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terça-feira, 29 de novembro de 2022

A partir do ''timing'' sexual-reprodutivo, o que gera o intinto parental? E uma especulação sobre sua relação com a inteligência

 Eu comentei que todas as espécies sexuadas, incluindo a humana, apresentam um "timing" sexual-reprodutivo em que, quando chegam à maturação biológica, a mesma desencadeia uma grande necessidade de fazer sexo e que tende a resultar, quando consumado, na reprodução ou posterior geração de descendência. Eu disse que, especialmente as espécies não-humanas, não têm conhecimento quanto à causalidade entre o ato sexual e a concepção e/ou procriação, que apenas indivíduos de nossa espécie que podem ter esse conhecimento prévio ou antes da prática do ato, tornando possível desenvolver um ímpeto reprodutivo, um desejo consciente, porém variavelmente impulsivo, de gerar descendência sabendo que a cópula feita de modo "tradicional" tende a resultar na gestação. Então, a partir disso, surge a percepção de que estão ocorrendo mudanças no corpo, especialmente pela fêmea e, dependendo do nível de inteligência de cada espécie, de identificá-la pelo que é. Pois, após o parto, emerge o instinto de cuidar da prole. Só que também depende da espécie, em que algumas serão mais cuidadosas e outras não. Geralmente, o nível de cuidado parental depende da quantidade de descendentes que foi ou é tradicionalmente gerada. Isso significa que, quanto mais potenciais descendentes são gerados por cada gestação, menor o cuidado parental. Claro que é uma regra e é provável que existam exceções. 


Mas quais seriam causas do cuidado parental?? 

Em relação aos seres humanos, a explicação é a nossa inteligência, nossa capacidade de perceber e compreender logicamente, que também varia de indivíduo para indivíduo. Então, o meu palpite para explicá-lo em relação às outras espécies é que, especialmente para a fêmea, a maturação biológica não apenas atiça o seu desejo sexual, mas também um desejo mais instintivo de cuidar de "bebês" ou indivíduos recém-nascidos, ainda mais quando os tem. Geralmente, esse desejo é direcionado para os recém-nascidos da mesma espécie ou grupo social, por proximidade genética. Mas, exemplos de cuidado parental entre espécies diferentes abundam. 

Então, a maturação biológica gera o desejo sexual que resulta na reprodução de descendentes e que, dependendo da espécie, provoca um desejo variável e instintivo de cuidar da prole. 

Como já é conhecido, espécies com maturação mais lenta (seleção ou estratégia K) são mais propensas a gerar menos descendentes e a cuidar mais deles até que atinjam a vida adulta. Já as espécies com maturação mais rápida (seleção ou estratégia R) são mais propensas a gerar muitos descendentes e a não cuidar deles até porque, os que sobrevivem, amadurecem mais cedo (existem exemplos de espécies em que quase todo processo de amadurecimento orgânico acontece durante o período gestacional). No meio natural, observa-se que a seleção R é comum em nichos novos ou vazios, em que é "mais importante" gerar muitos descendentes "visando" o povoamento dos mesmos; que a seleção K é mais comum em nichos já ocupados e, portanto, mais competitivos, em que é "mais importante" gerar menos descendentes e cuidar melhor deles para que cheguem à vida adulta e possam, eles mesmos, se reproduzirem. 

Nós, seres humanos, pertencemos à categoria de espécies com maturação mais lenta, ainda que isso possa variar de indivíduo e grupo. 

Portanto, o instinto parental é determinado pelo tempo programado de maturação de cada espécie e que é refletido, dos progenitores à sua prole, também por proximidade genética, por reconhecimento instintivo de vínculo ou intimidade biológica (uma possível explicação, mais literal, do que esse vínculo ou proximidade se consistiria é a de que, em especial, os progenitores das espécies sexuadas e não-humanas que apresentam um padrão reprodutivo de seleção K "considerariam" ou perceberiam sua prole como uma extensão de si mesmas, daí o maior cuidado, tal como uma auto projeção. Já nos casos de cuidado parental minimamente consciente entre espécies distintas, haveria uma maior generalização dessa extensão ou auto projeção). 

No entanto, eu acho que a melhor explicação para o porquê desses tipos de estratégia é a de que, no caso da seleção R, ambientes novos tendem a ser naturalmente mais inóspitos e, por isso, "selecionam" por constituições orgânicas mais simples, como se representassem um estágio mais primário de trajetória evolutiva tradicional ou diretamente influenciada pelo meio. Já, os ambientes há mais tempo ocupados (geralmente há milhares de anos, no mínimo) apresentam espécies mais evoluídas ou com maior sofisticação quanto ao desenvolvimento e ao comportamento, em que a qualidade da prole é mais importante que a sua quantidade; um estágio mais evoluído, pelo menos nesse sentido de sofisticação.

Inteligência?? 

Pode ser que indivíduos humanos com menor capacidade cognitiva global sejam, em média, mais parecidos com os de espécies não-humanas de maturação rápida, refletido pelo menor tempo de amadurecimento, especialmente o cerebral, e o padrão oposto para os de maior capacidade cognitiva global. Ou que uma menor capacidade cognitiva global, que não é o reflexo de algum processo tacitamente epigenético ou de mutação, seja, por si mesma, uma consequência causal de uma maturação biológica mais rápida. E, novamente, a mesma relação entre uma maior capacidade global e maior tempo de amadurecimento, orgânico, incluindo o cerebral. 

É possível pensar que a existência de uma diversidade moderada de níveis qualitativos e quantitativos de inteligência entre os seres humanos, reflita uma diversidade moderada de níveis individuais de maturação.

*Importante não confundir a tendência de precocidade intelectual entre os academicamente superdotados com a de precocidade comportamental daqueles que tendem a ter "menores" capacidades cognitivas. Pois uma evidência de que não se tratam exatamente do mesmo tipo de precocidade é pela idade com que se iniciam na vida sexual: os comparativamente menos inteligentes bem mais cedo que os mais, pelo menos no cenário atual. Em outras palavras, enquanto que os mais academicamente inteligentes tendem a ser mais intelectualmente avançados em relação à sua faixa etária, os menos academicamente inteligentes tendem a ser mais comportamentalmente precoces, a atingindo seus níveis máximos de maturação mais cedo, isto é, as condições básicas para uma vida adulta "tradicional": a priori,  sobrevivência, competição e procriação (daí uma maior tendência entre eles de começarem a ter filhos na adolescência e/ou de tê-los mesmo sem apresentarem as condições financeiras mais adequadas). 

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