... e mais um provável exemplo do quão limítrofe à (sua própria) ciência a psicologia tende a estar:
(Metade artigo, metade crônica)
''O narcisismo vulnerável é --- amplamente --- definido em termos de hipersensibilidade à rejeição, afetividade negativa e isolamento social, mas também desconfiança dos outros e aumento dos níveis de raiva e hostilidade.''
...
''As pessoas com gelotofobia tendem a interpretar 'erroneamente" o riso como malicioso, o que desencadeia emoções de desconfiança e retraimento social.
A gelotofilia é o oposto da gelotofobia, a alegria de ser ridicularizado (????). É um sinal de apreço, conexão social e humor compartilhado (???).
Katagelasticismo refere-se à alegria de rir dos outros. Esses indivíduos obtêm imenso prazer em zombar das pessoas.
Para entender melhor a vida interior de um narcisista vulnerável (sic!), os pesquisadores recrutaram mais de 400 estudantes de graduação para preencher questionários medindo seus níveis de narcisismo vulnerável, bem como sua visão sobre situações envolvendo risos e provocações. Experiências de gelotofobia, gelotofilia e catagelasticismo foram exploradas em 'profundidade'. Eles descobriram que as pessoas com pontuação mais alta na medida do narcisismo vulnerável eram mais propensas a temer ser ridicularizadas e eram mais propensas a gostar de rir dos outros. Não surpreendentemente, a gelotofilia não estava relacionada ao narcisismo vulnerável. Simplificando, os narcisistas vulneráveis vivem com medo de serem ridicularizados e se divertem rindo dos outros.''
"Gelotofilia".....
Eu já comentei que, com alguma frequência, costumo sofrer hostilidades por pessoas que nunca vi na vida, em momentos aleatórios, especialmente quando estou na rua (sem falar das que me "conhecem'). Isso não acontece de agora, mas desde há um bom tempo. Pois eu tenho concluído que, em média, as pessoas no Brasil não costumam ser educadas, realmente simpáticas e empáticas, umas com as outras. Ainda mais se forem com tipos como eu, pertencente a uma minoria sexual e com idiossincrasias mentais. Como resultado, a partir desse histórico, frequência e expectativa de diferenças e atritos, eu acabei desenvolvendo estratégias intuitivas e preventivas de autodefesa, particularmente pelo isolamento social parcial e/ou busca por uma maior seletividade no convívio e também uma maior sensibilidade por antecipação à hostilidade potencial.
Mas, de acordo com esse link acima, da Psychology Today, nada disso importa porque, segundo ele, eu devo ser basicamente um "narcisista vulnerável" por apresentar a maioria dos "sintomas" relacionados a essa suposta condição. Por exemplo, quando eu vou à rua e me deparo com pessoas rindo, especialmente se forem adolescentes e se estiverem rindo alto, eu tendo a ficar receoso de que estejam rindo e debochando de mim ou de que possam "me pegar pra Cristo". Pois mesmo que essa reação ou interpretação não seja a mais adequada, ainda não dá para dizer que eu seja um "narcisista vulnerável", também pelo meu histórico e atualidade de atritos não-provocados em minhas interações. Como eu já comentei em outros textos, sobre esse tópico, não dá para concluir que minhas reações sejam absolutamente ilógicas, no sentido de patológicas. E eu não acredito que seja um 'caso' isolado.
Outro suposto sintoma de um narcisista (vulnerável) seria uma tendência para ter pensamentos depreciativos em relação à outras pessoas, que pode ser diagnosticado como sintoma de auto-grandeza. Por exemplo, o que eu tenho concluído, que a maioria dos seres humanos está mais para irracional do que racional... isto é, mais propensos a endossar seus próprios preconceitos e fanatismos do que aprender a sempre buscar pela verdade objetiva e imparcial.
Mas, primeiramente, existe alguma inverdade nessa conclusão??
Segundo que, se não é um exagero ou mentira, e mesmo se fosse, ainda não seria possível me classificar como narcisista apenas por esse comportamento específico, porque ter uma opinião mais negativa, pessimista ou... realista sobre a "humanidade" não nos torna imediatamente mais narcisistas.
Outro detalhe é que, é possível tecer opiniões não muito simpáticas sobre as pessoas, de maneira geral ou, em média, sem ter que se colocar como absolutamente superior a elas...
Então, o principal achado nesse estudo foi de que "narcisistas vulneráveis estão mais propensos a ter medo de serem ridicularizados, mas que, por outro lado, também gostam de rir dos outros".
Mas me digam uma coisa. Por acaso a maioria dos seres humanos não é mais ou menos assim???
A maioria dos seres humanos, então, seriam de ''narcisistas vulneráveis''??
Essa é uma análise que não leva em consideração as nuances existentes nas interações sociais, tal como eu exemplifiquei, por mim mesmo, por se basear apenas na perspectiva de um observador "neutro", desprezando as perspectivas dos indivíduos em destaque, suas motivações para agir assim, seus contextos individuais...
Sim. Tal como a grande maioria dos seres humanos, eu acho graça quando um ser humano age de uma maneira que eu considero engraçada ou ridícula. Mas não significa que esteja sempre buscando por situações ridículas praticadas por outros para rir deles ou que sempre sinta um prazer sádico nisso ...
Sim. Tal como a maioria dos de nossa espécie, eu definitivamente não gosto de ser ou sentir que estou sendo ridicularizado, ainda mais se for por pessoas que nunca vi na vida ou que percebo uma maior animosidade irracional para comigo. E isso não me faz um narcisista, alguém que está muito autocentrado (quem me dera, eu "sofreria" menos).
"Narcisistas vulneráveis têm 'hipersensibilidade' à rejeição, afetividade negativa e isolamento social"
Primeiro e, novamente, quem é que não tem medo de rejeição???
A maioria dos seres humanos tem, ainda mais se for por aqueles que mais prezam.
Quem é que gosta de sofrer hostilidades?? Quem é que curte um isolamento social involuntário??
A maioria com certeza não.
Segundo, o uso de uma palavra superlativa "hipersensibilidade".
Mas isso depende do contexto...
Novamente a tendência da psicologia de desprezar a diversidade de situações individuais que torna mais complexo fixar um diagnóstico para um tipo específico de reação. Eu até poderia concluir que, muitos diagnósticos potenciais ou oficiais de transtornos de personalidade são, na verdade, fenótipos de adaptação a contextos de hostilidade.
Adaptação, aqui, em seu potencial múltiplo, sem determinar qual seria a mais adequada ou ideal.
Pois se para um "observador neutro" pode parecer uma sensibilidade extrema ou exagerada, pode fazer total sentido para aquele que tende a expressá-la mais. Eu, por exemplo, que sinto uma facilidade para me apegar às pessoas por ter uma mentalidade essencialista: existencialista, mais lógica ou sistematicamente coerente e simples, mas também por notar que a maioria delas (principalmente com as que tenho convivido ou que já passaram na minha vida) tem uma mentalidade oposta à minha e isso me causar uma grande inadequação já que não consigo compreender por que ou como podem ser tão frias//convenientes, segundo a minha perspectiva...
Ou será que tudo isso não passa de "narcisismo vulnerável"???
"A gelotofilia é o oposto da gelotofobia, a alegria de ser ridicularizado. É um sinal de apreço, conexão social e humor compartilhado"
Me pergunto quem são essas pessoas que realmente gostam de ser, de fato, ridicularizadas, no sentido mais puro e, portanto, problemático dessa ação??
Eu até consigo aceitar que alguém que é muito íntimo possa rir de mim e comigo. Mas mesmo se não aceitasse, isso ainda não seria sinal de narcisismo e/ou de "vulnerabilidade".
Então o que seria??
De um apreço mais arraigado ao respeito nas interações??
2. "A pessoa hipersensível, altamente sintonizada com os estímulos externos, pode se convencer de sua própria superioridade sobre os outros.
...
Novas pesquisas estabelecem a constelação de traços que conectam a hipersensibilidade como um traço geral à forma vulnerável de narcisismo.''
Também tem um outro artigo no mesmo site que afirma que, pessoas altamente sensíveis, às quais eu sinto me encaixar, estão mais propensas a ser de narcisistas vulneráveis. Então, novamente, temos o básico problema de confundir uma autoconsciência mais expressiva com um auto-centrismo exagerado ou narcisista.
(Não que um indivíduo altamente sensível não possa ser ou se tornar narcisista, mas que a própria condição esteja diretamente relacionada, tal como um agente causador desse suposto tipo de narcisismo).
Eu separei esse trecho para mais uma vez mostrar que, o que está sendo definido como patológico e particular a um grupo, na verdade, parece ser comum: de se sentir superior aos outros em relação a, pelo menos, uma característica, se de maneira declarada ou não, se por uma conclusão mais precisa ou não ...
Agora, isso virou um pecado ou sinal inequívoco de narcisismo??
Bem, então, a grande maioria das pessoas são narcisistas (na verdade, é possível dizer que a maioria seja, de um tipo mais moderado ou não-maligno, especialmente nos dias atuais, deste início de século XXI, em que o individualismo se tornou a regra em muitos países).
Psicologia: uma fábrica de rótulos inúteis??
Eu sei que certas categorizações psiquiátricas, como transtorno bipolar e esquizofrenia, são reais e totalmente necessárias. Mas, especialmente em relação aos transtornos de personalidade, parece que tem havido uma constante invenção de termos ou rótulos sem real correspondência com a realidade ou que buscam, de maneira pedante, destacar uma perspectiva tão estreita que, em termos mais pragmáticos ou práticos, não valeria a pena fazê-lo. Esse pode ser o caso do narcisismo vulnerável bem como dos outros termos no trecho selecionado: gelotofilia, gelotofobia e katagelasticismo.... termos equivocados ou inúteis que não farão nenhuma falta se caírem em completo desuso ou se jamais forem usados com frequência.
Voltando à preocupação excessiva com as opiniões das outras pessoas, esse é um traço característico à timidez. Porque não faz sentido que um verdadeiro narcisista dê tanta atenção à opinião alheia se o que mais define o narcisismo é justamente um excesso de atenção à própria opinião, especialmente sobre si mesmo.
Pois se eu fosse realmente narcisista, eu não me preocuparia tanto assim com a opinião alheia já que estaria muito ocupado comigo mesmo, com a minha própria opinião sobre mim mesmo, e que nesses casos costumam ser exageradamente positivas.
Talvez o maior problema nesse primeiro estudo seja a confusão que está fazendo entre uma necessidade de agradar com uma de ser admirado, a primeira, típica de pessoas mais tímidas e a segunda de narcisistas.
É verdade que um narcisista típico costuma sentir uma grande necessidade de ser admirado pelos outros, mas essa necessidade nunca é maior que a sua própria auto-admiração, excessiva e distorcida. Ele, geralmente, busca a admiração alheia apenas para confirmar o que sente sobre si mesmo, além de dar atenção ou selecionar apenas as opiniões positivas. Já uma pessoa que tem uma grande sensibilidade à opinião alheia geralmente ou, é porque não tem uma autoestima elevada e, como resultado, é pouco provável que seja mais narcisista que a média. Ela está mais preocupada em agradar os outros mesmo que reconheça sua auto negligência e dificuldade de mudar de atitude, do que desejar ou procurar que os outros a agradem, especialmente por elogios, tal como os típicos narcisistas tendem a fazer.
Na minha opinião, a única possibilidade de existência para o narcisismo vulnerável, com base no que foi comentado é se, ao invés do narcisismo, outro termo, mais condizente, fosse adotado, por exemplo, o de "ego bipolar" ou "instável". Faz mais sentido do que categorizar um indivíduo com autoestima baixa ou volúvel, muito sensível à opinião alheia, como um tipo de narcisista..
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