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segunda-feira, 22 de maio de 2023

O problema crônico do "bullying" nas escolas brasileiras, suas causas e graves consequências

 Eu já fiz vários textos comentando sobre os problemas estruturais das escolas, particularmente das brasileiras, e também da educação superior. Comentei sobre os métodos arcaicos ou pseudocientíficos de seleção e avaliação que desprezam tacitamente a realidade da diversidade psicológica e cognitiva humana, a tal ponto que as escolas poderiam ser consideradas como lugares de opressão ou tortura. Mas, eu só falei por alto sobre um de seus maiores problemas, talvez desde sempre, a prática comum de "bullying" ou perseguição sádico-sistemática. Então, buscarei aprofundar nesse texto sobre causas, consequências e fatores relacionados ao tópico. 


Primeiro de tudo ou, o mais importante, é preciso deixar explícito que as escolas, em média, pouco fazem para combatê-lo e as causas parece que são múltiplas. Desde a ignorância de alguns ou muitos docentes, tendendo a justificar tais comportamentos como "típicos da idade" ou culpando as vítimas por sofrerem perseguição. Até a dificuldade de empregar castigos mais severos aos que o praticam, por causa do domínio ideológico da "pedagogia moderna" que busca evitar qualquer tipo de punição, além da presença perniciosa de muitos pais dentro do ambiente escolar, do tipo que não acompanha o desempenho dos seus filhos e não admite que possam ser castigados por outros adultos em caso de necessidade, o que tragicomicamente parece explicar uma das causas para o mal comportamento dos mesmos, refletido nos próprios pais. Então, como resultado da dificuldade das escolas para lidar com essa questão, esse comportamento desprezível e reprovável continua a ser praticado livremente, com pouca ou nenhuma repercussão, além dos traumas, vezes profundos, que as vítimas passam a acumular, associando a escola a um ambiente tóxico. Nos casos mais graves, em que o "bullying" chega a se manifestar fisicamente, os alvos podem buscar por autoproteção, já que não é comum que não encontrem qualquer apoio, quer seja de professores, colegas de classe e mesmo da família. Isso quando não têm em mente se vingar de seus perseguidores, mas também da própria escola. 

Então, é sabido que as questões estruturais das escolas e daqueles que as frequentam são atravessadas pelo entorno, pela sociedade como um todo, e quando há, claramente, um predomínio de narrativas e práticas extremistas, diga-se, de ambos os lados do espectro político- ideológico, quer seja pela adoção de políticas econômicas neoliberais ou pela adoção de políticas sócio-culturais identitárias, temos: um aumento das desigualdades sociais, da desregulação do mercado de trabalho, enfim, um aprofundamento das mesmas mazelas, mais a imposição midiática e acadêmica de narrativas, inclusive nas escolas, e que, mesmo se bem intencionadas, são altamente polarizantes, se consistindo em novas práticas de injustiças, mas engomadas por discursos bem construídos e cheios de empatia superficial, teórica e seletiva. 

É evidente que a inserção massificada dos jovens às redes sociais desreguladas também têm contribuído para o acesso a conteúdos altamente inflamáveis que alvejam exatamente perfis de tipos vitimizados, com pouco ou nenhum suporte de sua comunidade. Bem, depois desse cenário desastroso, a ocorrência de eventos trágicos se tornou apenas uma questão de tempo. Mas o pior é que a maioria das leituras que têm sido realizadas, por sociólogos, educadores... para explicá-los, desprezam uma de suas causas mais importantes, o "bullying" e a incapacidade crônica das escolas para lidar com isso da melhor maneira possível. Essas interpretações quase que culpam totalmente os autores desses crimes, provavelmente evitando criticar a inoperância escolar em relação ao "bullying", de se evitar críticas diretas à escola, comportamento excessivamente defensivo de muitos da área da educação, que já carregam muitas críticas, infundadas e outras nem tanto, sobre seus métodos e resultados, além dos problemas estruturais do ambiente escolar e dos ambientes familiares e sociais associados. No entanto, mesmo que existam outros fatores, como uma predisposição que pode levar certos indivíduos a tomar atitudes extremas em cenários de discriminação, não dá para desprezar a influência do meio e o escolar, definitivamente, se tornou muito propício, em partes, por sua própria culpa. Então, enquanto a tolerância ao "bullying" continuar nas escolas, o risco de que tragédias, como as de estudantes praticando atos violentos, na maioria das vezes como represália à mesma violência a que têm sido vitimados, continuará alto e não adianta culpar apenas algoritmos ou redes sociais, especialmente quando a escola pouco faz para combater discriminação e perseguição sádica em seu ambiente. Mas também não dá para culpar apenas diretores, professores, pedagogos, se os problemas estruturais das escolas e da sociedade são mais profundos e complexos. Porém, há de se começar a punir de maneira proporcional comportamentos cruéis de estudantes contra estudantes ou mesmo contra professores e outros que frequentam o ambiente escolar. É por isso que a "pedagogia moderna" deveria passar por uma grande reforma, se já está claro que não é possível (tentar) educar apenas com tentativas de persuasão ou punições leves. 

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