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quarta-feira, 25 de maio de 2016
Sê homem sê mulher
Sempre gostei-me homem, meus pelos, na face ou nas coxas, meu rijo, minha glande, meu papo,
Mas sonho-me mulher, não a mim, não neste corpo,
Mas como uma segunda alma, e talvez, a tenha,
por confundir-me no olhar,
Por agir como os dois,
Por viver à sabedoria,
Nesta unicidade,
De vê-la mãe, um fetiche, uma amiga,
a irmã que nunca tive,
a menina que meus pais esperaram,
Vivo-a, sou-a,
Me amo homem,
Prático, ainda que fraco,
ou será preguiçoso?
Objetivo, holístico, macho
filósofo,
Vagabundo,
um tolo,
um mutualismo escancarado de honesto,
Mas me gosto mais
Sendo também a mulher que vive em mim
Sempre este caminho cruzado
Sempre esta dualidade na qual eu nasci
Se espelho, ou se ao menos,
Desejo,
espelhar-me perfeitamente
minimalista, e pintar
em minha mente
as poucas verdades solenes,
que acumulo em minhas mãos brancas e delicadas,
e também meio peludas,
Posso brincar com a vida
enquanto a levo bem a sério
Vivo nesta dimensão de verdades
Onde as coisas são aquilo que são
E nada mais
Eu sou a Alice que voltou de seu sonho
Cresceu e viveu a sua vida
Enquanto que
Bons rincões da nação humanidade
Permanecem neste transe
E a enganarem
Por certos olhos hipnóticos
Por orelhas grandes e neuróticas
Por pensarem em suas fantasias como em suas realidades
Mesmo o mais pragmático
Pois ser bruto não é ser de fato
um realista
Talvez
Reconhecer-se homem e mulher
Sem se decidir por um deles
E aceitar-se como veio
Seja um bom caminho
Para acordar deste pesadelo
florido e daninho
Vacilante
sempre eu
Sempre na origem
No início
De uma escolha
Eu escolhi não escolher
Sê homem ou mulher
Eu sou os dois e lhes devoto consciência
fantasiando mais como uma fêmea
Vivendo mais este resto de masculinidade
que sobrou em mim
Entendendo o certo
O objetivo homem
A suavidade mulher
Se não parecem ser sempre assim
Então que sejam
O homem penetrante
A mulher que se abre
Para que esta falange
possa lhe conquistar
Mulheres de todos os tipos
E homens também
No final
Naquilo que se reduzem inescapáveis
São os seus sexos, flores, insetos, pássaros e pólen
Orgulho-me por meu belo e singelo
Faz-me sentir homem como eu sou
Faz-me mais adentro de meu corpo
Que passo então
A procura-lo em outros
Para então me completar
O orgulho meu
Dos defeitos e dos traços eleitos
Ao corpo ou a alma d'outro
Para amar
Prefiro as mulheres para imaginar
Pois em realidade são os homens que estão a protagonizar
E atuam mau
os espertos a manipular
os fortes a impor a sua torpeza
desde cedo
mostram-se lobos
o mundo ''dos'' homens
é o mais lógico
mas também o mais tolo
por enquanto nada se desvencilha
desta maldita dualidade
de seu ismo
deste tal binarismo
não importam roupas, casas ou eletricidade
a modernidade não nos elevou
à condição de humanos de verdade
mantemo-nos num estado arcaico
desde a alvorada da ''civilização''
sê homem ou mulher,
homens preferem ser homens,
e quando pensam em sê-las
o fazem errado,
tomam os seus defeitos
como se fossem as suas totalidades
e quando pensam em sê-los,
as mulheres deixam de lado
as suas vantagens,
as suas qualidades,
sê homem ou mulher,
alguns sábios sabem como fazer,
ou melhor,
se nasceram assim,
não tem escapatória,
basta o mergulhar profundo dentro de si,
eu me entendo muito bem,
e gosto de ambos a se amarem dentro de mim,
fazendo-me outro,
de um quase terceiro sexo,
sempre a um caminho
e nunca em uma estupidez,
em um beco sem saída,
condição rara e anti-natural,
mas espontânea, real,
sabendo diferenciar este mundo
do imaginado,
tomando a fantasia pelas rédeas,
que mais parece um cavalo selvagem
para iniciantes e tortos normais,
cavalgando forte,
varando planícies a perder de vista,
e de tanto imaginar,
vi-me como o princípio
da forma,
da vida,
que os deuses separaram os sexos,
em mim,
um pseudo-hermafrodita,
eles os mantiveram,
anexos,
a confabular jatos de sabedoria,
a confiar em seus passos,
se são dois pares a realizá-los,
se um é pouco,
dois é bom,
e bom é excelente para os sábios,
pois o bom é o começo da ponderação,
demais parece de mais,
se sou a síntese de mim mesmo,
sou o fim de uma procura,
sou o ser humano terminado,
e tomo para o meu total, os totais ao lado,
a me tomarem por igual,
nesta relação entre ser e cenário,
eu estou sempre tentando o perfeito,
difícil,
pois muitos outros o odeiam,
querem justificar a própria estupidez,
culpando a condição humana,
querem jogar a culpa n'outros,
menos pra si mesmos,
Sê homem ou mulher,
quando se é apenas um deles,
só se pode buscá-lo,
mal feito ou remediado,
naquele que o complementa,
explica um pouco a autossuficiência
que o sábio possui,
que o faz vacilar por famílias e doces providências
do matrimônio mundano,
véus brancos,
promessas vãs,
tudo sempre vazio de significado para os normais,
não sei como vivem,
são domésticos,
mas também são irracionais,
vivem soltos por aí,
sem pensar em suas atitudes,
pensam sempre pobre, tendencioso,
e quando começam a pensar errado desde o início,
terminam pensando ainda mais torto,
e rezam por suas sortes,
de serem preciosos demais
e ao mesmo tempo desprezíveis
para os seus senhores porcos,
sê ator,
a vida social é assim,
eu sou tido como na borda,
de um precipício que chamam loucura,
mas eu sou apenas eu,
sem papeis ou lágrimas de cristais,
sem falas para decorar,
se gaguejo,
se tropeço,
se prevejo,
se falo o que não devo,
é por ser um péssimo ator,
e um excelente indivíduo,
são em sua compreensão,
acordando para a própria alvorada,
para o próprio sol,
sem com isso
atomizar-se do exterior,
se precisa dele,
para sentir-se,
precisa do ambiente,
para ser,
e precisa ser ciente,
de toda a dualidade que onisciente,
que é.
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