Um gangorrar em meu passado,
Pés pequenos, pequeno endiabrado,
O vento e o sol daqueles tempos,
As tardes soltas e ingênuas,
A infância feliz e serena,
Sem penumbras, de baixo de um varal de roupas,
Sem sustos, de baixo das mãos de Deus,
Lembranças que continuam a vibrar,
Eco que vem lá longe,
Cravou fundo em meu cérebro infantil,
Marcou profundo em minha alma,
Nem sei se lembro mesmo das cenas,
Nem em primeira pessoa estão,
Só lembro do que fazia, quase sem lembrar,
Quase uma falsa memória, uma fantasia ,
Mas lembro e essas coisinhas duram,
São terra de minha vivência, da minha vida,
São a extensão, até onde minha alma pode navegar,
Quilômetros de minutos, horas, segundos,
São do tempo que eu nem sou mais,
Que eu sinto pelo eco,
Que eu nem sei se sou mais,
Um gangorrar forte,
Queria tirar os pés do chão,
Queria pisar no céu lá distante,
Nas nuvens, como um anjo e a sua harpa,
Queria e era apenas o agora,
Como eu era ignorante, porque me ignorava,
Tempos de inocência, de impulso,
Que sentenciavam o seu fim,
Se despedindo em cada brincar, em cada viver,
E um dia eu desperto,
Pôs-me a sorrir, e a perguntar o que é isso,
Se foi o balançar de minha mente que foi alto demais,
Se eu sou desde então, o produto de uma reação, protetivo e demente, buscando se salvar,
Se caí de um céu sem pecados e preocupações,
E se eu, um anjo caído, senti o asfalto quente em minhas mãos,
Se o seu calor que queima me acordou,
E se, desde então, eu penso mais do que vivo,
E vivo mais em meus pensamentos,
E vivo mais na fronteira entre ser e viver,
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