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domingo, 2 de abril de 2017

Esquizofrenia não é o oposto perfeito do autismo

O esquizofrênico é exageradamente introspectivo enquanto que a empatia é uma característica tipicamente extrospectiva, isto é, que se baseia no debruço ao mundo exterior [tradicionalmente falando, na tentativa de leitura da mente dos outros seres]. 

O esquizofrênico se interessa muito pelo que os outros estão pensando sobre si especialmente se for do tipo mais paranoico, só que, ao invés de agir empaticamente, ao menos em termos parciais, isto é, se colocando no lugar do outro, ele tende a fazê-lo de modo muito menos frequente, porque está demasiadamente mergulhado nos seus próprios pensamentos, então ele tende a padecer de pré-empatia, porque será muito mais propenso a deduzir as intenções alheias por si mesmo do que de sair um pouco de seu ''centrismo pessoal'' e de tentar entender o outro. Por exemplo quando ele internaliza que uma pessoa estava rindo dele na rua. Primeiro, temos a ambiguidade, que tente a ser variável: uma pessoa começa a rir e olha para o lado, perto dele; 
uma pessoa estava rindo ao celular e olha rapidamente pra ele; uma pessoa olha pra ele e começa a rir. Quanto menos provável de se consistir em um deboche, for essa situação [por exemplo, o primeiro caso], e mais desproporcional for a reação, maiores serão as chances de um diagnóstico de esquizofrenia paranoide. 

Ainda que, como eu já havia falado antes, é possível se tornar mais paranoico (se for certo usar este termo neste caso) mas baseado em fundamentação racional. E no mais a paranoia tende a consistir-se em uma intolerância "extrema' à ambiguidades tendo como resposta o provimento de medos ou ansiedade de igual natureza. 

O super empático, que seria um dos opostos perfeitos de alguns subgrupos mais prevalentes de autistas, tende a fazer a leitura da mente de maneira bem mais correta do que o esquizofrênico, e muitas vezes ao ponto da empatia total, quando se coloca não apenas no lugar dos outros mas também em sua própria pele.


E o autismo também tende a manifestar-se com base em forte e mais desequilibrada introspecção, bem mais direcionada para a sua cognição [mecanicista] do que para a sua personalidade [mentalista]. A partir deste ponto de vista, autistas e esquizofrênicos, não serão como completos opostos, porque em ambos os casos os seus sistemas reguladores de introspecção e de extrospecção estarão mais desequilibrados do que a norma. 

Eu já disse que o autismo se consistiria em um ''excesso' de extrospecção impessoal, resultando em seus interesses específicos intensos, combinada com uma introspecção [impessoal ou cognitiva] igualmente significativa, até mesmo para que possa complementar com os seus interesses, isto é, debruça-se ao mundo exterior para capturar informações, as transforma em seus pensamentos e passa, introspectivamente, a pensar neles, de maneira mais intensa ou constante.  Também ''disse'' que o normal neurotípico exibiria valores medianos tanto de introspecção quanto de extrospecção, resultando em sua natureza consistentemente média [à medíocre].

Então eu complemento agora este meu possível [ou não] achado com o perfil da esquizofrenia a partir deste prisma de observação, isto é, introspecção e extrospecção. O esquizofrênico seria então, caracteristicamente falando, ou em média, muito menos impessoalmente extrospectivo e muito mais inter-pessoalmente extrospectivo do que o autista. Em ambos, haveria uma introspecção elevada, só que, no caso autista, seria mais direcionada para o aspecto cognitivo, mecanicista ou impessoal, isto é, relacionado com os seus interesses específicos, enquanto que na esquizofrenia, seria mais direcionada para o aspecto psicológico, mentalista ou intrapessoal, isto é, relacionada com a sua personalidade. 

Basicamente, introspecção impessoal/mecanicista + extrospecção impessoal/mecanicista elevadas = autismo e introspecção intrapessoal/mentalista + extrospecção interpessoal/mentalista elevadas = esquizofrenia.

Se a introspecção se consiste no pensar sobre o pensar, sobre os próprios pensamentos, mais cognitivos, mais emotivos/afetivos ou mistos, então o autista, em média, o fará em relação aos seus pensamentos que estão relacionados com os seus interesses, enquanto que o esquizofrênico, em média, o fará em relação aos seus pensamentos que estão relacionados consigo mesmo, isto é, que se consiste em uma abordagem ultra-pessoal. 

Claro que aqui estamos falando tanto dos autistas quanto dos esquizofrênicos que são os mais característicos ou estereotipados, porque muitos deles, de ambos os grupos, não se encaixarão perfeitamente a esses modelos.

No espectro das psicoses, a interpretação se torna muito pessoal, pedantemente pessoal. No espectro do autismo, a interpretação ou leitura da realidade [e não apenas da mente], se torna muito científica/analítica, ou pedantemente científica.

Acho que também estamos falando de pensamento dedutivo e indutivo em que, na esquizofrenia, o segundo será o mais provável de ser produzido, enquanto que no autismo, o pensamento dedutivo será o mais provável e em ambos déficits coexistirão evidentemente com as suas qualidades.

Ou não.


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