Minha lista de blogs

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O dilema e o problema ideológico da psicologia evolutiva

 O que aparenta ser mais "adaptativo" é sempre intrinsecamente melhor??


Exemplo, a crença em deus.

Acreditar na existência de deus e na vida eterna é exatamente o mesmo que acreditar em uma afirmação extraordinária sem nenhuma evidência extraordinária, sem ter sequer uma base lógica que corrobore indiretamente para a sua existência. É o mesmo que acreditar em algo porque quer, porque essa crença lhe faz se sentir bem e não por ser verdade ou uma provável realidade. E isso é o mesmo que se comportar de maneira intelectualmente imatura, incapaz de aceitar fatos ou verdades que contradigam expectativas e crenças pessoais.

Está claro que a crença religiosa é uma expressão clássica e mais específica de irracionalidade. Apesar disso, existem indivíduos acima da média em inteligência, inclusive de gênios científicos historicamente reconhecidos, que são ou eram religiosos, demonstrando que os efeitos perniciosos dessa crença em relação à outras capacidades cognitivas podem variar individualmente. Porém, por uma perspectiva mais geral, existe uma clara desproporção de fundamentalistas religiosos entre os mais cognitiva e racionalmente limitados, e o padrão oposto para ateus e agnósticos. As razões são óbvias, se uma capacidade racional mais desenvolvida promove um maior pensamento crítico e que, por sua vez, se correlaciona com uma maior capacidade cognitiva.

No entanto, segundo muitos pesquisadores e aficionados da psicologia evolutiva, se um traço é ou está adaptativo, então, ele é qualitativamente superior, tal como tem sido o caso da crença religiosa, que se relaciona com uma alta taxa de fecundidade e, de maneira menos significativa, com longevidade ou melhor saúde. Outra razão para que a considerem um traço evolutivamente valoroso é porque a maioria dos seres humanos acreditam em deus e/ou vida eterna, partindo daquela lógica em que, se certo traço é mais comum em uma população, é porque lhe confere uma vantagem adaptativa.

Ok, não discordo de fatos, porém, é preciso entender que: a evolução de qualquer espécie nunca é perfeita; que nossa espécie é muito jovem, se comparada com as outras, que ainda estamos na "adolescência" de nossa trajetória possível de evolução e que, portanto, o predomínio da crença religiosa não significa que a mesma seja intrinsecamente superior e sim que é o reflexo de nosso jovem contexto evolutivo, sugerindo que, de acordo com que evoluímos, intelectualmente, ela se tornará cada vez menos comum. Outra explicação para o seu predomínio até hoje em dia é que o nosso contexto ecológico e evolutivo, especialmente a partir da civilização, tem sido o de auto-parasitismo, em que uma minoria de indivíduos com inclinações parasitárias passou a dominar e a controlar uma maioria de tipos mais auto-domesticados; que os mais auto-domesticados, mais propensos à crença religiosa, teriam prosperado demograficamente nesse ambiente de servidão, resultando numa associação com maior "fitness" ou melhor saúde, tal como acontece com as espécies domesticadas pelo ser humano*. Portanto, a maioria dos indivíduos mais religiosos seriam como as formigas operárias: altamente conformistas ou servis e organicamente incapazes de desenvolver seu pensamento crítico e/ou racional. Então, além disso, o empoderamento histórico e político das "religiões" organizadas também atrai, desde há muito tempo, uma desproporção de indivíduos moralmente idiotas, de psicopatas e sociopatas, para o topo de suas hierarquias, resultando em uma dupla corrupção: o intelectual, pois a crença religiosa, por si mesma, já é um tipo de negacionismo de verdades (das verdades existenciais); e o moral, em que esses sujeitos inescrupulosos, predominantes no topo da hierarquia religiosa, usam suas superestruturas para oprimir e parasitar seus subordinados.

* Maior o número de indivíduos que carregam certo traço e, dentro de um processo constante de seleção, mais esse traço se associa a traços considerados importantes para o sucesso adaptativo de uma espécie, como a alta fertilidade e a longevidade.

Como conclusão, a suposta superioridade adaptativa da crença em deus, segundo muitos psicólogos evolucionistas que, geralmente, são conservadores de direita, na verdade, seria o reflexo de um potencial mais limitado de percepção e compreensão da realidade. Portanto, não é porque a maioria dos seres humanos acredita em deus e que essa inclinação esteja relativamente relacionada com maior "fitness" que será um traço intrinsecamente superior, se se trata de uma correlação e não de uma causalidade.

Para efeito básico de comparação, existem muitos comportamentos ou traços considerados "adaptativos" em outras espécies que são considerados absolutamente indesejáveis para nós, tal como o hábito encontrado em uma espécie de aranha, chamada de viúva-negra, em que a fêmea devora o macho depois do acasalamento...

Bem, será que esse é um traço ou comportamento "adaptativo", no sentido de "intrinsecamente superior" só por ser praticada pela maioria dos indivíduos de uma espécie???

A determinação qualitativa da crença religiosa como um traço superior por muitos psicólogos evolucionistas nos mostra que, a psicologia evolutiva, ao estar dominada por pesquisadores ideologicamente enviesados à direita, tem sido usada como uma plataforma para a reprodução de suas crenças a partir de abordagens pretensamente científicas, ao invés de servir-se como um campo da ciência que sempre busca por uma análise imparcial e objetiva em relação aos tópicos do seu domínio.

2 comentários:

  1. Boa tarde! Me permita uma curiosidade, há quanto tempo vc deixou de crer em Deus?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mais ou menos por volta de 2016. Eu já era agnóstico.

      Excluir