Quando sabemos que somos mais distraídos e temos consciência de que precisamos fazer as coisas certo para que a distração não destrua tudo, é onde o perfeccionismo pode surgir...
Não basta ser apenas mais distraído...
Não basta ser apenas mais consciente das próprias ações...
Em partes isso também se dá por causa da constante impressão de ''auto-normalidade'' que tende a monopolizar as mentes mais comuns, fazendo que com reduzam de maneira considerável a ideia de estarem ''fazendo algo de errado'', se já estão adaptadas... nada poderia ''estar errado''... enquanto que para quem já nasce com desafios próprios para se encaixar dentro das ''normas' a criatividade pode brotar também a partir desta assimetria.
Não é a toa que os mais narcisistas costumam ser também dos mais relaxados em relação a si mesmos, de maneira que, a maioria daqueles que identificamos como os mais narcisistas, que estão sempre investindo em novos cortes de cabelo e nos dias de hoje, cirurgias plásticas, NA VERDADE não o são, justamente por demonstrarem grande insegurança em relação às suas próprias aparências. O narcisista mais característico se ama de maneira contorcidamente exagerada acreditando ser o ápice da perfeição.
Pode-se dizer que este tipo de narcisismo [menos característico] e portanto, naturalmente mesclado à insegurança sobre si mesmo, a nada mais seria do que a manifestação dos mesmos fermentos, ainda crus, que produzem o talento [de outras áreas, menos fúteis] e o gênio, pois tem-se aí a conjugação: insegurança ou consciência, mais ou menos factual, dos próprios defeitos + narcisismo parcial, amor próprio e portanto vontade de melhorar. Talentosos e geniais se diferem dos narcisos comuns e potencialmente equivocados exatamente em dois aspectos essenciais: compreensão factual e consciência estética ou ''bom gosto''. Ao saberem melhor sobre si mesmos, mesmo que de modo mais particular, assim como também em relação às suas áreas de fixação, talentosos e geniais serão mais capazes de se melhorarem tanto a nível introspectivo (micro-introspectivo, no caso do talento ao gênio localizado) quanto a nível extrospectivo, se terão melhor e mais objetiva compreensão factual e consciência estética, capturam fatos em suas áreas, melhor e mais preciso/objetivo que os outros, e percebem, mesmo que a nível subconsciente, que os mesmos são regidos pela lógica e a lógica só pode ser trabalhada a partir de leis parcimoniosas de interação, do contrário o caos é o mais provável de acontecer.
Sim, ser distraído e mais auto-consciente é praticamente meio caminho andado para se tornar mais criativo, ao menos o ''little-c'', porque muitas vezes a hiper-perceptividade se manifestará com base ou a partir desta conjugação.
Para saber onde é que se está errando, seja a nível mais específico ou mais generalizado, há de se ter o mínimo de autoconhecimento, como eu já falei em relação ao talento. E como uma hiper-perceptividade tende a relacionar-se com maior distração, distração especialmente aos olhos mais comuns, mas também de uma maneira mais generalizada (por exemplo, o gênio desastrado ou desconjuntado), e porque como há muito mais com o que ser visto, mesmo aquilo que é considerado ''irrelevante'', para os que forem menos perceptivos, então podemos perceber que reside aí uma relação, eu não sei se poderia denominar ''causal'', mas com certeza muito forte e para muitos paradoxal, entre criatividade, distração e perfeccionismo. O perfeccionista típico, talvez, ou o mais atípico, seria portanto aquele que se torna mais atento e potencialmente preciso, e isto se consiste justamente em uma reação progressivamente preventiva quanto à sua própria tendência de distração, um paradoxo. É portanto pela consciência precisa ou proporcionalmente correta dos próprios defeitos, algo, diga-se, que me parece ser muito raro, que se começa a ser perfeccionista, de modo pontual ou generalizado.
Os criativos tendem a ser em sua maioria de distraidamente concentrados. Primeiro aparece a distração provocada por uma hiper perceptividade, que percebe ''tudo'', inclusive ou especialmente aquilo que os outros acham ''irrelevante'', e acaba ganhando o rótulo parcialmente ingrato de ''distraído''. No entanto, quando se percebe que suas tendências distrativas tendem a fazê-los cometer condutas inapropriadas, universalmente características de distração, então haverá um quê de objetividade na ''distração do criativo''. A mente errante do criativo, como eu já falei, na metáfora do poço de petróleo, uma hora irá parar em algum ''lugar'' e começar a ''cavar'', se aprofundar, até ao ponto em que começará a ter insights ou novas possibilidades combinatórias de ideias, teorias 'ou'' hipóteses, pensamentos, enfim... A partir de então se torna mais concentrado, em seu novo ''brinquedo'', em sua nova ''brincadeira''.
Em alguns deles apenas a área de interesse constante que se tornará alvo de aprofundamento enquanto que para outros, em especial se suas áreas de aprofundamento já forem naturalmente mais holísticos, a filosofia por exemplo, esta busca pela perfeição ressoará em muitas outras áreas que estão interligadas ao epicentro [holístico] de maior interesse ou epicentro.
Portanto a consciência estética, da beleza, da simetria, da harmonia, que é basicamente a verdade da existência, inegável que vivamos em sistemas excepcionalmente perfeccionistas, ainda que perfeição não seja o mesmo que eternidade, ao manifestar-se de modo mais específico resultará do talento ao gênio, e neste caso o que diferenciará o talentoso do genial será o nível de obsessão e/ou autenticidade/empatia total em relação ao objeto ou área de interesse, se o gênio seria um entrega total/empatia total ao seu objeto de escrutínio intrinsecamente motivado enquanto que o talento seria uma entrega bem mais parcial, ainda que muito característica em sua ''metade'' de entrega ou de autenticidade.
Ao percebermos que somos mais distraídos podemos ou tenderemos a nos tornar mais atentos ao fazermos as coisas, e esta consciência ou medo de cometer erros tolos a de grande magnitude, pode ter uma relação com o perfeccionismo, no talento e no gênio.
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