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quarta-feira, 31 de maio de 2023

"A Venezuela é vítima de narrativa de antidemocracia e autoritarismo"

 Lula...


Quer dizer então que a Venezuela é democrática??? 

Que Nicolás Maduro é mais uma eterna vítima de narrativas assim como supostamente tem sido o Lula?? 

Infelizmente, Lula representa o modus operandi de boa parte das supostas esquerdas, quase sempre de costas para o mundo fora de sua bolha ideológica. Como resultado, quer impor para o resto da sociedade brasileira o que é determinado como consenso absoluto entre os seus pares de doutrinação; que, ainda por cima, não se consiste na verdade dos fatos e, portanto, não contribui em nada com a justiça social, se é como dizer que um ditador está sendo vítima de narrativas, enquanto despreza suas milhões de vítimas venezuelanas, aliás, as únicas vítimas verdadeiras de narrativas... só que "marxistas", que colocam a culpa apenas nas sanções impostas pelos EUA à Venezuela e desprezam a péssima administração do "governo" de Nicolás Maduro.

"Faz o L"

Eu votei no Lula especialmente para tirar o Bolsonaro do poder. Votaria milhares de vezes, se fosse preciso. Se fosse qualquer outro menos pior que o bozo, eu teria votado. Faria o L, o G, o B, o T, não importa a letra. Mas, jamais votei no molusco, iludido ou doutrinado em seu messianismo particular. Realmente pensei que esses tiques de bolha "marxista-stalinista" seriam evitados. Continuo na expectativa de ver como será o governo dele e que, diga-se, não é apenas dele, mas da coalização que o seu partido fez e a oposição. Ele já falou muita merda, como era de se esperar: associando vídeo games à violência, chamando pessoas com transtorno mental como "com parafuso a menos", como se ele fosse muito racional... Enfim, eu só espero que fique com o bico calado por mais tempo para não dizer mais besteiras; que aprenda a, pelo menos, evitar se associar com regimes explicitamente autoritários, só por serem anti-EUA; se possível não cair nas armadilhas da "esquerda" lacração e fazer o melhor governo que poderia, com base no cenário atual. Tal como eu cheguei a desejar ao Bolsonaro quando foi eleito em 2018. Que o balanço final desse terceiro mandato do Lula seja o menos pior possível, assim espero. 

O verdadeiro aprender não é o memorizar...

 ... mas o compreender, mesmo que se esqueça do que compreendeu pouco tempo depois.

domingo, 28 de maio de 2023

"Todo imperialismo ou ação 'imperialista' é ruim"

 Primeiro, o que seria imperialismo ou ação imperialista?


Uma potência maior invadindo ou intervindo em uma nação de menor envergadura geopolítica e/ou econômica?? 

Ok. Mas e se a tal ação imperialista for, parcial ou predominantemente, no sentido de derrubar um regime tirânico, tal como no caso de teocracias, como o talibã no Afeganistão e os Aiatolás no Irã???

Personalidades generalista e exótica

 A primeira é mais propensa a ser do tipo tradicional ou convencional: extrovertida, baixa em neuroticismo e abertura para a experiência, e alta em conscienciosidade, de acordo com o modelo dos 5 grande. 


Em relação aos quatro temperamentos, seria mais para sanguínea e/ou fleumática.

É aquela que é capaz de se adaptar a qualquer ambiente social.

Já a segunda é mais propensa a ser do tipo excêntrico ou exótico: mais para introvertido, alto em neuroticismo e abertura para a experiência e variável em conscienciosidade. 

Em relação aos quatro temperamentos, seria mais para melancólica.

Esse é o tipo que apresenta preferências mais específicas de ambientes sociais, incluindo indivíduos, para se adaptar de maneira mais plena. Portanto, um tipo mais exótico. 

A conformidade social é uma manifestação inequívoca de inteligência...

 .. porque consiste na busca pela adaptação a um meio, nesse caso o social. Em outras palavras, de sobrevivência. Mas este é um nível não-humano de inteligência, se o nível mais elevado de inteligência de nossa espécie, nesse sentido de agência, é a racionalidade, justamente a nossa capacidade de refletir sobre o que fazemos, em que a conformidade, sem auto-análise e/ou crítica, passa a ser avaliada como um sinal de ignorância/ alienação, de falta de curiosidade, de vontade de aprender e compreender sobre o mundo em que se vive, inclusive de evitar uma submissão absoluta às regras ou circunstâncias impostas, especialmente se forem objetivamente problemáticas ao indivíduo, isto é, de afetarem a sua própria segurança ou bem estar. E enquanto uma confrontação direta em cenários distópicos pode ser ainda pior (paradoxalmente, uma tendência possivelmente comum entre indivíduos mais racionais), aqueles que evitam essa atitude, de oposição declarada, mas se colocando contrários à tirania, podem estar em maior vantagem, de perceber suas mentiras e tentar reagir de maneira a não serem prejudicados. 

quinta-feira, 25 de maio de 2023

De novo, sobre valores ''ocidentais'' e ''universais''

 Compaixão, empatia, tolerância e altruísmo são "valores" universais, não apenas ocidentais, porque seres humanos de qualquer cultura ou raça podem praticá-los ou tê-los como prioridades em suas vidas. Porém, crueldade e injustiça também são valores universais, no sentido de poderem e de serem praticados por seres humanos de qualquer raça ou cultura. Portanto, não é apenas a universalidade de um valor moral que importa, mas também o seu nível de racionalidade (ponderação, necessidade...).

O pensamento moral é um pensamento existencial

 Sobre o que se considera como certo, necessário, adaptativo, verdadeiro, justo, seguro ou o oposto, a princípio, independente do resultado, é uma discussão sobre a natureza de tudo o que se pensa, se sente e se faz, portanto, puramente existencial ou sobre o que existe, incluindo e especialmente sobre nós mesmos. 

Novo exemplo de desonestidade "de esquerda": xenofobia

 (Ou "globalista")


Ser xenófobo ou não ser, eis a questão..

Ou você tem medo de estrangeiros ou você os adora. 

Essa parece ser a linha falaciosa de pensamento, implicitamente extremista, que uma suposta "esquerda" está inculcando via mídia, em que não é possível ser "moralmente correto" sem ser xenófilo, o oposto de xenófobo.

Mas, espera aí. Primeiro que, ninguém é obrigado a gostar de uma pessoa por sua identidade. Ninguém é obrigado a adorar indivíduos apenas por serem lgbts, negros, mulheres, estrangeiros... inclusive é melhor gostar de uma pessoa pelo que é em seu todo. 

Segundo que, entre o medo ao estrangeiro e o seu completo oposto, existe a preferência pelos nativos do seu país, ou tribo, e que eu denominei de autoctonofilia. Portanto, existem outras opções, além do 8 ou 80, medo ou admiração ao estrangeiro. 

Terceiro. Percebam que está acontecendo uma indução unilateral de valor moral aos termos, sem uma análise de contextos, em que a xenofobia é imediatamente percebida como patológica, enquanto que o seu oposto é tratado como saudável. 

Quarto. Percebam também a opacidade do conceito de xenofobia: medo ou aversão ao estrangeiro. 

Mas qual estrangeiro?? A todos?? Por quê?? E os contextos?? 

Freud explica?? 

Provavelmente não. Ele, talvez, diria que o xenófobo, na verdade, sente uma atração sexual reprimida por forasteiros... 

Como conclusão, a xenofobia é um termo demasiado vago e que tem sido categorizado por muitos autodeclarados "de esquerda" (mas também por tipos mais "centristas") como um sentimento unicamente negativo, desprezando a complexidade contextual que é característica às relações humanas, que a torna, a priori, desprovida de uma valoração moral definitiva. Eles também desprezam que, ao invés de ser sempre xenofobia, pode-se manifestar um sentimento de autoctonofilia, de preferência pelos nativos. Outras possiblidades: de não ter preferência; de não gostar de ambos, nativos e estrangeiros. Mas é muito mais comum que ess tipo de preferência seja mais pontual do que generalizado, diferente do próprio conceito de xenofobia. Portanto, é mais sobre preferência do que sobre medo. E mesmo se fosse o caso, não seria racionalmente possível julgá-lo como patológico ou falacioso sem uma análise contextual, mais objetiva e imparcial possível.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

A realeza não é real

 Quem tem sangue azul é barata (ou verde)

A realeza não realiza
Que a realidade não ratifica 
O seu cetro de metal e o seu trono de mentira 
O real não é um pedaço de papel que chamam de necessário e uma falsa hierarquia 
Não há nenhum mérito para governar só por ser filho ou filha
Enquanto o povo paga para uma certa família 
E os símbolos valem mais que vidas 
E a humanidade continua a sua suja sina 
E os sinos de ouro das igrejas anunciam
Um novo rei e uma nova bastilha
Não foi deus ou o povo 
Mas eu sei que as cabeças rolam 
Assim como os pedras
E que eu prefiro a simpatia do diabo 
Do que desses padres e bispos
Do que desta corte de privilégios e ritos 
Que nojo eu sinto do obscurantismo e suas trevas
De quem se veste com opulência 
E que tudo não passa de delírios não-tratados
Enquanto os psiquiatras culpam seus pacientes 
Que me perdoem os mais doentes
Mas, para ser sincero, o mundo dos humanos é apenas um velho hospício, um antro de lunáticos
Que continuem fingindo...
Cada terno é uma camisa de força
Até que acabe esse circo
E voltem, todos, a rodar em seus/outros círculos, 
alienados... 

Sobre o ateu-Xavier, o ateu-Magneto e uma conclusão

 Inspirado pela série de quadrinhos, desenhos animados e filmes: X-Men. 


Existem dois tipos de ateus (com um espectro entre eles) e eu vou explicá-los rapidamente nesse pequeno texto: 

Charles Xavier é o líder dos mutantes que almeja uma coexistência pacífica com os não-mutantes.

O ateu-Xavier é o ateu ou agnóstico que quer ser respeitado por sua descrença e que busca respeitar as crenças religiosas dos outros, evitando psiquiatrizar a religião, tratando-a apenas como uma variação normal (no sentido de racional) do pensamento e comportamento humanos. Isso significa que ele tem uma visão predominantemente otimista e tranquila sobre a religião.

Magneto é o líder daqueles mutantes que desejam dominar e subjugar os não-mutantes por acreditar que um compartilhamento de poder seja impossível, até por ter uma história pessoal de traumas profundos com os mesmos (segundo a estória, ele perdeu sua família no Holocausto). 

O ateu-Magneto é o ateu ou agnóstico que, de maneira conclusiva, não respeita a religião, por considerá-la um transtorno mental. Ele prefere por uma secularização mais contundente, que não apenas deixe de dar espaço para articulação social e política de organizações religiosas, mas que também as proíba, literalmente, de existir de maneira legal. Ele tem uma visão bastante pessimista sobre a religião.

Então, tal como no universo de X-men, no nosso, parece que falta uma terceira via, realmente moderada, no sentido de ponderada, que não declare guerra absoluta à religião por saber da existência de pessoas de boa índole que dependem emocionalmente dela, mas que também não acabe se tornando excessivamente diplomático a ponto de mentir sobre o que essas crenças também se consistem, que saiba lidar com o dilema de combater, de maneira cirúrgica, a influência política da religião sem causar efeitos colaterais a quem não tem nada a ver com esse conflito. 

O problema crônico do "bullying" nas escolas brasileiras, suas causas e graves consequências

 Eu já fiz vários textos comentando sobre os problemas estruturais das escolas, particularmente das brasileiras, e também da educação superior. Comentei sobre os métodos arcaicos ou pseudocientíficos de seleção e avaliação que desprezam tacitamente a realidade da diversidade psicológica e cognitiva humana, a tal ponto que as escolas poderiam ser consideradas como lugares de opressão ou tortura. Mas, eu só falei por alto sobre um de seus maiores problemas, talvez desde sempre, a prática comum de "bullying" ou perseguição sádico-sistemática. Então, buscarei aprofundar nesse texto sobre causas, consequências e fatores relacionados ao tópico. 


Primeiro de tudo ou, o mais importante, é preciso deixar explícito que as escolas, em média, pouco fazem para combatê-lo e as causas parece que são múltiplas. Desde a ignorância de alguns ou muitos docentes, tendendo a justificar tais comportamentos como "típicos da idade" ou culpando as vítimas por sofrerem perseguição. Até a dificuldade de empregar castigos mais severos aos que o praticam, por causa do domínio ideológico da "pedagogia moderna" que busca evitar qualquer tipo de punição, além da presença perniciosa de muitos pais dentro do ambiente escolar, do tipo que não acompanha o desempenho dos seus filhos e não admite que possam ser castigados por outros adultos em caso de necessidade, o que tragicomicamente parece explicar uma das causas para o mal comportamento dos mesmos, refletido nos próprios pais. Então, como resultado da dificuldade das escolas para lidar com essa questão, esse comportamento desprezível e reprovável continua a ser praticado livremente, com pouca ou nenhuma repercussão, além dos traumas, vezes profundos, que as vítimas passam a acumular, associando a escola a um ambiente tóxico. Nos casos mais graves, em que o "bullying" chega a se manifestar fisicamente, os alvos podem buscar por autoproteção, já que não é comum que não encontrem qualquer apoio, quer seja de professores, colegas de classe e mesmo da família. Isso quando não têm em mente se vingar de seus perseguidores, mas também da própria escola. 

Então, é sabido que as questões estruturais das escolas e daqueles que as frequentam são atravessadas pelo entorno, pela sociedade como um todo, e quando há, claramente, um predomínio de narrativas e práticas extremistas, diga-se, de ambos os lados do espectro político- ideológico, quer seja pela adoção de políticas econômicas neoliberais ou pela adoção de políticas sócio-culturais identitárias, temos: um aumento das desigualdades sociais, da desregulação do mercado de trabalho, enfim, um aprofundamento das mesmas mazelas, mais a imposição midiática e acadêmica de narrativas, inclusive nas escolas, e que, mesmo se bem intencionadas, são altamente polarizantes, se consistindo em novas práticas de injustiças, mas engomadas por discursos bem construídos e cheios de empatia superficial, teórica e seletiva. 

É evidente que a inserção massificada dos jovens às redes sociais desreguladas também têm contribuído para o acesso a conteúdos altamente inflamáveis que alvejam exatamente perfis de tipos vitimizados, com pouco ou nenhum suporte de sua comunidade. Bem, depois desse cenário desastroso, a ocorrência de eventos trágicos se tornou apenas uma questão de tempo. Mas o pior é que a maioria das leituras que têm sido realizadas, por sociólogos, educadores... para explicá-los, desprezam uma de suas causas mais importantes, o "bullying" e a incapacidade crônica das escolas para lidar com isso da melhor maneira possível. Essas interpretações quase que culpam totalmente os autores desses crimes, provavelmente evitando criticar a inoperância escolar em relação ao "bullying", de se evitar críticas diretas à escola, comportamento excessivamente defensivo de muitos da área da educação, que já carregam muitas críticas, infundadas e outras nem tanto, sobre seus métodos e resultados, além dos problemas estruturais do ambiente escolar e dos ambientes familiares e sociais associados. No entanto, mesmo que existam outros fatores, como uma predisposição que pode levar certos indivíduos a tomar atitudes extremas em cenários de discriminação, não dá para desprezar a influência do meio e o escolar, definitivamente, se tornou muito propício, em partes, por sua própria culpa. Então, enquanto a tolerância ao "bullying" continuar nas escolas, o risco de que tragédias, como as de estudantes praticando atos violentos, na maioria das vezes como represália à mesma violência a que têm sido vitimados, continuará alto e não adianta culpar apenas algoritmos ou redes sociais, especialmente quando a escola pouco faz para combater discriminação e perseguição sádica em seu ambiente. Mas também não dá para culpar apenas diretores, professores, pedagogos, se os problemas estruturais das escolas e da sociedade são mais profundos e complexos. Porém, há de se começar a punir de maneira proporcional comportamentos cruéis de estudantes contra estudantes ou mesmo contra professores e outros que frequentam o ambiente escolar. É por isso que a "pedagogia moderna" deveria passar por uma grande reforma, se já está claro que não é possível (tentar) educar apenas com tentativas de persuasão ou punições leves. 

domingo, 21 de maio de 2023

A intenção é atrasar

 O máximo possível

O máximo que conseguir
Pra que ela não venha e roube tudo
E destrua esse mundo
Só nosso
Que apenas nós podemos viver
Que apenas um pode entrar
De cada vez
Em seu único espaço
Do seu único tempo
Pra que ela não apareça
Pra que ela se esqueça
E o sonho de eternidade continue 
a enganar o momento
Apesar de todas as evidências
Apesar de saber que está sempre perdendo
Que aquela hora, um dia, chega
A intenção é aproveitar
Mas, antes de tudo, de atrasar
De mantê-la ocupada com outro infeliz
E tentar ser menos triste com o pouco que é a vida
Que, pra nossa perspectiva, é tudo

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Toda falácia é uma mentira, distorção ou um exagero. Mas...

 ... toda falácia tem a sua exceção, que é justamente quando se trata de uma verdade. 


Por exemplo, se é falacioso ofender uma pessoa durante um debate, isto é, de usar a falácia do ad hominem, dependendo do que for dito a ela pode não ser, porque pode ser verdade. Tal como de acusar o oponente em um debate que, claramente, demonstra ter pensamentos bastante tendenciosos, de ser tendencioso. Especialmente no caso do ad hominem, muitas vezes, uma análise da pessoa em si e não apenas do que está dizendo pode ser necessária ou útil, se é comum que o ser humano desenvolva seu raciocínio e construa seu sistema de crenças com base em seus preconceitos cognitivos, enquanto tenta racionalizar ou, dar um verniz de imparcialidade e objetividade aos mesmos. Aí, o que diferencia uma análise imparcial e objetiva de uma afirmação falaciosa é justamente o nível de precisão factual do que é dito sobre a pessoa. Portanto, em resumo conclusivo, acusar uma pessoa tendenciosa de estar sendo tendenciosa, de chamar atenção para isso, definitivamente não é falacioso.  

Sobre a diferença do método científico e do método filosófico

 Que deveria existir, diga-se, um método filosófico unificado e coeso)


O método científico se baseia no empirismo, na busca e comprovação de um fato por exposição de evidências ou de praticalidade de uma técnica desenvolvida.

Já o método filosófico, se um dia chegar a existir e a ser sistematizado, precisa se basear no lógico-racionalismo, na primazia do pensamento lógico-racional visando uma maior compreensão ou entendimento, inclusive no sentido prático.

Interessante também dizer que, toda ciência, em sua prática mais ideal, tem como princípio teórico a própria filosofia. Em outras palavras, o método científico, novamente, em sua prática mais ideal, se baseia em um método filosófico, e essa relação seria evidente e lógica se filosofia e ciência estivessem organizadas para cooperar uma com a outra, ou como complemento, como deveria ser, e não para competir, como tem sido.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Sobre um experimento antiético com ratos, sua suposta utopia e comparação com a espécie humana

 Esse foi um experimento realizado pelo cientista estadunidense John Calhoun, batizado de "Universo 25", que se consistiu na construção de uma colônia "ideal", abundante em comida e sem predadores, em que 8 pares de ratos passaram a viver. 


No início, foi observado um grande crescimento populacional da colônia. No entanto, no dia 560, pouco mais de dezoito meses após o início do experimento e depois que a população atingiu o pico de 2.200 camundongos, o seu crescimento cessou. Muitos machos, principalmente os de maior porte, entraram em colapso psicológico, passando a atacar o próprio grupo. As fêmeas foram se tornando mais agressivas, até com os próprios filhos, perdendo a vontade de criá-los ou de procriar. Então, a fecundidade dos mais jovens voltou a aumentar e surgiu uma nova classe de machos, os "bonitos", que só estavam interessados em dormir e comer. Essa população passou a ser composta principalmente por "fêmeas agressivas" e "machos bonitos". Ainda parece que foi relatado um aumento de "comportamento homossexual", violência e canibalismo. Por fim, a colônia acabou entrando em extinção.

Bem, e o que dizer sobre isso??

Será que o mesmo pode acontecer ou está acontecendo com os seres humanos por causa da relativa melhoria do padrão de vida das últimas décadas?? Será que podemos nos comparar livremente com outros animais?? Será que eu sou um exemplo individual disso???

É muito fácil fazer esse tipo de analogia, mas quando analisamos mais de perto o contexto social do experimento com os nossos, o que parece excepcionalmente parecido pode não ser tanto assim. Por isso, faço aqui alguns apontamentos buscando demonstrar essa ilusão.

1. Sobre a queda vertiginosa nas taxas de fecundidade  

Primeiro, por que as pessoas estão tendo menos filhos, atualmente? Quais são as causas ou a causa principal??

Viver em cidades, porque o custo de vida é muito mais alto nos centros urbanos do que no meio rural...

Mas por que é caro??

Será algum experimento natural ou divino?? Culpa do aquecimento global??

Não, porque as "elites" político-econômicas dominantes estão forçando a esse "estado de coisas", aumentando o custo de vida para a maioria, se são elas que controlam as sociedades.

Portanto, não é possível estabelecer uma relação direta entre justiça social e queda vertiginosa nas taxas de fecundidade. Pelo contrário, por ser justamente por causa de sua insuficiência que muitas pessoas estão tendo menos filhos do que gostariam... 

Outros poderiam culpar a escolaridade já que, aqueles com mais anos de estudo são os que estão atrasando mais "a cegonha" ou tendo menos filhos. No entanto, também são eles os que mais se preocupam em prover as melhores condições para poderem constituir famílias, conscientes sobre o alto custo de vida nas cidades. Pois se vivessem em ambientes menos difíceis, talvez, tivessem mais filhos...


2. Sobre o "aumento' de comportamentos egoístas no experimento e nas sociedades humanas modernas
 

Será a justiça social ou o materialismo que tem nos tornado, em média, mais individualistas?? 

Mas, a justiça social não é justamente sobre responsabilização de ações e consequências???


3. Sobre o aumento de "comportamento homossexual" nos ratos do experimento...

... em termos relativos ou absolutos??

Sim, porque se foi mais em termos absolutos, então, pode ser atribuído ao próprio aumento do número de ratos, se quanto maior a população de ratos, maior a visibilidade de uma minoria propensa a esse comportamento. 

Será?? 

Outro problema aí: como definir "comportamento homossexual" e ainda mais em ratos?? Genuinamente ou mais do tipo "bissexual pragmático"?? Atração real pelo mesmo sexo ou pragmatismo impulsivo??

Agora, se for em termos relativos, de frequência, esse aumento relatado pode ser atribuído ao acúmulo de mutações ou de diversidade genética, provocado pelo crescimento populacional vertiginoso. Pode ter havido um aumento real, digamos, genotípico, da proporção de ratos homo ou bissexuais nesse experimento ou, então/também, mudanças no meio social que exacerbaram essas tendências e possibilidades que, em outros cenários, não se expressariam, tal como no caso da proporção de canhotos entre seres humanos nas últimas décadas, que tem aumentado, em partes, porque crianças que nascem assim não têm sido "reeducadas" a escrever com a mão direita. 

4. Sobre os "machos bonitos"...

Li, no final de um texto sobre esse experimento, Universo 25, que esse grupo teria sido poupado da hostilidade dos outros ratos, talvez também por não procurarem se envolver em conflitos...

Interessante...

Mas será que nessa suposta utopia perfeita, os ratos não chegaram a estabelecer uma nova hierarquia social, resultando no aparecimento deste grupo mais bem alimentado ou melhor tratado por sua "aparência"?? Será que não se assemelhariam às nossas lindas "elites'' burguesas??? 

Agora, é muito importante ter em mente que se trata de um experimento que consistiu no estabelecimento de um ambiente artificial e que foi realizado com uma espécie não-humana, enquanto que, mesmo que também possamos chamar os nossos meios sociais de "artificiais", não estão estritamente projetados. 

"Fêmeas" humanas que não querem ter filhos ou que não os tratam bem quando são mães sempre existiram na história de nossa espécie, assim como machos agressivos. Nem por isso, só existem "machos bonitos" e "fêmeas individualistas" hoje em dia. Não dá para concluir que a "utopia" do experimento, utopia no sentido de melhor ambiente segundo uma perspectiva humana, reflita perfeitamente a nossa realidade atual, nesta segunda década de século XXI, pelo que já foi pontuado acima. Já que, se os ratos pararam de procriar quando ou porque atingiram o seu máximo populacional e correlacionado a um aumento da carga mutacional ou diversidade genética nessa população, o mesmo não pode ser dito para os seres humanos. Pois mesmo que o materialismo capitalista e outras ideologias, como o feminismo, estejam contribuindo para diminuir as taxas de fecundidade, o fator mais importante ainda é o custo de vida alto que inibe casais jovens de constituir famílias cedo, uma irregularidade típica de um sistema de curto prazo, projetado para enfatizar o lucro individual sobre o bem estar coletivo. Portanto, esse experimento, que poderia ser uma desculpa perfeita contra a implementação da justiça social, que, inclusive, tem sido usada por grupos de extrema direita, na verdade, revelou-se uma razão para adotá-la ou reforçá-la, mais pelas semelhanças superficiais do mesmo com as "nossas" sociedades. 



quarta-feira, 17 de maio de 2023

A personalidade, assim como a sexualidade, não é exatamente uma preferência...

 ... mas uma orientação. Tal como no caso da introversão, que não se trata apenas de preferir ou escolher conviver com poucas pessoas, conhecidas e selecionadas ou em ambientes mais calmos e sim uma necessidade praticamente fisiológica, neuro ou psicológica, visando o próprio conforto pessoal. 

Sobre o que realmente é complexo e objetivo

 (Repetido, porém mais específico)


Complexo não é o mesmo que confuso ou misterioso e sim o que é sistêmico ou multifatorial.

Objetivo não é necessariamente o mesmo que 
preciso, mas o que se direciona a um objeto, fato concreto ou abstração. 

Queremos paz

 Mas não a teremos enquanto o dinheiro valer mais que a vida, enquanto existirem miseráveis e ricos egoístas, enquanto o trabalho for sinônimo de exploração e dívidas, enquanto a justiça for apenas para os poderosos, enquanto existirem poderosos e oprimidos, enquanto continuarem invadindo as nossas almas, vandalizando os nossos sonhos, comprando os nossos desejos, enquanto vivermos num mundo falso, num castelo de mentiras, enquanto o amor for lucrativo e não sincero, enquanto continuarem essa guerra contra os vivos, especialmente contra os mais vivos.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

A maior falácia do "lugar de fala" viola o princípio mais básico da justiça

 Ser justo é ser imparcial e objetivo, é não tomar lados de imediato, de buscar não ser tendencioso, mesmo que isso seja praticamente impossível, se até a racionalidade também é tendenciosa, por ser ela mesma uma escolha específica de conduta intelectual e moral. Portanto, o ser imparcial, para ser mais preciso, não é o mesmo que não tomar lados, que seria a neutralidade, e sim de tomar o lado dos fatos, da verdade objetiva e sim ela é possível, ao contrário do que pensam os relativistas mais crônicos. Mas, segundo muitos autodeclarados de esquerda ou progressistas, o "lugar de fala" de um indivíduo é a perspectiva mais importante a ser levada em consideração, porque consiste em suas vivências em primeira pessoa, consideradas mais realistas que uma tentativa de observação imparcial. Isso significa, em termos literais, que, por exemplo, uma pessoa negra (sempre) estaria em maior capacidade de falar ou testemunhar sobre questões geralmente associadas à sua condição social, no caso, racial, tal como o racismo, do que uma pessoa de outra raça, já que tende a não apresentar as mesmas vivências. Mas essa interpretação, além de desprezar que o racismo pode ser vivido por pessoas de todas as raças por ser uma forma de tribalismo, uma inclinação universal do comportamento humano (e não-humano), também despreza que é totalmente possível que uma pessoa "de outra raça" possa, desde que baseada na razão, analisar e julgar com variável precisão questões geralmente vividas por indivíduos de outros grupos raciais. E isso se aplica à qualquer outra categoria, de gênero, sexo, orientação ou identidade sexual... Não que o "lugar de fala" seja completamente falacioso. Mas acreditar que apenas quem vivencia algo em primeira pessoa que tem a capacidade de descrever com precisão suas experiências e o que significam, isto é, que a experiência é sempre superior à capacidade racional, isso sim é uma falácia, pois seria tal como se, por exemplo, para compreender uma doença específica, em si, apenas pela experiência de adoecer dela, como se não fosse possível compreendê-la sem ter que vivenciá-la. Parece óbvio que, quem vivencia em primeira pessoa tende a desenvolver um conhecimento mais visceral. Mas nada impede que possam ocorrer exageros ou mesmo mentiras conscientes durante esse exercício e nem que, quem não vivencia determinada experiência possa desenvolver uma melhor compreensão sobre o tópico. Como conclusão, para validar o "lugar de fala" como ferramenta útil de conhecimento, é necessário que seja submetido à primazia da imparcialidade e da objetividade, enfim, da razão, que colabore e enriqueça ao invés de antagonizar com a mesma, porque, do contrário e estará contribuindo com a proliferação de uma abordagem potencialmente injusta, em que o "lugar de fala" de uma pessoa passa a ser considerado como uma prova cabal da verdade, tratando-o exatamente como uma fonte objetiva de informação, e não que se trata de uma fonte primariamente subjetiva. Por fim, essa colaboração faz-se absolutamente necessária...


Dos riscos envolvidos estão: de se estabelecer novas narrativas opressoras em que indivíduos são inibidos de falar sobre "os lugares de fala alheios", por exemplo, de um indivíduo desprovido de "aparência estética dentro dos padrões normativos" sofrer intimidação ou mesmo humilhação por outros ao opinar sobre qualquer questão atrelada; dos setores mais "reacionários" adotarem essa abordagem justamente para reforçar injustiças, tal como coibindo que "pobres falem sobre o lugar de fala dos ricos"; e ainda pode piorar muito, de que possa ser usado de maneira mal intencionada em questões jurídicas, tal como em falsas acusações de assédio ou abuso sexual...

Bem, acho que consegui demonstrar que há muitos riscos envolvidos na adoção do "lugar de fala", pelo menos de acordo com a maneira pretendida pela suposta "esquerda" identitária, que é impossível instrumentalizá-lo para que contribua sistematicamente com a prática da justiça sem ter o critério da racionalidade como o mais importante.

domingo, 14 de maio de 2023

"No passado, as pessoas não tinham acesso ao conhecimento científico e por isso acreditavam em coisas estapafúrdias"

 Primeiro, muitas pessoas continuam acreditando mesmo com maior acesso à ciência. Segundo, esse pensamento generalizante sobre o passado, comum em certos setores da ala acadêmica, despreza que pessoas mais racionais sempre existiram ao longo da história humana. Por exemplo, na idade média europeia, quando acontecia um surto de alguma doença infecciosa, era totalmente possível observar seus padrões de sintomatologia e contaminação para se chegar a conclusões aproximadas as que podem ser produzidas com todo aparato científico disponível atualmente. E é muito provável que, pelo menos uma minoria de indivíduos naquela época e, em qualquer outra de um passado distante, conseguissem pensar e concluir de maneira mais sensata, do que apelar para o pensamento mágico...

sábado, 13 de maio de 2023

Humanidade

 É a apoteose da natureza em seu máximo 

Sua destruição, sua engenhosidade e seu inchaço 
A mais aberrante de todas as espécies
Um bicho tão superficial que parece errado
A mais anti-natural
No meio de um caminho 
Entre cadeias alimentares e nuvens de contemplação 
Entre ciclos de sangue e reconstrução 
Mas se pensam como deuses, então por que agem como formigas? 
Se é a mais inteligente, então por que não é a mais evoluída? 
Os sinos das igrejas continuam a abafar 
Assim como os sofistas
E as massas continuam a se formar 
Como o planeta Solaris
Um grande e hostil oceano de consciência, força e crueldade

Se alma existe

 Se é apenas um grito de consciência 

Um desejo de eternidade 
Uma ideia que atormenta
E se limita à humanidade
Se é apenas teimosia, arrogância,
efeito colateral
E o abstrato se torna sólido
Orgânico, como a solidão universal
Se não é mais que um pedido 
Uma certeza ou ilusão
Uma necessidade de parecer, de ser mais do que é
Animal
Se isso existe tal como os pés e as mãos
Como um sentimento constante e horizontal
Se não é mais que uma palavra para se agarrar
E olhar como um totem ou talismã, se é tão forte que chega a ser redudante
Acreditar que o fogo é mais que fogo 
Que é alma

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Sobre narrativas antropocêntricas e consciência

 A consciência não é um atributo exclusivo ao ser humano, porque consiste na própria sensação da sensação, que toda forma de vida experimenta. O estar consciente não é apenas no sentido de se estar alerta ou dono de seus próprios pensamentos e ações, mas especialmente de se estar vivo e, portanto, de experimentar, de sentir o mundo, independente de como o faz e o quão nítido isso é, com exceção aos momentos ou situações em que o nível de consciência encontra-se muito reduzido ou suspenso, quando se está dormindo ou em coma profundo. 


Mas de onde veio essa noção limitada de que apenas nós, humanos, que possuímos uma consciência?? 

Veio de narrativas antropocêntricas que, tradicionalmente, reduzem a validade de um conceito mental ou cognitivo ao nível humano, ao seu nível mais alto de expressão, excluindo suas manifestações mais primárias e que, neste caso, ainda se estende às não tão primárias, por excluir boa parte dos mamíferos. 

Outro exemplo de distorção conceitual por narrativa antropocêntrica é a inteligência.

Pois mesmo o subconsciente também é consciência. Esse termo é válido para nós, que possuímos a autoconsciência mais desenvolvida de todas as espécies. O subconsciente seria mais no sentido de consciência sem o "auto", sem uma referência mais evidente do eu. A autoconsciência é como se fosse uma camada extra de consciência. Talvez seja possível concluir que os animais não-humanos vivam suas consciências tal como nós vivemos o nosso subconsciente, de maneira mais instintiva e intuitiva, ainda que, para boa parte dos seres humanos, a influência deste seja muito significativa. Por exemplo, pelo predomínio da crença religiosa ao longo da história humana e na atualidade.

A primeira vida

 O primeiro tormento

em silêncio (nunca por dentro)
se movendo
no fundo do mar
solto pelo ar
Sentindo
tocando o mundo
Sendo um mundo
sem se ver
sem saber
o que é ser
há bilhões de anos
os primeiros segundos de vida 
apenas vida
a primeira
e única
O primeiro despertar
e o primeiro adormecer
A primeira morte
Sem ninguém para lamentar
Mãe/pai de todos os sofredores,
estamos aqui por você,
somos o seu eco
que começou do zero
em versos simples e curtos
eu sempre te agradeço 
Mas também te culpo
Muito

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Eu reclamo

 Eu reclamo do calor 

Mas não estou doente
(Ainda)

Eu reclamo da ansiedade 
Mas continuo vivendo

Eu reclamo da saudade
Então eu sinto o doce vento
Do presente

Eu reclamo dos outros
Mas eu sou outro
Mais um descontente

Eu reclamo da vida
Mas eu fujo da morte
Eu reclamo tanto da vida
Porque amo essa tortura 
De ser tudo

Consciência

 É a sensação de ser um

Absoluto em si mesmo
De existir por dentro
E reagir por fora
É a própria sensação de existir
Que não existe para uma pedra argilosa
De ser composto por elementos
E se expressar pelos sentidos
É a sensação da sensação
Do agora, de ser um espaço no tempo/do tempo
Do corpo e seus limites
É a solidão de um indivíduo
De ser um território de energia
Um eco constante de internalidade
Que reage aos instantes de um dia
De chamar de dia um movimento do planeta
De acreditar que cada segundo é uma certeza da realidade,
De estar respirando, sentindo, enxergando, tocando...
De falar sozinho com a voz que não gagueja
É a própria sensação da vida
Da chama acesa
De diferença, de separação do mundo
De perspectiva
De singularidade
De olhar de volta
Do outro lado
De responder ao chamado
E não apenas seguir o curso

Exageros sobre direita e esquerda, ou nem tanto

 A "esquerda' parece que quer transformar o Brasil num Haiti


Especialmente a extrema direita parece que quer transformar o Brasil em um Brasil-colônia

terça-feira, 2 de maio de 2023

Ciência, filosofia e mais uma diferença

 A ciência é uma generalização da especialização 


A filosofia é uma especialização da generalização.

As fotos se apagam

 Como em "De Volta para o Futuro",

Mas o passado nunca volta
 
As fotos se transformam
Como aquela do meu batismo 
Com os meus padrinhos ao lado 
E minhas avós neste mundo 
Quer dizer, naquele mundo 

De um momento 
De muitos que não existem mais 

Agora, nos restam: eu e os meus pais 
Na foto principal

Em outras fotos: primos e tios que (ainda) vivem 
Que ainda compartilham o mesmo ar de existência 
O mesmo balão de ilusão e crença 

Até que suas faces se tornem sombras tristes
Seus dias, as lembranças dos outros 

Até que os outros desapareçam em seus últimos sopros
Se fechando em suas solidões também 

Até que os outros dos outros, enfim, que caiam todos na escuridão de um infinito desdém 

Por isso, apenas o amor que mantém 
Que me equilibra para não cair cedo demais 
Que evita que me empurre no mesmo lago, sem água nem fundo 

Apenas o amor que irriga minhas veias tão gastas e desiguais, 
Meu cérebro tão exaltado,
Meu coração de pulso.

Os pés no chão

 Os pés no chão do meu quintal 

Numa tarde tranquila de domingo 
E é a Terra que eu sinto
É a gravidade em que eu piso
Levitando o olhar 
Pro reflexo do sol, dentro de uma sombra
Do sonho azul às estrelas do paraíso 
Da ilusão lá em cima
E, aqui, embaixo
Os resquícios de mais uma semana
Virando a esquina... 
É o labirinto 
Que eu conto no calendário, 
No tempo imaginário:
Quantos caminhos que ainda faltam 
Pra voltar no primeiro dia??

Não era para olhar pra vida

 Porque quando se olha 

É o tempo 
É a tristeza que domina 
Porque o olhar perturba
Desvia do propósito original da vida
De apenas viver
Sem separá-la do ato
Sem lhe dar um nome, conceito 
Ou explicação 
Um lugar abstrato para (se) olhar  
E sentir (se), tão literalmente

E os outros animais têm a sorte 
Que não temos
De não olhar pra ela
tão curta e frágil 
Tão intimamente
E concluir o quão vida se é 

É uma consolação saber que toda vida é igual
Que ninguém vence,
Especialmente os mais iludidos,
Os mais inconsequentes 
Que não sentem o chão nos pés.