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terça-feira, 18 de abril de 2023

Uma certa praga...

(É sempre MUITO desgostoso, para mim, criticar as esquerdas, assim, tão abertamente, mas algum progressista precisa se oferecer ao sacrifício, de agir como o "advogado do diabo", de arriscar perder amigos ou ganhar inimigos, de dizer o que precisa ser dito, discutido e, se possível, começar a ser corrigido ou melhorado. Pois se você se identificou com todos os traços ou tiques, está no seu direito de sentir-se ofendido. Mas espero que esse texto abra a sua mente. Aliás, eu também posso me considerar como um da espécie se é quase impossível não entrar em contradição, frequentemente, entre o que se fala e o que se pratica, sendo um progressista inserido dentro de um contexto de hegemonia capitalista).  


A praga dos "alecrins dourados"


Eles não acreditam que existe o certo e o errado. Mas têm certeza que estão mais certos que os outros.

Eles afirmam que a verdade é apenas subjetiva e a moralidade apenas relativa. Mas querem impor as suas. 

Eles dizem que defendem a ciência. Mas não acreditam em objetividade e até a acusam de ser "ocidental" e "positivista".

Eles pensam que são os que mais entendem sobre filosofia. Mas a trocam por discursos fáceis e bonitos, como fazem os sofistas.

Acusam os outros de serem irracionais. Mas, com frequência, usam falácias lógicas em seus argumentos, e têm dificuldade para distinguir pseudo ciência da verdadeira, ideologia/política de teoria científica. 

Dizem que são contra as desigualdades, mas fazem pouco ou nada para combatê-las dentro de suas esferas pessoais, mesmo ou especialmente quando têm recursos para alcançar esse objetivo.

Se dizem a favor do meio ambiente, mas muitos são consumistas natos, ao invés de adotarem o minimalismo.

Dizem que são contra preconceitos, mas estão sempre praticando os seus. 

Dizem que são anti racistas, que raças humanas não existem. Mas vêem raça em tudo; odeiam brancos e amam pretos.

Se dizem críticos do capitalismo, mas têm muitos que adoram dinheiro.

Acusam os outros de adorarem mitos, mas eles também têm os seus ídolos intocáveis e "perfeitos".

Acreditam que basta apoiar certos partidos e/ou votar em certos políticos, nas próximas eleições.

Suas empatias se limitam mais à pregação do que às suas ações.

Se dizem a favor do respeito e da tolerância, mas são muito intolerantes com quem pensa diferente, mesmo se a discordância não for significativa.

Dizem que são a favor da democracia, mas não sabem lidar com opiniões destoantes. 

Dizem que uma opinião é apenas uma opinião. Mas então... sempre tem uma contradição adiante.

Dizem que estão cheios de incertezas. Mas estão sempre falando sobre suas certezas absolutas.

Dizem que a arte é subjetiva, mas estão sempre querendo impor suas preferências. 

Lhes parece impossível evitar a hipocrisia, se parece que lutam contra a coerência. Mas, absolutamente, não são os únicos.

Se pensam acima do bem e do mal. 

Confundem o neutro com o imparcial, o complexo com o confuso. 

Reduzem a complexidade de um contexto a uma lista de adjetivos ofensivos.

São alecrins dourados ou papagaios??

Ingênuos como Pippa Bacca ou espertos como certos milionários?? 

Refletem sem refletir. Julgam sem saber. Criticam os outros e pouco a si mesmos. Falam mais do que sabem e mais sobre o que distorcem. Afinal, o que querem ou por quê??

Vaidade? Conformismo? Baixa autoconsciência? Comunismo??

Um pouco de tudo, de tudo um pouco.


Eu acredito que a maioria realmente deseja um mundo melhor, que suas boas intenções são genuínas. Mas disto, o inferno está sempre cheio. Não bastam discursos vazios ou sentimentos puros, sem o bom senso da sabedoria. Não adianta serem moderados sem ter ponderação, se é mais um extremismo ideológico, mais um exemplo de doutrinação, e não de educação legítima.

Poderiam ser mais um grupo marginalizado, porém ousado e opinativo. Mas, muito pelo contrário, eles já estão em todo lugar. Nas aulas de filosofia, de história e geografia, de biologia, nas universidades, nos mundos artístico e político, na sua sala de estar. Já derreteram as esquerdas por dentro. Agora, acreditam que seu raciocínio é exemplar. Mas não adianta, é preciso aceitar que não estamos certos sobre tudo. Não adianta acertarmos o diagnóstico e errarmos no tratamento. Não adianta identificar a doença e se limitar aos sintomas, ou pior, aplicando remédios que pioram o quadro ao invés de abrandar. Não adianta acertar na essência e quanto ao resto se equivocar. Porque não adianta acertar apenas a metade ou adulterar fatos inconvenientes. Eles só desaparecerão de suas mentes. Não tem como lutar pela justiça, se agarrando à mentiras supostamente empáticas.  Mas as esquerdas têm ido longe demais. Tão longe que abriram espaço para o avanço da extrema direita, enquanto discutem sobre o sexo dos anjos em cima de nuvens abstratas. Ter um exército de alecrins dourados, sempre prontos para censurar ao invés de educar, para escutar e aprender e não apenas para ensinar, e praticar; para xingar ao invés de sempre tentar o diálogo, só ajuda os inimigos da verdadeira justiça social. Mas essa praga já se tornou uma epidemia mundial. 

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