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quinta-feira, 24 de novembro de 2022

O problema de uma explicação "puramente evolutiva" (um adendo para o texto sobre psicologia evolutiva)

 Ou não...


Eu comentei em um texto recente sobre o problema de considerar a inclinação à crença religiosa como um traço evolutivamente superior, apesar de estar predominante na maioria da população humana e se associar com alta fertilidade e longevidade, por se tratar de uma mera correlação forjada especialmente a partir da sedentarização de nossa espécie que resultou no surgimento das civilizações ou sociedades complexas, isto é, socialmente desiguais, em que os indivíduos mais conformistas prosperaram demograficamente nesses ambientes de servidão. Também comentei sobre a natureza claramente irracional da crença religiosa para argumentar que não pode ser considerada um traço ou comportamento intrinsecamente superior, nem mesmo se for relativo a um contexto específico.

Mas existe um argumento favorável à ela, em que é demonstrado que, apesar de ser mais objetivamente prejudicial em termos individuais, tem sido benéfica em termos coletivos, por promover o conformismo e a cooperação dentro das comunidades humanas. Esse é o que eu chamo de "argumento puramente evolutivo", que usa uma explicação lógica e generalista, em que um traço não precisa ser individualmente benéfico para ser evolutivamente benéfico, pelo menos dentro do seu contexto, já que a evolução de uma espécie ou população tende a acontecer em um nível coletivo...

No entanto, não é porque um traço encontra-se correlacionado com traços objetivamente positivos e esteja predominante dentro de uma população, que seja absolutamente superior ou valoroso. Então, além da ideia de que a crença religiosa se consiste em um reflexo da juventude do contexto evolutivo de nossa espécie, tal como eu argumentei no texto anterior sobre psicologia evolutiva, seu predomínio demográfico também pode ser o reflexo do interrompimento de sua trajetória ascendente de aumento da inteligência refletido na cultura, especialmente depois do período pré histórico, enfim, de um desvio de sua evolução mais ideal, em que inevitavelmente a crença religiosa deixaria de ser tão prevalente; passando a ser "benéfica", mas especialmente para as classes dominantes, não por suas qualidades naturais e sim por ser a expressão de uma mente mais controlável ou domesticável. 

Agora, analisando por alto todos esses séculos de domínio cultural das "religiões" organizadas, até hoje, é difícil concluir que seu predomínio tenha sido categoricamente benéfico, mesmo em um nível coletivo, se elas têm sido uma grande pedra no caminho evolutivo humano. Sim, porque primeiro que, evolução não é sempre sinônimo de avanço, em termos de desenvolvimento ou sofisticação adaptativa, se é possível evoluir "para trás" ou ficar parado por muito tempo no mesmo nível... e segundo que, além de se perpetuar em uma maioria de indivíduos intelectualmente 'deficientes", ainda promove para o alto de sua hierarquia, parasitas humanos. 

Como conclusão, ainda é possível dizer que a crença religiosa pode conferir uma vantagem evolutiva, mais em termos coletivos, mas apenas se olharmos por uma perspectiva distante do contexto histórico e social humano, mais "puramente evolucionista", porque quanto mais próximos, mais difícil de sustentar sua defesa, vide seu papel de destaque no subdesenvolvimento humano: social, cultural, intelectual, individual e coletivo, especialmente se a espécie humana tem a sua inteligência, a partir do acúmulo de conhecimentos, como principal estratégia evolutiva...

Lógica primária??

Pois esse também parece ser o caso, de algo que parece lógico, no sentido de adequado ou verdadeiro, mas que deixa de ser a partir de uma análise mais profunda. Então, se faz sentido que um traço predominante e correlacionado com traços 'objetivamente positivos" seja considerado evolutivamente valoroso, pelo menos a um nível coletivo e específico a um contexto, pode deixar de fazer quando se analisa sua influência e o que significa, em termos qualitativamente intrínsecos.

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