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segunda-feira, 23 de maio de 2016
Eu gostaria de ter apenas um rosto...
Siameses de alma
... algumas vezes
Mas não tenho
Pois ele é intermitente
são eles, na verdade
Meu nariz adquire outras feições
Alguns podem vê-lo comum
Outros podem vê-lo grande, torto e feio
Com barba eu olho diferente
do que quando estou com o meu rosto "limpo" e portanto anti natural, sem meus pelos negros,
a me dotar de masculina,
minha face jovial
Alguns me acham atraente
Outros me vêem desagradável
Estou sempre tentando me recompor
Meu rosto é avermelhado e descasca com alguma frequência
Quando era muito nervoso
eu me odiava
Me escondia
E descamava ainda mais
Já sei que é emocional
Ia ao espelho com frequência
Me limpava
Mas a sujeira não brotava da pele
Pois se originava na alma
Não é que eu era sujo de ruim
Mas que eu me via assim
De ser ruim em qualidade biológica
e estava certo
Vacilante até nisso
Dividido entre um narciso antigo
Um orgulho natural que sempre me acompanhou
E um outro eu, corcunda,
de corpo falho, pálido,
mais do que realista, um implicante
Até na pele eu vacilo de me entender
Não é que não me entenda
Veja bem
É que eu sou complicado mesmo
Nem sou tão "branco" nem tão moreno
Estou sempre em uma encruzilhada
E por isso eu sempre escolho dois caminhos
Se não tenho nenhum
Prostro-me a me olhar
Sobrou-me apenas a mim
Eu entendo de dualidade
Esta realidade de diferenças, de contrastes
Porque eu me entendo
Projetamos defeitos e qualidades pessoais
E a partir disso criamos nossas realidades
A minha
Talvez ainda uma ilusão porém que é reconfortante
Se encaixa perfeitamente neste mundo,
logicamente desigual, diferente, inter-independente,
que existe separado mas que não pode deixar de estar junto
de no final, ser tudo igual em essência,
no mesmo mundo
Eu sou dois em um
Todos são
Mas em alguns
Tal realidade aflora à superfície
toma conta
e faz dele
o espelho da verdade
ou se não tiver sorte
o próprio empregado do diabo
de sua própria desgraça
Eu tenho dois perfis
Dois narizes que me mostram aos outros
Um parece maior , carnudo...
Parece que o meu rosto revela duas pessoas,
duas faces sobrepostas
Dependendo, eu estou olhando mais europeu ou mais mestiço
Eu sou a minha encruzilhada
não tem jeito
E por isso que posso ver dois mundos
Enquanto que a maioria
não parece suportar mais do que um
lhes bastam saber pela metade
Isso pode me fazer sábio
Ou contribuir para este fim
Mas também me faz devasso
Eu gostaria de ter um rosto só,
mas se tivesse,
não seria a mim
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