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terça-feira, 4 de abril de 2017

O inteligente zela, o criativo vandaliza

Os mais cognitivamente inteligentes são aqueles com as maiores capacidades de memorização convergente e subsequente capacidade de manejo deste arcabouço. No entanto, parece ser comum se não característico que eles também acabem zelando pelas informações, independente da qualidade factual das mesmas, que internalizam, e subsequentemente se tornando os seus agentes/zeladores. Como sustentadores naturais das sociedades, eles apresentam natural aptidão pra essa tarefa de zelar por aquilo que internalizam e que serão úteis [ou nem tanto] em seus trabalhos. Não é um problema, a priore, zelar ou proteger as informações que internalizamos, todos nós fazemos com maior ou com menor nível de paixão. Mas com certeza que se torna um problema quando o fazemos também ou comumente com: 

- o conhecimento mal construído ou mal analisado,

- os factoides.

Você pode ter em mãos alguns grãos de uma verdade particular, mas, se conformar com esses poucos grãos que tem, ao invés de tentar entendê-la de maneira mais profunda. E o pior ainda pode acontecer, porque você também pode ter, ao invés de fatos mal organizados e/ou hipo-desenvolvidos, factoides que são: pseudo-fatos, só que tomados como verdadeiros. No primeiro caso as associações primárias estão minimamente corretas, no entanto não há um zelo maior em seu desenvolvimento e polimento. No segundo caso as associações primárias ou bases já estão equivocadas. Aí o buraco da ignorância é muito mais profundo. 

No mais, é comum que o mais criativo, ''vandalize'', manipule, especule, busque entender certo conhecimento, antes de, comprá-lo e de passar a zelar por sua integridade, como os cognitivamente ou mesmo convergentemente inteligentes costumam fazer. Claro que, como é lugar comum na criatividade, este ímpeto analítico-crítico do criativo tenderá a ser feito de maneira mais insular ou específica do que generalizada. 

Quando o convergentemente inteligente se depara com um conjunto de informações [pré conhecimento] que casem ou que convirjam consideravelmente com os seus preconceitos cognitivos mais basais, é muito provável que ele o internalizará, até mesmo de maneira mais abrupta, rápida ou precipitada, do que uma pessoa com inteligência cognitiva, na média, geralmente faz.

Se no final as contas TODOS NÓS acabamos alimentando os nossos próprios preconceitos cognitivos mais agudamente queridos, os mais convergentemente inteligentes ainda terão maiores capacidades para produzir justificativas mais interessantes e próximas, ou mesmo, comungadas com a verdade objetiva ou universal.

O criativo mais convergente ainda será capaz de aumentar a quantidade e ''qualidade' de certo conjunto de informações, estando elas factuais ou nem tanto, aquilo que o inteligente cognitivo-convergente típico internalizará sem maior criticismo. Já o criativo mais racional, peça que parece ser mais rara, será fortemente propenso a, de fato, vandalizá-lo, em especial quando começa a compilar contradições fatais, que são alertas de que as suas bases estão corrompidas ou deturpadas.


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Se podemos entender o criativo convergente como um ser híbrido entre o inteligente 'convergente' e o criativo 'divergente', ainda que este também vandalize, só que, ao invés de, metaforicamente falando, destruir a estátua, ele fará uns desenhos de bom gosto na mesma, ressaltando-a, de alguma maneira, enquanto que o criativo 'divergente' será muito mais propenso a testar a resistência da ''estátua''/pré-ou-proto conhecimento, jogando pedras, etc... para ver se de fato está baseada em fundamentos fortes ou racionais.

Se o muro de Berlim fosse um proto-conhecimento então o típico inteligente convergente que tivesse se especializado nele, o defenderia, o zelaria, porque reflete parte de si mesmo, de sua própria inteligência, que foi projetada ou colada a este conjunto de informações, metaforicamente hipotético.

Por outro lado, o criativo divergente que também tivesse se especializado no muro de Berlim, teria como reação primária a análise de suas características, e subsequente crítica e quanto mais frequentes e profundas fossem as suas contradições, encontradas, maior a intensidade da crítica, ao ponto de chegar ao ''vandalismo''. 

O primeiro zela, o segundo, dependendo da qualidade do conhecimento, pode chegar ao ato do vandalismo.

Para criar é preciso primeiro vandalizar/criticar, em menor ou maior grau.

Para ser original existe a necessidade de nunca se conformar com aquilo que já existe, dentro de sua área de interesse, do contrário, não haverá como criar ou expandir novos horizontes do conhecimento. No entanto, eu acredito que, quando um conhecimento parece estar fortemente construído, ficará mais difícil para que o criativo possa encontrar brechas virgens de exploração, se a principal intenção do conhecimento é de se conhecer de maneira progressivamente abrangente e precisa sobre certa realidade, para que possa ser refletida com perfeição, tendo o seu quebra-cabeças completado. 

O criativo convergente ou o pensador lateral, o criativo divergente ou o pensador divergente.. novamente

O nível de potencial de ''vandalismo'' analítico-crítico parece depender de uma série de fatores, e não apenas do nível ou capacidade para o pensamento divergente. No entanto a partir do momento em que nos centralizamos nas áreas de especialização dos indivíduos, esses fatores poderão ser hierarquizados ou terão como base justamente este espectro de capacidade. Portanto, quando temos dois criativos, dentro de uma mesma área de interesse/exploração, o ímpeto do criativo convergente não será o de fazer varreduras completas em seu objeto de escrutínio, porque será mais parecido com o inteligente convergente, isto é, zelará mais do que vandalizará. Como resultado, o mais provável é que use as suas habilidades para o pensamento lateral [pequena criatividade] na busca por meios de expandir o seu conhecimento de especialização, não importando se está mais ou menos factual/correto, em sua raiz. Em compensação o criativo divergente, ou, aquele que, é mais perfeccionista, será mais propenso a analisar, criticar, antes de julgar ou qualificar, e dependendo da qualidade das informações, ele poderá inclusive começar a vandalizá-las, inconformado com os seus níveis, buscando melhorá-la de maneira bem mais significativa, mesmo a ponto de reconstruí-la, ou ao ponto de destruí-la. O criativo convergente tende a julgar primeiro [gostar ou não gostar], e a analisar e criticar depois, isto é, ele tende a fazer o inverso do criativo divergente, assim como também faz o inteligente convergente. Isso parece revelar um pouco de instintividade, em que o criativo convergente, atraído por seu instinto, cairá de amores por sua área de maior interesse, enquanto que o criativo divergente, com o seu pé no freio do instinto/preconceito cognitivo, estudará [analisará e criticará] antes de poder ou não cair em tentação, ou, também pode fazê-lo em ordem similar ao convergente, mas nunca se conformando, claro, que dependerá da qualidade do nível do conhecimento. É metaforicamente equivalente ao fã que cai de amores por seu ídolo ou ídola, daquele que, apesar de ter a mesma fixação ou interesse, passa a criticá-lo/la quando começa a perceber os seus erros de conduta [que tendem a ser característicos entre as ''celebridades''].

Poderíamos voltar, porque não, ao meu modelo de diferenciação entre IDEALISTAS e PARTIDÁRIOS, sendo que, o criativo e o inteligente convergentes, seriam mais para os partidários, e o criativo divergente seria mais para o idealista, que busca pelo ideal, em sua área mais particularizada de interesse. Os primeiros se fixam, conformam e convergem. Os seus instintos ou preconceitos cognitivos lhes chamam, eles atendem e se sedentarizam. O segundo se fixa, e a princípio pode até se conformar, mas ao longo do tempo vai analisando mais profundamente, buscando pela reflexão perfeita ou próxima disso, de sua área de fixação, em relação àquilo que estipula como o ideal. Sim, porque o idealista cria expectativas, critérios ou cenários de idealidade, estando eles mais ou menos corretos. Ele parte de um ponto de ''perfeição', ou, ao longo do tempo, descobre 'por si mesmo', que existe um ponto universal de idealidade [só que geralmente o faz de maneira insular ou particularizada], que é o equilíbrio, que está subjacente a tudo aquilo que existe, e quando percebe que o conhecimento disponível ou existente de sua área de interesse não o satisfaz, estando ele mais ou menos correto quanto este sentimento, então irá se centralizar nessas áreas que estão mais obscuras, e é justamente a partir desses nacos incompletos ou indefinidos, das peças que estão faltando ao quebra-cabeças, que o criativo divergente, mas também o convergente, se dedicarão mais, e com o diferencial holístico do primeiro em comparação ao segundo, o ''partidário criativo'' que quer melhorar o partido/conhecimento de estimação, versus o idealista criativo que quer o ideal, a completude ou conhecimento ''completo' de sua área de interesse. 


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O filme ''Confiança'', de 1990, retrata um pouco a natureza da superdotação e também o estilo holístico da criatividade divergente, quando o personagem que é interpretado por Martin Donovan descobre erros na fabricação dos produtos da fábrica em que começa a trabalhar e ingenuamente avisa aos donos do negócio sobre a sua descoberta. Ao descobrir que os erros são propositais [obsolescência programada] fica irado de raiva, e acaba sendo advertido quanto ao seu comportamento, supostamente irracional.

 O criativo não apenas cria novas ideias ou pensamentos, mas também ou necessariamente, precisa antes de tudo, analisar e criticar honestamente/de maneira neutra a sua área, para que então possa ter intuições originais... e lógicas ou ''úteis'. Isto é, para ter ideias originais e ao mesmo tempo 'lógicas', ele precisa se certificar ao menos que as bases do conhecimento que busca refletir a sua área de especialidade sejam fortes ou, novamente, lógicas. Este diferencial holístico é um dos grandes responsáveis pela superioridade [em alguns aspectos muito relevantes] da grande criatividade sobre a pequena criatividade.


 O criativo convergente é criativamente discreto, claro que, em relação à sua área de fixação. Já o criativo divergente, dependendo de suas capacidades racionais e intuitivo-criativas, e da qualidade convergente ou existente de sua área de fixação, pode se tornar o mais ''escandaloso'' de todos, ao revelar, normalmente sem piedade, os erros que estão sendo negligenciados em sua área. O criativo convergente tende a ser mais conformista [à sua área de fixação], o divergente não. Aí temos outra diferença, porque o criativo convergente, ao ser menos macro ou holístico-perfeccionista, será menos propenso a diferenciar a qualidade das informações que está internalizando, e portanto, se esta for: alta, média, variável, uniforme, ou baixa, tanto faz pra ele, ainda que acabará trabalhando por suas micro-melhorias. Já o criativo divergente será menos generalizadamente anestesiado e portanto mais qualitativamente reativo, tal como a diferença que propus entre o extrovertido e o introvertido. O primeiro percebe e sente pouco as diferenças de densidade dos ambientes. O segundo é o oposto. O mesmo no caso do criativo convergente e do criativo divergente. O criativo divergente, análogo ao introvertido, sente mais os contrastes do ''ambiente''/conhecimento, porque é mais sensível à sua qualidade, e portanto, se o conjunto de informações que perfazem a sua área de interesse não lhe agradar, e em especial se, de fato, ele estiver certo, então reagirá de maneira conforme, não confundir com conformada. Se está ruim, ele se tornará mais crítico. Se está bom, ele reduzirá a sua carga de acidez analítico-crítica necessária e se conformará mais ao conhecimento existente.

No entanto, a criatividade, por razões auto-evidentes, é parte fundamental, essencial da inteligência, porque visa expandir os seus horizontes ou zonas de penetrabilidade. O criativo é o inteligente que não se conforma com o estado ou nível de qualidade e de abrangência do conhecimento de sua área de interesse e a partir disso buscará, de maneira mais microspectiva, como o criativo convergente, ou de maneira mais macrospectiva/holística, como o criativo divergente, as peças que faltam ao quebra-cabeças, e novamente, o segundo será ainda mais profundo nesta labuta. 

Em termos de autenticidade, a reflexão perfeita ou ''empatia perfeita'', de se colocar na pele do ''outro'', ser ou não ser, e a partir disso entender ''totalmente'' ou ''predominantemente'' parte de sua área, evidente que o criativo divergente será muito mais autêntico que o convergente, tal como o pai que ''ama tanto' o filho, se preocupa tanto com ele, que também passa a vigiar por seus defeitos, desejando que melhore em suas fraquezas. O pai que é curioso em relação ao seu filho. Enquanto que o criativo convergente pode ser metaforicamente exemplificado como o pai que tem um amor diferente por seu filho, que o idealiza erroneamente, desprezando os seus defeitos e até mesmo chegando a exagerar as suas qualidades, portanto, vendo-o como ''perfeito''.

Inteligentes e criativos convergentes tendem a ver o conhecimento de suas áreas de fixação como, se não ''perfeitos'', ao menos abrangentes. Por outro lado, em relação às mesmas áreas de fixação ou interesse, os criativos divergentes tenderão a reagir de modo distinto, sem se conformar ao nível até então alcançado de certo conhecimento, especialmente se for o caso, buscando por suas falhas, contradições ou áreas hipo-desenvolvidas ou foscas.

Eu até poderia, como conclusão deste texto, afirmar atrevidamente [à moda do blogue] que o criativo divergente, especialmente em sua área de fixação, por causa de sua maior curiosidade, inquietação e perfeccionismo, tem ou desenvolve uma visão muito mais nítida da mesma, a ponto de produzir insights realmente precisos. 

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