduo (dos seus potenciais e limites).
Eu acho que a epigenética pode ser um termo que basicamente se refere à ocorrência de mutações e também de plasticidade de traços, não necessariamente de algo que pode acontecer "além da genética". Até já pensei em renomeá-la como "endogenética", como uma diversidade de variações que acontecem DENTRO das possibilidades genéticas de um indivíduo ou população, isto é, dentro do domínio da genética, já partindo desse pressuposto de que a mesma não é estereotipicamente inflexível tal como muitos acreditam.
Eu concordo que, nós, seres humanos, podemos ser muito sensíveis ao meio, mas também acredito que essa sensibilidade ou potencial de variação apresenta limitações, que são determinadas pela própria biologia ou genética, novamente o exemplo das diferenças étnico-raciais no aumento da estatura no último século, não apenas nesse caso mas também em vários outros, tal como a inteligência.
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