A arte não é apenas a mais existencialista, porque se consiste na mais pura manifestação da perspectiva existencialista, diretamente relacionada com os sentidos e íntima com o realismo existencial, de finitude da [própria] vida, de espanto aos mistérios do universo/da existência e de consciência estética ou simetria [caracteristicamente localizada, no caso das artes]
A arte fomenta-se ou centraliza-se no valor das emoções e não necessariamente no padrão dos fatos [ e em sua compreensão factual ]
A filosofia, como eu já falei algumas vezes, encontrar-se-á no meio deste espectro, entre as artes e a[s] ciência[s], porque baseia-se tanto na ''frieza'' dos fatos quanto na ''quentura'' dos valores, que resultam nas/das reações emocionais [aos padrões que são capturados]. O valor que damos a um fato, como eu já falei, desencadeia uma reação emocional, de avaliação subjetivamente estética [mas que também pode ser mais objetivamente estética, dependendo do indivíduo] em relação ao primeiro. A filosofia, como a ciência ou a arte do pensamento perfeito/completo, a priore, em condições ideais de temperatura e pressão, precisa tanto dos padrões, em que a ciência se centraliza, quanto dos valores, em que as artes se centralizam, para que possa entender de maneira [uber] holística a [macro] realidade / mas também, se possível, aproximando-se dos detalhes.
A ciência, por sua vez, se consiste no oposto das artes, neste aspecto, por centralizar-se nos padrões e não nos valores que lhes apregoamos, ou emoção. Neste sentido a ciência será a menos existencialista, por não vivenciar esta perspectiva emocional/existencial tal como as artes fazem, e de maneira mais do que característica ou descritiva. A ciência pára e se especializa no princípio do pensamento, no reconhecimento de padrões, e secundariza em importância a reação emocional ou atribuição de valores aos padrões. A ciência, que tem como padrão ideal a neutralidade, reage com indiferença ao mundo, enquanto que as artes precisam justamente da reação emocional para que possam se concretizar, se caracterizar. O maior pecado da ciência se consiste na confusão entre lógica, racionalidade e neutralidade. O maior pecado das artes se consiste no desprezo pelo reconhecimento de padrões e subsequente atomização dentro de um mundo de sensações, além de sua comum consciência estética localizada. A filosofia em seu estado mais do que ideal, manifesta-se justamente com base na consciência estética generalizada, aquilo que eu defini como ''articização da percepção e da vivência'', isto é, a dedicação, amor e procura por detalhes que o artista tem por sua obra, generalizando-se em todas as suas ações, tornando-o tal como a um artista do pensamento. O maior pecado da filosofia tem sido a de não ter buscado por sua autenticidade maximizada, isto é, por ter sido usada como conceito [geralmente vago] mas não como prática literal do mesmo ´busca pela sabedoria'.
Portanto, o artista é o mais existencialista, ainda que tal manifestação tenda a dar-se de modo mais localizado [porém intenso em seu epicentro]; o filósofo genuíno, especialmente, é menos intensamente existencialista que o artista [genuíno], ainda que a sua estratégia se consista justamente na generalização da paixão artística, em que, torna-se de extrema necessidade também aquilo que as artes tendem a ter como prioridade secundária ou periférica [a de desprezar ou a ver como peça auxiliar], que é o reconhecimento de padrões ou compreensão factual. E neste espectro, o cientista, tal como o técnico que é, será o menos existencialista, por centralizar-se na compreensão factual, apenas ou especialmente dos padrões, e bloqueando como complemento de operacionalidade, a reação emocional que cada padrão tende a nos invocar. Ainda que a ciência, invariavelmente necessita do design ou consciência estética, isto é, os processos de bloqueios de cada um deles, não se consistem em neutralizações totais, apenas ou especialmente em neutralizações parciais porém significativas, a ponto de provocar grandes contrastes entre si.
A ciência é fria porque repele a emoção, porque padroniza ou mecaniciza a tudo,
As artes são quentes, porque repelem um reconhecimento puro de padrões, enfatizando no valor [moral/emocional] que é dado [se a moralidade pode ser entendida como a verbalização das emoções ou das sensações e posterior ênfase na lógica essencial da existência, no ideal da realidade que todos nós vivemos, de maneira localizada ou generalizada, que é a harmonia ou a simetria]
e a filosofia é morna, por não repelir o reconhecimento do padrão nem a reação emotiva que resulta no valor, e em condições ideais, produz o pensamento completo, perfeccionista ou completude perceptiva, por seguir todo o processo do pensamento, que eu tenho tentado entender, e que se manifesta[ria] com base nesta sequência, do reconhecimento de padrões e em sua interpretação ou na reação emocional a eles. O padrão que se transforma em valor.
A ciência especializa-se desequilibrada ou unilateralmente no padrão. As artes no valor. E a filosofia, se fosse massivamente usada de maneira correta, nos dois, que se consistem no produto de nossas interações, no ''padrão-valor'', a meu ver, no pensamento completo.
Isso explica porque os artistas são muito mais propensos a padecerem de transtornos mentais do que os cientistas, e em especial os artistas mais talentosos, porque as artes resplandecem o extremo da vivência existencialista, íntima à realidade, ainda que também tenda a se relacionar, até mesmo sem moderação, com os sistemas de crenças humanos, possivelmente porque o realismo é tão forte para muitos deles que acabam se refugiando nesses sistemas.
E o extremo da vivência existencialista é muito mais introspectiva, como no caso das artes do que extrospectiva como no caso das ciências, em que o sujeito humano põe-se ou tenta colocar-se em posição neutra, enquanto que nas artes, o sujeito humano é o seu centro de gravidade. Até poderia sugerir que as artes fazem com que os seus agentes ou sujeitos mergulhem em si mesmos, para que possam se realizar como artistas, criando uma espécie de auto-intimidade mais intensa, e sabemos que, não importa se a intimidade é em relação ao outro, ou em relação a nós mesmos, os espinhos estarão sempre presentes, assim como também ''as flores''. O cientista, como um sujeito bem menos auto-intimista como o artista, e como o filósofo, será portanto menos propenso a sofrer de depressão existencial, ainda que em seus níveis mais altos, ciência, filosofia e artes, serão muito mais parecidas, tanto em suas qualidades, quanto em seus desafios, e a depressão existencial, típica em artistas, em filósofos, só que mais sóbria, também tenderá a afetar os grandes cientistas, porque nas três, tanto a compreensão factual quanto a consciência estética, serão essenciais, até mesmo para que possam alcançar o epítome em suas realizações.
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