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domingo, 6 de dezembro de 2015

O ''experimento'' soviético da privação do sono e analogia com o gênio e as superexcitabilidades de Dabrowski



Olhos incansáveis

O gênio (e especialmente o tipo sábio) é a privação da ignorância.

O ''experimento'' soviético, ''pelo bem'' da ''ciência'', mostrou-nos, ao que parece, o quão louco o ser humano se torna, ao ser privado de umas boas horas de sono, de descanso da vida, esta morte lenta que nos é imposta. O vídeo, este que encontra-se disponível pela web, causou-me espanto, e acredito que também para muitos daqueles que o viram, porque no final desta experiência desumana, todas as cobaias sentiram-se extremamente felizes, viciadas em suas novas condições de insones superexcitados e que não queriam mais voltar ao estado normal de ser humano.

A ''alegria'' histriônica depois de uns 14 dias sem fechar os olhos e dormir, remeteu-me num certo dia, à alegria do estado sempre alerta e vívido de dois titânicos do intelecto humano, o gênio e o sábio. 

O gênio, o superexcitável e/ou neurótico, que contempla-se por osmose, que de tão aceso, mal pode apagar-se, meditações são para budistas e mortais, é imortal em sua luta contra a realidade, mas a favor dela. Porque o gênio psicótico é o matoide, o louco de pedra, mas que passa incólume aos olhos menos velozes ou acurados. É um misto desagradável, algumas vezes cômico, entre o normal e o aloucado. Confundem-no, em seu estado mais puro, com o gênio, o de fato. Talvez o seja, em partes, mas é contraprodutivo, por lutar contra fatos dados.  Leva a sério que a realidade é relativa, é o patrono de todas as ilusões religiosas. Mas evoluiu natural, ao encontro de artes menos obtusas, a filosofia e a religião da lógica, a ciência, o conhecimento burocratizado. A alegria do gênio é vívida, despudorada, quando é pela arte com que se apaixona, taciturna, quando a amante é uma ciência-madona, de proporcionalidades apuradas, uma linda moça loura de Florença ou de Veneza, ou moço, renascentistas por excelência. A dimensão do gênio, assim como do sábio, se assemelha ao estado completamente abjeto porém novíssimo, com que essas pobres cobaias, c'algum dia foram seres humanos, se encontraram, ao serem libertas de tal experimento, monstruoso, sem qualquer pertinência. De igual, ambos se encontram ou se dirigem, quase que natural, a mundos completamente novos de existir, à dimensões donde pouquíssimos sabem onde é, como faz para se chegar. Tal como chegar ao local onde um tesouro perdido se encontra e encontrá-lo, se perdendo do mundo conhecido. De chegar aos mais intransponíveis trechos de montanhas, que de tão difícil acesso, foram amaldiçoados por aldeões e sábios locais, ou apenas por chefes. Ou o navegante que se perde da frota de navios e se encontra preso numa nova realidade, nunca antes percebida, sentida. O choque de dois mundos, um conhecido e outro completamente novo. O aventureiro, como o mensageiro da ''civilização'' de ideias e conhecimentos prévios. E o mundo a explorar, selvagem, com muitos perigos que podem sequestrar a razão, e faze-los dementes.

O gênio explora sem a parcimônia do sábio, sua radicalização a flor da pele, tende a torná-lo um nauseante tateador de novas formas, mas sempre com uma alegria em seu descobrir, que se assemelha, ainda que remota, aquela sentida nos pobres seres, usados como ''objetivos de experiencia científica''. Alegria reluzente, também se faz presente entre os sábios, se não um tipo de genio, ao menos tão importante quanto o primeiro gajo, que muitas vezes é, sem tendencias unilaterais para favorecer um dos sexos, se não a verdade deste desequilíbrio.

As superexcitabilidades, a luz mais acesa e brilhante de um sistema corpo-mente, talhado ao acaso, comprovado por sua raridade, manifesta-se nestes, que foram privados da ignorancia, se por experimento ou por experiencia, de mentes extremamente inquisitivas, que querem queimar todas as bruxas da confusão, faze-las queimarem chorosas, ve-las se tornarem corpos desfigurados pelo calor da raiva, estes, sempre assediados por porques, sempre em busca daquilo que tantos negam, ver o sol quando todos fecham os olhos, para que não ardam, emulando vivencias translúcidas de cores, a saltitarem sem ordem prévia, por suas visões recém saídas do amarelo rei, mais vívidos de amor aquilo que lhes formiga mãos e pés. Se emotivo, sexual, físico, de espírito ou intelectual, ou quando todos estes fogos se encontram presentes, uma força onipotente, em sábios, que se faz mais serena, em genios, é quase sempre a gangrena da alma a se descortinar, corroendo o corpo inteiro, para que outro, mais profundo, possa se mostrar. O genio usa da sabedoria mas não a é, enquanto que não preciso me alongar mais sobre o seu verdadeiro cavalheiro, o mais habilidoso na capacidade de ver bom senso, onde quer que esteja, onde quer que vá. Este jogo de esconde-esconde, de ter consciencia dele e de brincá-lo, sério, de rosto adulto, a procurá-lo. 

A certeza desta alegria, assemelha-se a segurança do trivial, que a encontra rápido, em sistemas de crenças a venda, em feiras de mente, sofisticados como uma ideologia urbana, uma quase lenda, ou rústicos e infantis, como uma religião antiga, a nos embaraçar por sua força, nos arrastar pelo espaço e tempo sob sua totalidade, se há sem igual fraqueza por parte dos humanos, ao se deixarem envolver por seus encantos baratos, ainda assim, caros e cada vez mais caros, como o envelhecer de um bom vinho, dizem. Se quanto mais rotineiro, mais difícil de se desvencilhar de seu abraço mortal, e a ignorancia não quer constante vigilancia ou ação, especialmente aquela que faz evoluir, não quer dor, não quer sentir-se de dualidade, bipolarizada em sua natureza. Não pode evitar que a bruta realidade nos faça de boneco, de adorno, mas pode dar-lhe a segurança que essas mentes necessitam, se são fracas na intensidade, para se entender a vida, e fortes quando pegas no colo e enganadas com músicas puras de ninar, ''feche os olhos e deixe-nos te contar como é o mundo''.

A certeza de estar no caminho certo, ainda que incerto em sua penumbra, em suas crescentes realidades, nunca vistas, nunca sentidas, numa expansão de descobrires. O genio é o desbravador do amanhã, o sábio é o que desbrava o passado e o presente, não se esquece do que se foi, os ve sempre como um aprendizado. 

Se sábio ou genio, há uma natural privação da ignorancia (total ou específica), e tal como ocorreu com as vitimas reais de monstros, respeitáveis sob capotes de cientistas, esquecidas pelo espaço e tempo, que vivenciaram fins tenebrosos, ao menos que, sob a mais histérica das alegrias, a púrpura sensação de se encontrar, e de viver este encontro, mais auto estima, mais amor por si, não há, limpando suas existencias dos detritos, da sujeira que as ilusões nos jogam, de saber que está no caminho certo, são emoções reais, de magnitude ímpar, comparáveis ao melhor momento da vida de cada um de nós, neles, nos de virtude, não é um momento, mas uma constancia, uma personalidade que desabrochou completa, na desintegração das prisões do ''não-querer-saber'', ou na pureza da objetividade existencial.

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