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quinta-feira, 18 de maio de 2023

Sobre um experimento antiético com ratos, sua suposta utopia e comparação com a espécie humana

 Esse foi um experimento realizado pelo cientista estadunidense John Calhoun, batizado de "Universo 25", que se consistiu na construção de uma colônia "ideal", abundante em comida e sem predadores, em que 8 pares de ratos passaram a viver. 


No início, foi observado um grande crescimento populacional da colônia. No entanto, no dia 560, pouco mais de dezoito meses após o início do experimento e depois que a população atingiu o pico de 2.200 camundongos, o seu crescimento cessou. Muitos machos, principalmente os de maior porte, entraram em colapso psicológico, passando a atacar o próprio grupo. As fêmeas foram se tornando mais agressivas, até com os próprios filhos, perdendo a vontade de criá-los ou de procriar. Então, a fecundidade dos mais jovens voltou a aumentar e surgiu uma nova classe de machos, os "bonitos", que só estavam interessados em dormir e comer. Essa população passou a ser composta principalmente por "fêmeas agressivas" e "machos bonitos". Ainda parece que foi relatado um aumento de "comportamento homossexual", violência e canibalismo. Por fim, a colônia acabou entrando em extinção.

Bem, e o que dizer sobre isso??

Será que o mesmo pode acontecer ou está acontecendo com os seres humanos por causa da relativa melhoria do padrão de vida das últimas décadas?? Será que podemos nos comparar livremente com outros animais?? Será que eu sou um exemplo individual disso???

É muito fácil fazer esse tipo de analogia, mas quando analisamos mais de perto o contexto social do experimento com os nossos, o que parece excepcionalmente parecido pode não ser tanto assim. Por isso, faço aqui alguns apontamentos buscando demonstrar essa ilusão.

1. Sobre a queda vertiginosa nas taxas de fecundidade  

Primeiro, por que as pessoas estão tendo menos filhos, atualmente? Quais são as causas ou a causa principal??

Viver em cidades, porque o custo de vida é muito mais alto nos centros urbanos do que no meio rural...

Mas por que é caro??

Será algum experimento natural ou divino?? Culpa do aquecimento global??

Não, porque as "elites" político-econômicas dominantes estão forçando a esse "estado de coisas", aumentando o custo de vida para a maioria, se são elas que controlam as sociedades.

Portanto, não é possível estabelecer uma relação direta entre justiça social e queda vertiginosa nas taxas de fecundidade. Pelo contrário, por ser justamente por causa de sua insuficiência que muitas pessoas estão tendo menos filhos do que gostariam... 

Outros poderiam culpar a escolaridade já que, aqueles com mais anos de estudo são os que estão atrasando mais "a cegonha" ou tendo menos filhos. No entanto, também são eles os que mais se preocupam em prover as melhores condições para poderem constituir famílias, conscientes sobre o alto custo de vida nas cidades. Pois se vivessem em ambientes menos difíceis, talvez, tivessem mais filhos...


2. Sobre o "aumento' de comportamentos egoístas no experimento e nas sociedades humanas modernas
 

Será a justiça social ou o materialismo que tem nos tornado, em média, mais individualistas?? 

Mas, a justiça social não é justamente sobre responsabilização de ações e consequências???


3. Sobre o aumento de "comportamento homossexual" nos ratos do experimento...

... em termos relativos ou absolutos??

Sim, porque se foi mais em termos absolutos, então, pode ser atribuído ao próprio aumento do número de ratos, se quanto maior a população de ratos, maior a visibilidade de uma minoria propensa a esse comportamento. 

Será?? 

Outro problema aí: como definir "comportamento homossexual" e ainda mais em ratos?? Genuinamente ou mais do tipo "bissexual pragmático"?? Atração real pelo mesmo sexo ou pragmatismo impulsivo??

Agora, se for em termos relativos, de frequência, esse aumento relatado pode ser atribuído ao acúmulo de mutações ou de diversidade genética, provocado pelo crescimento populacional vertiginoso. Pode ter havido um aumento real, digamos, genotípico, da proporção de ratos homo ou bissexuais nesse experimento ou, então/também, mudanças no meio social que exacerbaram essas tendências e possibilidades que, em outros cenários, não se expressariam, tal como no caso da proporção de canhotos entre seres humanos nas últimas décadas, que tem aumentado, em partes, porque crianças que nascem assim não têm sido "reeducadas" a escrever com a mão direita. 

4. Sobre os "machos bonitos"...

Li, no final de um texto sobre esse experimento, Universo 25, que esse grupo teria sido poupado da hostilidade dos outros ratos, talvez também por não procurarem se envolver em conflitos...

Interessante...

Mas será que nessa suposta utopia perfeita, os ratos não chegaram a estabelecer uma nova hierarquia social, resultando no aparecimento deste grupo mais bem alimentado ou melhor tratado por sua "aparência"?? Será que não se assemelhariam às nossas lindas "elites'' burguesas??? 

Agora, é muito importante ter em mente que se trata de um experimento que consistiu no estabelecimento de um ambiente artificial e que foi realizado com uma espécie não-humana, enquanto que, mesmo que também possamos chamar os nossos meios sociais de "artificiais", não estão estritamente projetados. 

"Fêmeas" humanas que não querem ter filhos ou que não os tratam bem quando são mães sempre existiram na história de nossa espécie, assim como machos agressivos. Nem por isso, só existem "machos bonitos" e "fêmeas individualistas" hoje em dia. Não dá para concluir que a "utopia" do experimento, utopia no sentido de melhor ambiente segundo uma perspectiva humana, reflita perfeitamente a nossa realidade atual, nesta segunda década de século XXI, pelo que já foi pontuado acima. Já que, se os ratos pararam de procriar quando ou porque atingiram o seu máximo populacional e correlacionado a um aumento da carga mutacional ou diversidade genética nessa população, o mesmo não pode ser dito para os seres humanos. Pois mesmo que o materialismo capitalista e outras ideologias, como o feminismo, estejam contribuindo para diminuir as taxas de fecundidade, o fator mais importante ainda é o custo de vida alto que inibe casais jovens de constituir famílias cedo, uma irregularidade típica de um sistema de curto prazo, projetado para enfatizar o lucro individual sobre o bem estar coletivo. Portanto, esse experimento, que poderia ser uma desculpa perfeita contra a implementação da justiça social, que, inclusive, tem sido usada por grupos de extrema direita, na verdade, revelou-se uma razão para adotá-la ou reforçá-la, mais pelas semelhanças superficiais do mesmo com as "nossas" sociedades. 



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