Informação explícita versus informação implícita
A diferença de quem confia, de maneira invariavelmente indiscriminada, nas informações que internaliza, daqueles que quase sempre preferem analisar a realidade [mente proto-científica] antes de comprar ''conhecimentos pré-moldáveis'' às suas mentes.
Me parece que nós podemos ter dois tipos de pessoas, a partir desta perspectiva: aqueles que confiam quase que intuitivamente nas informações que internalizam [sem maior auto-reflexão] até aos que sempre preferem realizar primeiro uma bela análise de padrões [similaridades, contradições, contrastes,..] antes de aceitar, por si mesmo, a veracidade [correta ou incorreta] de certa informação.
Partindo desta linha de pensamento eu percebo que parece existir uma tendência enfática, nos dois tipos [e claro, com as suas misturas devidamente ressaltadas] para diferentes operacionalidades, que serão mais fluidas ou mais cristalizadas. Claro que todo mundo tende a usar os dois modos de operacionalidade, mas também é claro que existem variações individuais e mesmo entre grupos na equidade de uso dos mesmos.
Nós também temos culturas que me parecem ser bem distintas entre si, culturas intelectuais, entre os mais fluidos ou pensadores, e os mais cristalizados ou aprendizes. O primeiro exalta a capacidade de raciocínio puro ou analítico-crítico, o segundo ressalta o aprendizado via ''conhecimentos' como a maneira mais adequada para entender e vivenciar a realidade. O primeiro, claramente, parece ser menos dependente desta aprendizagem, se comparado ao segundo. Ele também pode ser mais propenso a ter uma memória semântica menos larga do que o segundo, que por um lado reduziria o seu arcabouço de ''conhecimentos'' e que por outro lado aumentaria a sua motivação em abordagens analítico-críticas. E, anedoticamente falando, eu tenho percebido este embate entre esses dois tipos, até mesmo porque eu, que acredito ser mais fluido do que cristalizado, também tenho participado desses embates. O fluido também pode ser até muito mais criativo [especulativo] do que o cristalizado, porque ao invés de, preferencialmente falando, recorrer ao conhecimento que já foi cristalizado [abordagem convergente], ele será muito mais propenso a quase sempre re-analisar e re-criticar as informações resultando em uma maior tendência para produzir insights, se prefere, primeiramente, manipular a informação por si mesmo, misturando-a ao conhecimento [específico à ela] que já tem consigo.
O fluido também pode ser mais propenso a ser chamado de ''teorista de conspiração'', ;) e [in]justamente pelos tipos mais cristalizados, ;), porque será muito mais propenso à independência de pensamento [pensador] via motivação intrínseca de se praticá-la, assim como também a pensar de maneira mais impessoal ou sem necessariamente se preocupar com a opinião alheia/pública, tendo em sua mente, parâmetros de idealidade, que todo mundo tem, e que o cristalizado será muito mais propenso a desenvolvê-los justamente com base no senso comum, a dicotomia que propus entre bom senso e senso comum. E os seus parâmetros de idealidade ou referências lógicas, lógica e repetitivamente falando, serão de natureza mais primariamente científica do que socialmente influenciada. E talvez, isso também possa ser um problema para o fluido, porque ele pode se tornar menos empático, acreditando que tudo aquilo que emana do social está errado, confundindo lógica com racionalidade, ou ''instinto'' com verdade.
Eu já falei sobre a dicotomia cinematograficamente pensada dos tipos mais masculinos ''Stanley Kowalski'' versus os mais femininos ''Blanche DuBois'' neste texto.
Stanley seria ou representaria um tipo mais primitivo enquanto que é perfeitamente possível termos, e de fato temos, tipos ''excepcionais'' de ''mais fluidos'', basicamente os pensadores, que estão mais próximos dos intelectuais psicóticos como no caso da personagem Blanche DuBois do que em relação aos primitivos espertos como o Stanley Kowalski, ainda que, compartilhará com o segundo a sua essência de operacionalidade, que pende mais para a lógica.
Porque os testes cognitivos tendem a enfatizar pela cristalização do conhecimento do que pela fluidez do pensamento, especialmente em contextos reais, então será esperado que os cristalizados pontuarão mais alto, em média, do que os fluidos. Outra diferença entre os dois tipos, é a de capacidade para o pensamento holístico. Sendo o fluido naturalmente mais propenso a ser um pensador 'independente' do que o cristalizado, então será esperado que ele também será melhor para este tipo de raciocínio, de pensamento holístico, mas também para o pensamento mais detalhista, especialmente os mais inteligentes.
Por ser um acumulador de informações explícitas, o cristalizado será mais propenso à conformidade social e intelectual, e neste sentido ele se assemelhará em demasia ao ''normie típico'' que também é um ''pensador dependente, mais lento e lerdo'' para, por si mesmo, buscar pelas informações. Ao contrário, ele será mais propenso a esperar que elas ''o alcance'', e também poderíamos denominá-lo de ''pensador passivo'', e o fluido como um ''pensador ativo''.
Por pensar de maneira independente, o fluido também pode se tornar mais propenso à ideações de natureza psicótica, assim como também a toda sorte de estresse psicossomático que a inconformidade social tende a causar nas pessoas.
O cristalizado será mais cultural enquanto que o fluido tenderá a desprezar pela cultura, de maneira geral, claro que estamos falando de médias, e isso ainda não significa que o ''fluido ou pensador médio'' não será tão domado por sua contextualidade cultural como parece acontecer em demasia com o cristalizado. Esta conjectura lógica potencialmente correta, parte de considerações igualmente lógicas, em que se esperará que, por serem dicotômicos, aquilo que falte em um abundará em outro, mas é perfeitamente possível termos diversas facetas de similaridades entre os dois. Estou a especular de maneira rígida, ao construir um modelo de dicotomia, mas isso ainda não significa que será perfeitamente assim. Talvez se possa concordar de maneira bem mais confiante que esse modelo de contrastes que está sendo proposto caiba quase que perfeitamente aos mais caracteristicamente ou autenticamente ''cristalizados'' e ''fluidos''.
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terça-feira, 25 de abril de 2017
quinta-feira, 9 de março de 2017
E se selecionássemos apenas ou especialmente os pensadores???

A metáfora literária e distópica do romance Admirável mundo novo é um espelho quase perfeito de nossas sociedades. De fato os seres humanos estão divididos em grupos geralmente hierárquicos e tendem a pensar de maneira coletiva, de acordo com esses grupos, em que estão ou que fazem parte. Outsiders são alguns desses seres raros que por causa de alguma anomalia congênita nascem especialmente individuais e que por sua vez por causa desta perspectiva existencial única se dão conta desta vil realidade mais cedo do que a grande maioria, isto é, despertam mais cedo em relação às ilusões que se perpetuam teimosas e poderosas em nossas sociedades, praticamente definindo-as de maneira essencial.
A única diferença mais pronunciada que existe entre o romance e a realidade social é que o primeiro determina como causa dessas classes sociais/mentais uniformes e atomizados à seleção artificial que é promovida pelo próprio governo. O que é ainda mais agonizante, e pra nós, seres reais, é que não necessitamos de artifícios científicos na reprodução humana para que nos tornemos uniformes porque já tendemos a ser assim de maneira natural.
Eu já comentei de maneira quase conclusiva, que ''temos selecionado'' por trabalhadores ou servos congênitos [em outras palavras, a maioria de nós é de ''servos congênitos'', por sermos herdeiros 'involuntários' deste tipo de seleção ) e que isso explicaria o porquê de tendermos a ser tão bons em tarefas específicas, aquelas que são cognitivamente inteligíveis a nós, mas não tanto em relação ao simples ato do pensamento, em relação à macro realidade. Em outras palavras, pulamos esta importante etapa de conhecer as bases de nossas realidades, até mesmo porque ''somos' facilmente atraídos pela cultura, que muitas vezes são projetadas pensando em ''nossas'' características biológicas e/ou necessidades hipo-existenciais.
Esta diversificação psicológica e sexual, mas fortemente enviesada nos tipos mais comuns ou mutualmente atomizados, o homem e a mulher típicas, é a causa para a existência dessas castas sociais, bio-hierárquicas, dos alfas, betas, gamas, etc... de maneira não tão organizada como no romance de Aldous Huxley, mas ainda assim evidente, característica e hegemônica.
A manifestação da sabedoria em um indivíduo necessita de uma natureza intermediária, andrógina porém correta, que se faz com base naquilo que a mulher e o homem típicos tem de bom, em termos morais/existencialmente psicológicos. Precisa-se tanto da coragem e da objetividade ''masculinas', quanto da empatia ''feminina'.
Os trabalhadores são em média sexualmente dimórficos em vez de andróginos e portanto perceptivamente incompletos. Esta atomização natural é ideal para a construção de sociedades injustamente desiguais porque os manipuladores, especialmente os mais inteligentes, conseguem perceber e se aproveitar dessas fraquezas.
Percebe-se então que perfil do trabalhador é ideal para sustentar as grandes sociedades. No entanto, como foi demonstrado, o mesmo tende a apresentar deficiências em suas capacidades puramente psico-cognitivas, de pensamento.
Como pensadores eles são ótimos trabalhadores.
Por pensarem menos na macro-realidade (por serem muito menos idealmente andróginos) se tornam quase que servos voluntários oferecendo aquilo que mais tem, as suas capacidades técnicas específicas e pouco podem fazer para lutar contra a própria expropriação.
Sem esta massa de sustentadores, de estabilizadores hipo-perceptivos, ou com uma grande proporção de pensadores sábios, pode ser possível de se concluir por agora que as sociedades humanas seriam completamente diferentes, justamente por causa da natureza sábia, econômica porém justa, que enfatiza naquilo que é essencial, só que a partir de perspectivas moral e cognitivamente universais, enquanto que inteligência e especialmente a criatividade tendem a fazer justamente o oposto, em boa parte porque a maioria dos mais inteligentes e criativos serão fortemente dos sóciotipos de trabalhadores e de manipuladores, os dois sociotipos mais comuns e mais iludidos quanto à importância das sociedades e culturas humanas rente à [hiper] realidade ''lá fora''.
A choupana acima representa um pouco como que uma sociedade predominantemente de sábios é provável que se desdobraria, como que evoluiria. Talvez até pudéssemos pensar se nesta hipotética sociedade ao invés ou especialmente das estruturas que as sustentam fosse o homem que tivesse evoluído mais.
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