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sábado, 19 de novembro de 2022

Sobre esquerda, síndrome do impostor e "educacionismo"

 Eu já comentei sobre a minha hipótese de relação entre esquerda e síndrome do impostor, em que haveria uma desproporção de esquerdistas que aparentam ser muito dependentes de opiniões e pensamentos de autoridades acadêmicas e intelectuais, especialmente as de mesma matriz ideológica, para construírem ou ratificarem seus posicionamentos, porque não seriam confiantes o suficiente em suas próprias capacidades racionais; em relativo contraste aos direitistas, que seriam mais propensos a sofrer de síndrome de Dunning-Krueger, que é um excesso de autoconfiança intelectual e que teria como consequência uma maior vulnerabilidade para acreditar em teorias conspiratórias e fake news. 


Pois essa tendência mais pronunciada de síndrome do impostor entre esquerdistas pode ser um fator que os torne mais propensos à crença na tábula rasa, no determinismo absoluto do meio sobre o desenvolvimento e o comportamento humanos e que, por sua vez, também os levaria à crença no "educacionismo", de que a educação tem uma influência extrema no nosso desenvolvimento intelectual, especialmente durante a infância e a adolescência. A síndrome do impostor se manifestaria indiretamente pela impressão de que tudo o que se é ou se torna é devido aos outros ou às circunstâncias do meio, quer seja no sentido positivo ou negativo, mas especialmente no positivo, em que qualquer conquista ou bom desempenho seria exclusivamente o resultado de sorte, privilégios, treinamento, criação ou educação recebida... já, no negativo, a mesma lógica, só que inversa, que faltou ter sorte, privilégios, uma educação de qualidade ou ter crescido em um lar amoroso e economicamente estável... Mas também de que somos apenas produtos do meio; de que há pouco, em termos de personalidade e inteligência, que possa ser atribuído a nós mesmos, como se fôssemos meros reagentes ou marionetes das circunstâncias. 

A confiança exagerada na educação

Pois se existe uma desproporção de esquerdistas que tendem a glorificar opiniões e pensamentos de sua elite intelectual, porque não têm plena confiança em suas próprias capacidades racionais, isso não significa que não possam ser arrogantes e até tenho uma forte impressão de que costumam ser irredutíveis quanto às suas opiniões, isto é, nas que são produzidas por sua cátedra de intelectuais e adotadas por eles. Porém, esse excesso de confiança não tem a mesma origem que o excesso também percebido em direitistas, até porque ideias, ideais e posicionamentos de direita e esquerda refletem perspectivas diferentes: respectivamente, uma perspectiva mais "darwinista"' e concreta ou sensorial e uma perspectiva mais existencialista e abstrata, daí a diferença de autoconfiança entre os dois grupos já que os posicionamentos de direita costumam ser menos sofisticados ou teoricamente mais fáceis de serem endossados que os de esquerda.

Apenas o esforço...

Apesar da tendência de baixa autoconfiança, muitos dos que têm uma crença ou fé exagerada na educação, também tendem a apontar para o esforço empregado nos estudos como o único fator que explica tanto a excelência quanto a mediocridade acadêmica. Mas isso não entra em absoluta contradição com a tendência de síndrome do impostor, porque continua a ocorrer uma diminuição da relevância das capacidades cognitivas mais intrínsecas para o desempenho intelectual de qualquer nível, além de também ser comumente associado a outros fatores, extrínsecos, como a qualidade do ensino. Então, segundo essa crença, a genialidade, por exemplo, só é possível com grande esforço, mais circunstâncias favoráveis do meio em que se encontra. Porém, na verdade, é possível afirmar que, o potencial para se tornar um gênio é praticamente intrínseco, "de nascença". 
É evidente que as circunstâncias externas ou do meio podem e costumam ter um papel, mas nenhuma centelha de gênio se acenderia sem que houvesse uma predisposição para a mesma. A própria raridade do gênio é uma evidência indireta de sua natureza primariamente intrínseca.  

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