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sábado, 3 de dezembro de 2022

A pobreza causa a crença religiosa e a riqueza a descrença? Correlação interseccional ou causalidade?

 É certo que existe uma correlação positiva entre nível de escolaridade e descrença religiosa (ateísmo e agnosticismo) em que, quanto maior esse nível, maior a propensão a não acreditar em deus, vida eterna... e o oposto para o nível mais baixo. Também existe uma correlação entre renda e crença religiosa em que, novamente, maior a renda, menor a propensão ao fanatismo religioso. Lembrando que, escolaridade e renda também se relacionam. Ainda assim, são correlações e, portanto, não significa necessariamente que uma coisa esteja causando a outra, de que a pobreza, por si mesma, aumente a propensão à crença religiosa ou que a riqueza aumente a propensão ao ateísmo//agnosticismo. Também não significa que não existam ricos religiosos e pobres ateus ou agnósticos, ou religiosos com doutorado e descrentes com apenas o ensino fundamental. O que acontece é que tendem a ser menos comuns, especialmente em termos relativos, se em termos absolutos existem mais religiosos: fundamentalistas, moderados, sem filiação fixa ou oficial e outros tipos (espiritualistas), que descrentes. Mas também depende. Por exemplo, a correlação entre fervor religioso e baixo nível de escolaridade parece ser maior que entre ateísmo e renda alta. De qualquer maneira, apesar de ser um pensamento comum entre ateus e agnósticos, eu não acredito que a condição social de uma pessoa, por si mesma, aumenta ou diminui sua propensão à crença ou descrença religiosa. Eu acredito que pode ser um fator, mas que não é o único e nem o mais importante, porque o que mais importa é a própria propensão, resultado de uma combinação primária de traços intrínsecos de personalidade e cognição (incluindo uma tendência para baixa capacidade racional) que pode se manifestar para um lado ou outro desse espectro, e independente do contexto. 


O que temos, na verdade, é uma correlação entre pobreza e baixa escolaridade que também se correlacionam com médias baixas de capacidades cognitivas e que se correlacionam com baixa capacidade racional. O padrão relativamente oposto para os que estão nos extratos sociais mais altos. Dessas correlações, as que mais se relacionam com o ateísmo, inclusive uma que tem uma relação praticamente causal (a última) são: alta escolaridade, altas capacidades cognitivas e de racionalidade. É até possível especular se aqueles com maior renda, porém com capacidade cognitiva global mais baixa que a média do seu grupo social, sejam mais propensos a serem de religiosos e até de fundamentalistas. E se aqueles que pertencem às classes trabalhadoras, mas com capacidade cognitiva global mais alta, sejam mais propensos a serem de religiosos moderados, ou não-praticantes, a descrentes. 

Pois quando buscamos por essas correlações por continente e país, enquanto é possível traçarmos uma clara relação entre renda per capita e proporção de ateus e agnósticos, dentro de cada país essa relação se torna mais complexa, inclusive com exceções interessantes. Por exemplo, a Alemanha, em que as regiões com mais indivíduos sem filiação religiosa, incluindo ateus e agnósticos, outrora partes da ex Alemanha Oriental, apresentam os piores indicadores socioeconômicos do país, enquanto que as regiões católicas do sul apresentam os melhores indicadores. Mas também é notório que as maiores cidades do país que são, sem dúvidas, as mais ricas, tenham uma maior proporção de ateus e agnósticos do que cidades de menor porte. De qualquer maneira, as correlações mais fortes com a descrença religiosa continuam sendo: o nível de escolaridade, de capacidades cognitivas e de racionalidade (esta última praticamente uma relação causal). 

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