No início, quando ainda somos novinhos, analisamos primeiro e criticamos depois [ ou não, só parece lógico, mas não é factual porque quando somos crianças ainda estamos nos desenvolvendo mentalmente, ainda que seja verdade que tendamos a ser mais curiosos nesta fase do que na vida adulta]. Ou, a partir do momento em que vamos amadurecendo, biologicamente falando, vamos nos tornando mais crítico-'analíticos'', e menos em analítico-críticos, isto é, passamos a criticar antes para analisar depois, mas analisar o que**
A crítica que fazemos primeiro, é claro.
A crítica, em um mundo perfeito, deve vir quase sempre depois da análise.
Primeiro, compilamos fatos [ e factoides ], construímos as nossas compreensões factuais sobre certo assunto, da maneira mais neutra possível.
Só depois que será necessário a crítica, isto é, criticar aquilo que foi analisado. O problema é que ao longo do tempo, pelo que parece, vamos nos tornando mais e mais críticos, e sem termos sido analíticos antes, porque como vamos ampliando nossos arcabouços pessoais de informações, fatos e de factoides [especialmente quando não temos ciência de que também os internalizamos], então vamos ''deixando'' de analisar as informações antes de criticá-las, porque como já temos informações internalizadas ou ''referências de 'análise' '' então as usamos rapidamente, como se fossem muito mais úteis do que uma simples, honesta e imprescindível análise/re-conhecimento de padrões. Em outras palavras, quando aprendemos algo novo e o internalizamos, tal como se fosse a verdade absoluta, tendemos a deixar de lado a análise, que passa a ser entendida como ''voltar atrás''. Mas é sempre importante fazê-lo pois demonstra maior humildade intelectual além de ser muito mais eficiente, por incrível que possa parecer. Portanto a maioria tende a pensar assim ''se eu já estou no nível 4 por que é que eu teria que voltar ao nível 1 para entender sobre certo assunto*'' E a resposta é muito simples, porque o ''nível 1'' é o reconhecimento direto de padrões, é a base para qualquer tipo de atividade ou esforço intelectual ou cognitivo. É a volta às origens/à estrutura do pensamento que é universal em relação a todas as questões: reconhecimento de padrões.
No entanto é claro que precisamos ter uma base para que possamos analisar e é inevitável que acabaremos construindo e ampliando os nossos arcabouços de informações internalizadas e que os usaremos, com cada vez mais rapidez e confiança. Na verdade, é aquilo que sempre falo: não somos nós, mas ''os nossos cérebros'' que o fazem por nós. Portanto mesmo quando já tivermos bases é importante voltar à velha análise/reconhecimento de padrões, de coerência, independente de qualquer outro fator, e só depois, tomar as medidas que pressupõe-se, serão as mais sábias, pois esta é a verdadeira, a derradeira ou primordial base de tudo aquilo que pensamos e que fazemos.
Sim, você pode ter internalizado que ''o racismo institucionalizado seja o principal causador das diferenças raciais em desempenho escolar, laboral e de padrão de vida''. Você, portanto, ''já se encontra no nível 4'', factualmente correto ou nem tanto. No entanto você precisa voltar ao simples e imprescindível reconhecimento de padrões para saber se isso é verdade, verdade parcial ou não. Por exemplo, se o racismo é institucionalizado [leia-se, universalizado] então por que é que temos pessoas ''negras'' (usando novamente a ''forçação de barra'' racismo = anti-negro) muito bem sucedidas*
Esta dúvida é fruto de um básico reconhecimento de padrões, porque se existe uma institucionalização sistemática e universal de discriminação [negativa] contra os negros então não faz sentido que tenhamos uma minoria deles que seja muito bem sucedida. Será que eles pagam uma taxa extra pra não serem pegos pelo bicho papão ''racismo institucionalizado''**
(isto ainda não significaria que ''portanto não existe racismo'')
No entanto também temos outra questão porque, pelo que parece, ser talentoso para um ''simples' reconhecimento de padrões, não está universalmente presente entre os seres humanos, ou talvez, também, a principal fraqueza humana não esteja exatamente em sua cognição, mas em seu lado psicológico.
Quase todo mundo é capaz de reconhecer os padrões mais salientes de qualquer assunto, especialmente os assuntos ''mais importantes'' ou ''oniscientes''. O problema portanto não parece ser especialmente a cognição, pois não é ela que nos rende com o seu charme irresistível mas justamente o nosso lado psicológico, porque é lá que terminaremos de construir os nossos pontos de vistas, e talvez possamos até mesmo dizer que a crítica é muito mais emocional do que a análise, ainda que em uma estrutura crescente e ideal de pensamento, toda crítica precise ter como base uma análise precisa.
Parece que a análise tende a funcionar exatamente como um freio instintivo, ainda que inevitavelmente precisará passar pela crítica, que me parece, sempre ser mais emotiva, e que geralmente tende a ter um resultado não muito agradável aos olhos da sabedoria.
O lógico analisa ''sem criticar''... o intuitivo emotivo critica, ''sem analisar''...
O lógico, aquele que eu defini como ''parcialmente racional'', que apesar de seguir uma linha factual termina frio e pragmático demais para poder alcançar ares mais racionais, quiçá sábios, me parece que tende a analisar, especialmente aquilo que tem sido a regra, geralmente naturalista, e a criticar pouco, especialmente em relação à questões que exigirem maior sensibilidade, resultando em julgamentos frios, que são entendidos, pretensamente falando, como corretos. Como a maioria das pessoas, o lógico também será fortemente propenso a criticar primeiro OU a analisar a própria crítica, só que geralmente construída com base em seus preconceitos cognitivos cristalizados, e que tendem a estar mais próximos da realidade, especialmente a ''insensível'' realidade no/do reino animal, na/da ''realidade por si mesma''. O lógico, segue a lógica da natureza. Não está de todo errado porque no fim nada está 100% errado, mas tampouco será perfeccionista ou ideal. O lógico ao desprezar o lado afetivo ou emocional da realidade se perderá de um caminho de completude perceptiva que evidentemente necessita deste aspecto para se completar e portanto se fazer autenticamente característica. O caminho para uma completude perceptiva não precisa apenas de um calculismo frio de análise mas também o calor de nossas emoções, ambos, bem pontuados e colocados.
O emocional, que é mais intuitivo, em média, por outro lado, parece que tenderá a fazer o caminho oposto, se tornando demasiadamente crítico e menos analítico e com agravantes pois a sua compreensão factual tenderá a ser muito mais poluída por factoides do que a compreensão factual dos tipos mais lógicos. Quem critica mais o faz por razões mais emocionais do que analíticas. Quem analisa mais ou excessivamente, será mais pragmático, menos revoltado* mais apático* ... enquanto que o ideal mesmo é o de ser preciso no pensamento, em que algumas vezes será necessário ser mais emocional, em outras vezes mais analítico, e em outras situações, mais equilibrado entre os dois. O fato é que no final, o mais importante é o de respeitar e seguir a estrutura ideal de pensamento, observar e analisar primeiro e criticar depois,
Mas criticar o que*
Oras, criticar a compilações de padrões que encontrou... e sempre compará-las com as suas ''referências de 'análise' '' ou bases.
Por exemplo, vamos imaginar que você tenha internalizado que ''somos todos iguais''. Então, como método correto de pensamento, você precisará comparar este dogma com a realidade, com os padrões que for encontrando. Dentro desta frase existem muitas possibilidades de interpretação, a maioria delas que não estão erradas. Como eu já falei em um texto bem antigo, podemos ser todos iguais por sermos vidas. Isso não está errado. No entanto, não somos clones, que literalizaria e universalizaria o termo, transformando-o em uma verdade absoluta. Se não somos clones então a frase ''somos todos iguais'' está particularizadamente correta mediante algumas perspectivas mas não em relação a outras.
Portanto, o emotivo mais intuitivo internaliza com mais vigor e se torna mais confiante para criticar... sem analisar, sem voltar ao básico reconhecimento de padrões, enquanto que o lógico, mais frio e analítico em seu pensamento, será mais propenso a desprezar uma análise emocional (crítica), limitando-se a uma fria varredura de padrões e tendendo a aceitar o mundo como ele é, ponderando por poucas mudanças, especialmente aquelas que forem de natureza mais emocional, mais moral. Critica menos em termos moralmente factuais, mas tende, assim como o mais emotivo, a ''analisar a própria crítica'', ainda que o seu arcabouço de informações internalizadas não tenda a diferir muito em relação à ''insensível'' realidade 'natural'. Precisamos, idealmente falando, passar por todos esses processos: primeiro a análise, segundo, a crítica e como resultado o julgamento, que pode ser entendido como a terceira e derradeira parte deste processo. O lógico analisa demais, e critica de menos, ainda que no final, ele acabe também ''analisando a própria crítica'', que como foi dito, tende a ser mais ''pé no chão'', ''convencional'' e mesmo mais factual, ainda que incompleta. O intuitivo critica demais, porque toda crítica parte de uma motivação emocional, enquanto que toda análise parte de uma motivação mais puramente cognitiva. E ao criticar demais, volta menos ao básico reconhecimento de padrões, pois confia muito em suas bases ''nível 4..''. Neste caso, além de ''analisar a própria crítica/ informações internalizadas ao invés da própria análise/reconhecimento de padrões'' também o fará com base em uma maior poluição de factoides, os próprios exemplos que eu usei: ''racismo institucionalizado como causa das diferenças raciais'' e ''somos todos iguais''. Pensadores mais racionais e os mais sábios caminharão para usar essa estrutura de pensamento de maneira mais adequada com o possível diferencial em que os primeiros tenderão a ser mais repetitivos em suas ''condutas ideacionais'', respeitando a estrutura do pensamento, até demais, sempre analisando primeiro, e criticando depois, enquanto que o mais sábio sabe que em muitas situações a emoção será mais importante ou mesmo a ordem ideal de como pensar nem sempre será tão ideal assim. Talvez até pudéssemos descrever o racional como uma espécie de ''sábio frio''.
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