Vamos imaginar que você, desde que começou a frequentar a escola, demonstra talento nos aspectos verbais: em interpretação de texto, conhecimento e tamanho do vocabulário, etc. Então a sua vida passa e aos 45 anos do segundo tempo você é chamado para fazer uma bateria de testes cognitivos patrocinada pela universidade federal da sua cidade. Você faz os testes e os resultados são entregues em sua casa por correio. Surpresa!!! Você foi bem nos testes que analisam mais a inteligência, oops, cognição verbal.
Mais pareceu um teste de re-confirmação em relação àquilo que você sempre foi acima da média. Também poderíamos comparar ou melhor confirmar as suas habilidades como motorista em um típico teste para tirar carteira só que depois de você já ter rodado muitas estradas, enfim, de já ter passado a vida pilotando carros. Mais parece um teste de (re)confirmação.
Será que ''eu sou bom" naquilo que eu sempre fui bom??
Apenas os testes cognitivos aplicados em crianças pequenas, de leite, se existirem, que poderiam ser considerados como menos "auto-confirmativos".
No entanto também pode-se ser muito bom em alguns sub-aspectos do que nos mais gerais. Por exemplo, pode-se ser muito bom em analogias verbais mas não exatamente no todo da inteligência, oops, cognição verbal e os resultados gerais esconderem esta discrepância.
No mais é isso. Sabe aquele teste maroto de personalidade que você faz na internet pra saber se você é introvertido, mas já sabendo disso**
É mais ou menos a mesma coisa no caso dos testes cognitivos, especialmente se você já tiver desenvolvido um bom autoconhecimento.
E o valor acultural/"objetivo' dos testes??
Não reconhecemos padrões sem a presença da cultura, seja a sua parte mais técnica ou interpessoal, porque somos produtos dela. Portanto a ideia de que testes aculturais sejam melhores para analisar as nossas capacidades cognitivas parece partir do pressuposto que as mesmas não são produtos do ambiente cultural em que estamos e de uma maneira ou de outra isso não é verdade. Se nascidos em uma cultura em que alguns aspectos da cognição espacial tem sido fundamentais para a sobrevivência, é muito provável que, como produtos desta interação seletiva bio-ambiental, estável e/ou de longo prazo, expressaremos ou refletiremos essa dinâmica da qual descendemos, mesmo os aspectos mais recônditos da cultura (reconhecimento de padrões), supostamente falando, também serão afetados, pelo simples fato de que as nossas capacidades intelectuais, psico-cognitivas, são tendenciosamente selecionadas em conjunto.
Como conclusão os testes cognitivos e/ou de QI não são totalmente inúteis ou excessivos, pelo contrário pois apresentam boa capacidade de mensuração, comparação e reflectância de parte até importante de nossas capacidades COGNITIVAS, sem falar que também servem para forjar rankings. No entanto, o desempenho escolar também tem um bom poder preditivo e analítico quanto às capacidades COGNITIVAS, de maneira que, sim, os testes podem ser conclusivamente determinados como parcialmente frívolos. Sem falar que uma ótima psico-entrevista ou psicanálise também pode ser muito útil na avaliação e não apenas das capacidades cognitivas.
E novamente, somos produtos de interações bio-ambientais e que, especialmente no caso humano, ocorrerá por vias culturais. Em outras palavras, somos produtos bio-culturais [resultados de pressões seletivas diferenciadas/ou nem tanto, causadas por essas interações], e ''mesmo'' as nossas capacidades cognitivas, também serão produtos invariavelmente reflexíveis dos ambientes culturais em que nossos antepassados tem sobre-vivido.
QI, de acordo com as normas ocidentais, também é um produto cultural, e mesmo o reconhecimento de padrões mais cru ou destituído de influência cultural, também pode ser considerado como produto cultural [pré-histórico/evolucionário], se o ser humano reconhece padrões de maneira diferenciada das outras espécies, especialmente por causa de seu maior equilíbrio sensorial, que reverbera em sua capacidade perceptiva. [OU NÃO]
Nenhum comentário:
Postar um comentário