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sábado, 16 de agosto de 2025

Sobre a memória autobiográfica, memória semântica e o "livre arbítrio"

Eu tenho chegado a uma conclusão em relação à minha memória autobiográfica e que, talvez, possa ser extrapolada em um sentido geral, de que eu tenho pouco ou nenhum controle sobre o que a minha mente tem guardado como lembrança, se eu percebo um padrão mais aleatório e/ou variavelmente relacionado com os meus gostos e desejos. Por exemplo, sobre o meu desejo de guardar determinados momentos vividos, que também acredito que seja um desejo comum. E a frustração, igualmente comum, de perceber que, na realidade, nossas mentes não nos consultam para saber o que gostaríamos que se mantivesse como lembrança. Também preciso salientar que nunca me esforcei para tentar direcionar minha mente para guardar o que gostaria e apagar ou não priorizar o que não queria que se mantivesse como lembrança. No entanto, talvez, o possível fato, sentido de maneira visceral, de sequer haver uma mínima possibilidade de estabelecer esse controle, pode ter contribuído para nunca tentar esse tipo de exercício mental, por ser mais uma extrapolação teórica do que verdadeira. Mas o que parece ser mais como uma extrapolação, no mínimo, parcialmente verdadeira, é a de que esse nível de passividade que apresentamos quanto à nossa memória autobiográfica também possa ser considerado como factível quanto à nossa memória semântica. Eu disse parcialmente, porque, a priori, parece que apresentamos uma maior capacidade de controle, e não apenas de armazenamento de informação, isto é, de conseguirmos direcionar nossas capacidades cognitivas com base no que memorizamos como técnicas ou aprendizados. Parece... Ou, pode ser que essa percepção seja mais uma impressão subjetiva, um "wishful thinking" ou pensamento positivo, do que um fato verdadeiro. Pode ser que apenas seguimos tendências pré-determinadas e que, para muitos de nós, acontece de maneira completamente inconsciente, tomadas como se fossem decisões legítimas e não apenas uma extrema conformidade à própria natureza. Mesmo em relação ao que parecem ser detalhes específicos aparentemente relacionados mais às nossas personalidades do que às nossas capacidades cognitivas, por exemplo, o meu interesse em ciências humanas e, especialmente, em geografia, que comecei a apresentar desde a segunda infância, e que também se desenvolveu ou se confirmou como uma vocação verdadeira, que não seria apenas um interesse que apareceu de maneira aleatória no início da minha vida, mas um reflexo de aspectos mais intrínsecos do meu perfil psico-cognitivo: morfologia constitutiva do meu cérebro e padrões hormonais, por exemplo. Em outras palavras, estou querendo dizer que, ninguém se torna interessado em determinados tópicos sem que existam fatores subjacentes, mais intrínsecos de sua própria biologia, e isso pode significar que também não temos pleno controle sobre a direção que tomam as nossas inteligências, por uma via mais direta, pela memória semântica. Eu vejo em mim, ao mesmo tempo, essa impressão ilusória de autocontrole cognitivo e de percepção de ausência de escolha, se realmente não decidi de maneira consciente ou voluntária gostar de geografia e não gostar de matemática, pois para que fosse apenas uma questão de escolha, teoricamente, ao ser exposto a esses conhecimentos, eu deveria ter apresentado níveis similares de aprendizado nos dois e, então, decidido por um deles. Mesmo assim, ainda não significa que, nesse cenário, existiria uma real possibilidade de escolha, até porque essa atração que apresentamos pelos nossos interesses intelectuais ou de outra natureza, novamente, nunca aparecem "do nada", mas com base em nossas próprias características cognitivas, psicológicas, hormonais... Um outro exemplo pessoal: se eu, desde o início da minha vida adulta, passei a gostar de psicologia e de filosofia (essa de maneira mais autoral), isso também se deve às minhas próprias características, tal como um perfil cognitivo mais inclinado para as capacidades linguísticas e uma autoconsciência mais aflorada que induz a uma alta frequência de pensamentos reflexivos, até mesmo aspectos não muito lisonjeiros, tal como uma maior tendência narcisista. Pois eu observo que, não existiu nenhum antecedente do meio em que vivia, quando era criança, que tivesse me induzido a gostar de geografia e não gostar de matemática. E mesmo nos casos em que existe ou existiu, um fator externo ao indivíduo não tem o poder de mudá-lo profundamente sem que exista uma base anterior dele mesmo ou de sua biologia que possa tornar essa mudança possível. Nesses casos, portanto, seria mais uma coincidência ou mesmo um fator que apenas reforçou ou serviu de estímulo influente para a emergência de um potencial preexistente, voltando à minha defesa pelo determinismo biológico, em que nenhum padrão ou mudança de comportamento, ou de desenvolvimento, que apresentamos, acontece sem existir uma predisposição ou base anterior. Pode soar redundante e decepcionante, mas é isso o que tenho percebido sobre esse tópico, primariamente por mim mesmo. 


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