Me coloque para fazer uns exercícios de matemática mas não espere um sorriso franco do meu rosto, porque eu não vou te dar. Sim, eu vou ficar ansioso, chateado, olhando pra a janela, se tiver uma, desatento, porque eu não gosto e não tenho vocação natural pra resolver problemas matemáticos. A matemática é complexa demais pra mim, parece até que estou lendo em grego clássico ou em mandarim lá da Cochinchina. A matemática me faz ter certeza quando à incerteza e isso me deixa nervoso, mas não é apenas comigo, e não apenas a matemática, porque pra outras pessoas outros fatores podem ter o mesmo efeito indesejável. Quando os nossos cérebros avantajados e complicados se deparam com algo que identificam como ''ilógico'', que não faz sentido, que é complexo demais pra entender então tende a refugar ou a demonizá-lo. É o que parece acontecer com os homofóbicos especialmente quando nos deparamos com os seus argumentos, quase sempre nesta linha da ''normalidade e da anormalidade'' ou melhor, daquilo que consideram como natural e como inatural.
Homossexuais não procriam ou raramente o fazem e isso já é motivo para que os homofóbicos irreflexivos [n]os ataquem, porque em suas cabeças hiper-pragmáticas, de trabalhadores, as coisas tem sempre que ter alguma serventia, tem de ser úteis pra alguma finalidade, do contrário, são inaturais, inúteis, problemáticas, etc..
E nada mais histriônica porém significativamente útil do que um procriador porque sem vida, não há vida.
Em um outro e se possível breve texto eu vou comentar sobre este cisma existencial entre os sociotipos de trabalhadores e de observadores, isto é, entre a ''conscienciosidade'' e a ''abertura para experiência'', mas que também podem ser, creio eu, facilmente traduzidas como ''ordem e utilidade'' versus ''experimentação e vivenciação''.
Como eu já falei nos primeiros textos para diferenciar os sociotipos, os trabalhadores, por serem desprovidos de uma grande consciência ou despertar da vida, por serem mais amalgamados, mais ''bichanos'', mais domesticados, mais designados para o trabalho, tal como se fossem [e talvez sejam} proto-savants de alto funcionamento, tem pouca fome de viver intensa e significadamente. O contrário acontece com o mais desperto observador, que por causa de sua condição melancólica e eufórica, isto é, omnivertida, completa enquanto ser, rapidamente internaliza e torna ainda mais real, mais consciente, a artificialidade que se consistem as sociedades humanas, vendo-as como insuficientes para que possam sanar as suas fomes de curiosidade e de vivenciação, pelo simples ato de viver a vida. O trabalhador não liga que ele está vivendo, que isso é fantástico, único, misterioso e frágil, não liga se morrer amanhã, ou o faz de modo muito mais pragmaticamente desprendido do que o observador. Uma das características deste sociotipo assim como das massas em geral é de um constante torpor que os torna muito menos curiosos e entusiasmados com a vida desde as coisas supostamente mais simples, como o canto dos pássaros ou uma chuva de verão. Muitos trabalhadores são de esquizotípicos parciais, pois tendem a se ligar à crenças metafísicas que os garantem certezas existenciais, isto é, ''resolvem'' justamente o problema da incerteza existencial que praticamente caracteriza o observador e o faz observar e sentir o mundo de maneira muito mais intensa.
Viver é a finalidade em si...
O trabalhador internaliza rápida e precipitadamente que o laboratório social em que vive e em que é usado, se consiste na única e perene verdade, ou, apesar de saber que não é apenas isso, não tem forças intrínsecas que o faça superar esta etapa de conscientização e de posterior tomada subsequentemente lógica de decisão, isto é, de despertar quanto à vil realidade que antes tomava como a única que existia, e a de se tentar se desconectar deste nível baixo, semi-servil de consciência existencial e de buscar por valores morais/éticos e filosóficos/de vivenciação ou experimentação da vida muito mais altos, metaforicamente falando, de começar a escalar as montanhas em busca da cristalina sabedoria.
Portanto para a maioria dos trabalhadores, especialmente os mais característicos ou pragmaticamente utilitários e portanto ''anti-artísticos'', a homossexualidade nada mais é do que um transtorno sem utilidade, enquanto que para a maioria dos observadores, especialmente os mais característicos ou uber-artísticos/verdadeiramente filosóficos/sábios a homossexualidade se consiste em mais uma característica ou variedade de comportamento que apresenta o simples e fundamental valor da vivenciação, da experimentação, porque a vida assim o é, em seu íntimo, queiramos ou não, entendamos ou aceitamos ou não, independente do seu valor ''utilitário'' e neste caso, mais especificamente falando, do seu valor reprodutivo. Mas para uma mente existencialmente ou filosoficamente limitada, de natureza insensível, eternamente pré-consciente [eternamente enquanto dure}, não existe tal coisa. Isso explica o porquê deste tipo tender a ser ''artisticofóbico'', porque não consegue ver o valor existencial da arte, porque ele já não é capaz de ver valor na vida em si, em sua própria vida, ainda que a viva mais protegida das amarguras de uma auto-consciência mais desperta e que muitas vezes pareça amá-la mais do que a nós. Nada se equipara à autenticidade ou à honestidade dos fatos, e quanto mais desperto ou conhecedores estamos sobre algo, mais autênticos ou legítimos estaremos e portanto, um melancolicamente eufórico pensador, inevitavelmente verá mais valor na vida, de maneira menos ou mais completa, do que um trabalhador, mais auto-protegido de sua verdade, tal como se tivéssemos dois cavalheiros disputando o amor de uma dama e um deles soubesse mais de sua pretendida do que o outro, isto é, mais próximo da verdade, da autenticidade de se de fato saber.
A homossexualidade como conclusão é vista pelos homofóbicos que são em sua maioria de mentes mais estreitas, de trabalhadores [e quando ocorrem mesclas deste tipo com outros sociotipos, o ódio à homossexualidade caminhará para ser inevitavelmente de natureza pragmática, que tende a ser intimamente relacionada com a sua mentalidade pragmaticamente utilitária), como um estorvo sem valor [reprodutivo], apesar de que, baseados em uma perspectiva sub-perceptiva eles estão certos, porque eles são incapazes de compreende-la, pois está acima de suas capacidades, e até poderíamos concluir que, homofóbicos especialmente os de trabalhadores, também tendem sentir o mesmo sentimento de incompreensão e desprezo em relação ao valor da arte. Se não compreendemos, refugamos nos aprofundar no assunto, ou o demonizamos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário