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quinta-feira, 6 de abril de 2017

Tempos ruins fazem homens fortes que constroem a civilização... Tempos bons fazem homens fracos que destroem a civilização... Parece óbvio mas será??

Tempos ruins, mas por que??

Nunca se viveu tanto no ocidente. Nunca o conforto material foi tão grande. Não apenas no epicentro ocidental mas nas periferias do mundo geopolítico o padrão de vida tem dado saltos vertiginosos, nunca antes acontecido. Chegamos a um ponto em que gordas franjas das populações em um número crescente de países estão em plenas condições de prover para a maioria dos seus filhos uma "educação acadêmica". Se o padrão de vida melhora é improvável que a qualidade de vida também não melhorará ainda que tenhamos de ter em mente as diferenças mútuas entre eles

Os tempos bons se consistem em uma acumulação e prática de ideias, teorias e hipóteses [comprovadas ... ou não] de muitas mentes brilhantes de diferentes épocas, desde a eletricidade até alguns pensamentos filosóficos que tem predominado. O fim da supremacia religiosa ou do absolutismo monárquico, pelo menos até agora, também podem ser colocados nessa soma de bem feitorias que tem sido acumuladas. Por outro lado, supostamente, os homens tem se tornado demasiado domesticados, "emasculados",  e tudo aquilo que "a civilização tem conquistado" está sendo ameaçado por essa frouxidão...causada... pelo conforto maximizado.

Mas será??

Existem muitos fatores que não estão sendo levados em conta antes de, de fato, concordarmos com o aforismo do título, de maneira que, ao menos na minha opinião, não se deve culpar o aumento do conforto, que diga-se, desde os primórdios da civilização, já devia ter sido democratizado, como o único responsável pela suposta frouxidão masculina atual. As civilizações começam muito desiguais e pouco antes de sua era dourada de auge, a decadência começa. Dizem alguns que,  cabeça "vazia", oficina do diabo. Mas será mesmo?

O perigo dos eufemismos é que eles geralmente são usados para dar beleza poética e pretensa precisão factual mesmo com as suas poucas, belas e simples palavras. O aforismo acima é um exemplo disso.

Ele nos deixa a entender que a dureza faz "o homem" mais forte, que o conforto tem o efeito oposto e que portanto a dureza é mais desejável que o conforto. 

Partes dessa conclusão fazem sentido lógico, no entanto, novamente, será que "sacrifícios" (eufemismo para algo pior) são sempre necessários??

Sem a exploração extrema dos trabalhadores britânicos no primeiro século de revolução industrial a Grã Bretanha não teria se tornado uma super potência??? Sem séculos de exploração por parte da igreja e das coroas reais a Europa Ocidental não teria alcançado o patamar de civilização avançada?? Novamente, sacrifícios desta magnitude e impacto (invariavelmente destrutivo para muitos se não para a maioria dos indivíduos) são sempre necessários ?? É um mal necessário?? 

Então os "tempos ruins" deste país, que ceifaram as vidas de milhares se não de milhões de pessoas pobres e remediadas (em sua maioria), homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, por acaso tornaram os homens ingleses mais fortes?? 

É verdade quanto a veracidade deste padrão universal exposto no título que parece refletir o ciclo de vida/energia das civilizações, em que, no início nós temos energia masculina fresca e abundante para construir, expandir, invadir e subjugar, e depois, supostamente, as sociedades vão se tornando mais ''caridosas'', e com isso, ao invés da expansão, tem-se uma retração até a consumação final de suas energias.


 Também é verdade que, quando somos criados apenas no conforto podemos nos adaptar facilmente a esta realidade e de nos tornar mais relaxados, e claro que esta tendência é provável que variará de pessoa em pessoa. No entanto não parece ser factual que apenas o conforto que afrouxe os homens nem que os homens modernos estejam assim tão afeminados

Relaxados talvez, mais afeminados, não.



Eu já comentei que por causa de uma cultura mais aberta (mas não em relação a tudo) aquilo que era mantido na surdina, na época de predominância cultural conservadora, se tornou muito mais exposto e portanto conhecido. Não é que hoje em dia tem mais homossexuais por causa do maior conforto que supostamente emascula causalmente os homens. Primeiro que, eu duvido que a proporção de homossexuais tenha aumentado muito, segundo que, eu acho que foi a "herdabilidade" ;) ou a expressão fenotípica em relação à paisagem genotípica da não-heterossexualidade exclusiva que aumentou. O que antes era abertamente condenado, menos experimentado e se feito, apenas em guetos culturais, hoje em dia, tem sido, por segundas intenções, celebrado ou ao menos tolerado e expandido para uma maior população. A proporção de não- heterossexuais assumidos ou apenas discretamente engajados de hoje em dia, e em comparação aos tempos dos nossos bisavós e avós, é equivalente à proporção de canhotos que na atualidade tem beirado os 10% nas populações ocidentais, e que na época do predomínio cultural do cristianismo/conservadorismo, era muito menor, porque os canhotos eram forçados a aprender a escrever com a mão direita.

É verdade que devemos ensinar aos outros que o conforto não brota do nada e que muitas vezes ele precisa ser conquistado e mantido. Mas também é verdade que a conquista deste esforço não precisa se dar com base na exploração do trabalho e subsequente redução significativa da qualidade de vida, para uma importante parcela da população, e claro, pra nós mesmos. Portanto sacrifícios além do BOM SENSO quase nunca são necessários em especial quando temos em mente que existem outras maneiras de se alcançar o mesmo objetivo. 

Geralmente e desgraçadamente falando, as civilizações tem se principiado com base na exploração extrema daqueles que são das classes sociais mais baixas mas também de todos aqueles que não apresentam posses que os fariam mais iguais em termos materiais às elites. Tempos ruins testam os limites de resistência psicológica e física das populações especialmente as que estão mais socialmente vulneráveis.


 Culpar o homem comum por não estar se organizando e lutando contra o declínio da "$ua" civilização é como o pastor culpar as ovelhas por não estarem se organizando por si mesmas para se defenderem contra raposas à espreita


Ganância, expansionismos e ignorância matam impérios e não o conforto

Os impérios são como mega-empresas comunitárias que servem única e exclusivamente para aumentar e perpetuar o poder das classes dominantes. Eles começam como negócios familiares até se transformarem em multinacionais. A ignorância filosófica leva à ganância que leva ao imperialismo diplomaticamente analfabeto que leva à expansão das fronteiras com base em pilhagens e guerras e por fim a aculturação daqueles que vão sendo conquistados, claro, depois de terem sido muito explorados. 


O homem neurotípico e heterossexual continua com os seus interesses específicos sem grande importância para o melhoramento da sociedade, no sentido intelectual, isto é, ele dedica boa parte dos seus neurônios à obsessões por carros, mulheres e esportes coletivos. Porque hoje, ou a partir da decadência da civilização que (((não é tão espontânea))) assim como muitos pensam, nós temos uma maior e melhor nitidez quanto à diversidade comportamental e portanto sexual do homem, tem-se criado esta visão deturpada de que algumas das vitórias mais valorosas da civilização, por exemplo, o conforto e uma maior racionalidade [com a secularização], quase sempre envoltas em um mar de sangue e estupidez, sejam os principais culpados por sua decadência. 

Tal como um fogo selvagem que vai encontrando capim seco para queimar a civilização vai encontrando oportunidades cada vez mais megalomaníacas ou superlativas de exploração com o intuito primordial de perpetuidade no poder e de expansão da riqueza de suas elites e a mesma energia monstruosa que a construiu a destruirá, algumas vezes de maneira mais espontânea, outras vezes de maneira bem mais (((calculada))) como a decadência atual. O ocidente, tal como uma cobra, está tentando trocar de pele.

São as elites que governam e que mandam, portanto, a ideia de que são os homens comuns que hoje em dia não estão ''tão fortes ou másculos'' como em outras etapas da civilização, e que este fator é o principal responsável por sua decadência, é apenas tolice. Se não são eles que governam então não podem ser totalmente culpados e sim aqueles que de fato o fazem, as elites. 

É verdade que ambientes ruins aumentam a pressão seletiva podendo resultar em maior robustez biológica de uma certa população. Mas isso não significa que a mesma regra possa ser aplicada em macro-sociedades como são as civilizações e os impérios, porque nas mesmas são aqueles que governam que de fato ditam as regras do jogo.

O verdadeiro altruísmo tem sido usado como chantagem emocional com o intuito de preparar a civilização [ocidental] para a colonização reversa, das colônias para as metrópoles, e mesmo no caso de países sem histórico de colonialismo como a Suécia, por exemplo. Ao menos em relação à civilização ocidental, tudo tem sido bem (((planejado))), com requinte de detalhes.

Ao começarmos a desbaratar essas associações precipitadas, e parar de confundir correlação com causalidade, vamos então percebendo que as causas para as quedas das civilizações estão em si mesmas, em suas estruturas brutais, em suas energias mais fortes e obscuras, a ganância, o desejo de poder, de supremacia, e não no conforto ou em uma maior sinceridade cultural em relação à diversidade humana [e não-humana] de comportamentos. Foi a ganância, a sede de poder e de controle que forjou o Império Romano, e que também o destruiu. 

4 comentários:

  1. Ou as pessoas caem no Nilismo existencial ou no Hedonismo existencial, todos provindos de condições ideológicas mentais falhas, erradas.

    Não conseguem explorar outro caminho de melhoramento da existência da humanidade a longo prazo. Ou pelo menos perceber isto.

    Morrem na dicotomia.

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    1. Disse tudo, parece que o pensamento mediano morre nas dicotomias.

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  2. Depende do conceito de "bons tempos". Materialmente no mundo ocidental e sub-ocidental vivemos em tempos mais ou menos bons. (Mais ou menos, por que o auge foi décadas atrás; hoje está piorando e as novas gerações vão ter tudo mais difícil).

    Mas espiritualmente e artisticamente, hoje em dia está tudo uma droga e uma degeneração só. Veja a "arte" produzida atualmente. Veja as "celebridades" que são idolatradas. São tempos ruins para mim.

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    1. Não acho tanto, acho sim que piorou muito de uns tempos pra cá, mas se podemos chamar de ''tempos bons'' a partir dos anos 60, então a música ficou mais diversificada, por exemplo.

      Mas eu acho que mesmo nos tempos ruins as pessoas MÉDIAS já tendiam a paparicar lixo.

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