Estou acompanhando a série The Last of Us (O último de nós), da HBO, baseada em um jogo de vídeo game de mesmo nome, que se trata de um cenário apocalíptico em que a espécie humana é acometida por uma pandemia de infecção por fungos da espécie cordyceps que parasitam a mente do hospedeiro e o transforma em um zumbi, e que teriam evoluído para nos atacar. Essa espécie existe no meio natural, mas, felizmente, para nós, suas vítimas são insetos e outros artrópodes. Então, depois de ter assistido o primeiro episódio, no outro dia, eu vi um vídeo da National Geographic, pelo YouTube, sobre o mesmo tópico, em que mostra como esse fungo parasita e mata a sua vítima, primeiramente inundando o seu cérebro com substâncias alucinógenas* que a impede de perceber sua presença e, portanto, que se transformou em uma zumbi que obedece apenas às ações do invasor, até o momento em que é devorada e morta por ele.
* Atualização: Eu vi um outro vídeo, mais recente, que mostra um estudo sobre o mecanismo desse tipo de parasitismo e que descobriu que o fungo da espécie cordyceps surpreendentemente não ataca e controla o cérebro da vítima (geralmente uma formiga), mas os seus músculos, sugerindo que ela experimente uma sensação de estar presa em seu próprio corpo a partir dessa infecção (coitada!).
Pois, pelo menos para mim, se tornou inevitável não fazer uma comparação metafórica com a doutrinação ideológica ou cultural que acomete a maioria de nós, humanos, se também se baseia em uma (auto) lavagem cerebral que resulta na adoção de crenças falaciosas ou delirantes, que não correspondem plenamente com a verdade, e que ainda podem fazer muito mal ao indivíduo "infectado" e/ou aos outros indivíduos, justamente por desvirtuá-lo do caminho da verdade ou da sensatez, de fazê-lo acreditar no que não é real. Então, tal como acontece com a zumbificação promovida por essa espécie de fungo, uma doutrinação ideológica ou cultural seria tal como uma substância alucinógena, transmitida pelo elemento invasor, isto é, por aqueles que a criaram ou que mais se beneficiam dela, que infecta a mente e impede que o "infectado" perceba que não está pensando por si mesmo, mas estritamente de acordo com a ideologia que "adotou'. Isto é, ao invés de perceber que o céu está azul, ele precisa que sua ideologia confirme que o céu está azul ou, então, se ela nega essa verdade, ele acredita com convicção, ao invés de observar por si mesmo, de buscar pela imparcialidade dos fatos. Enfim, ele não percebe que foi zumbificado por uma ou mais ideologias, pois acredita que suas crenças sempre expressam verdades incontestáveis e não que muitas se consistem em interpretações distorcidas dos fatos.
Dois exemplos de "zumbificação", a crença na igualdade absoluta dos seres humanos ou na tábula rasa, de que a maioria de nós nasce exatamente com os mesmos potenciais e que apenas as condições do meio que influenciam nos nossos desenvolvimentos e comportamentos, e a crença religiosa, de que existe Deus e vida após à morte. A primeira crença pode transformar seu portador em uma presa fácil a predadores e parasitas humanos. Já a segunda pode fazê-lo postergar viver a vida todos os dias, com mais entusiasmo e intensidade, pois o faz acreditar que haverá uma continuidade eterna da mesma após à morte e que deve ser obediente ao seu "criador".
* Lembrando que uma doutrinação sobre certa ideologia ou cultura não é o mesmo que educação, se a primeira é mais como um fanatismo ou uma adoção radicalmente acrítica de um sistema de crenças e práticas e a segunda é a sua compreensão mais imparcial possível (imparcial não é o mesmo que neutro/a).
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