Existem alguns estudos interessantes que têm encontrado correlações positivas, porém, relativamente modestas, entre o mês ou a estação de nascimento e certas tendências psicológicas: de que aqueles que nascem no período do inverno, especialmente no fim do inverno e início da primavera, pelo menos no hemisfério norte, estariam em maior risco de desenvolver transtornos mentais, especialmente a esquizofrenia. E a explicação mais comum seria de que as mulheres grávidas que concebem nesse período estariam mais expostas a infecções virais, e que, em uma eventual infecção, seus filhos poderiam apresentar efeitos de longo prazo, mais tarde na vida, incluindo transtornos mentais. Outro possível fator seria a indução do tempo frio a uma deficiência em vitamina D que contribuiria para complicar o desenvolvimento normal das gestações. A correlação entre prematuridade (ou baixo peso ao nascer) e esquizofrenia (e psicopatologia, de maneira geral) também tem sido percebida. Talvez, um desenvolvimento normal do cérebro que é abruptamente interrompido por fatores externos também pode ser um gatilho de longo prazo para a expressão de um transtorno mental. Ou pode ser que o fator genético e, portanto, hereditário, explique boa parte dos transtornos de natureza psiquiátrica, se, primeiro, um casal cujos dois componentes apresentam o mesmo transtorno, estão em maior risco de passá-lo aos seus descendentes naturais do que um casal com apenas um portador, e especialmente no caso de não haver qualquer sinal explícito de transtorno mental entre um par de humanos biologicamente aptos a procriarem entre si ou que já o tenham feito. Pois é justamente essa última possibilidade que me parece a mais provável por talvez ser a menos extraordinária. Primeiro, porque relacionamentos assortativos, em que há um interesse mútuo e ativo de enlace por percepção de similaridades fenotípicas, geralmente uma combinação de biotipo, personalidade e circunstâncias sociais, aumentam a probabilidade de que indivíduos de sexos opostos com os mesmos riscos de saúde, incluindo os psiquiátricos, se envolvam em uma relação e que se frutifique em descendência natural. Segundo que, o mecanismo proposto para explicar a correlação entre nascer no inverno (frio, do hemisfério norte) e desenvolver certos transtornos mentais, precisa de uma comprovação empírica e não é o do meu conhecimento que ela exista até à data em que escrevo esse texto, digo uma comprovação em humanos. Terceiro que, a maioria dos indivíduos que nascem no período do inverno não se tornam esquizofrênicos, ainda que seria interessante ver se existe uma maior proporção de indivíduos que nascem nesse período (especialmente em regiões de clima temperado) e que, se não chegam a se tornar esquizofrênicos, apresentam outros transtornos psiquiátricos, ou pelo menos uma maior expressão de traços de personalidade e cognição associados. Quarto que, indivíduos humanos dotados de perfis de personalidade diferentes (que são padrões predominantemente estáveis de comportamento) tendem a apresentar hábitos diferentes, provavelmente também de acasalamento. Ainda mais diretamente relacionado com essa correlação entre mês ou estação de nascimento e tendências psicológicas, uma das diferenças de comportamento ou personalidade que pode explicá-la é a de preferência climática em que, aqueles que gostam mais do tempo frio (ou que não apresentam esse tipo de preferência), se sentem mais motivados nesse período do ano, até mesmo para fazer sexo//procriar (ou não apresentam diferenças de motivação ao longo do ano), e o padrão oposto para aqueles que preferem o tempo quente. Por exemplo, indivíduos mais emocionalmente instáveis que tendem a se sentir mais "deprimidos" ou menos motivados no tempo frio, ainda mais em ambientes em que o inverno é rigoroso, inclusive para manter relações sexuais, e o padrão oposto para o período mais quente do ano. E já que a gravidez humana dura, em média, nove meses, uma gestação que foi iniciada no verão ou na primavera, fechará o seu ciclo no outono ou no inverno. Então o que talvez tenhamos como elemento mais importante nessa situação é a influência do tipo de personalidade e que expressa vários aspectos biológicos: hormonais, mentais, genéticos... , e não necessariamente o do meio agindo diretamente no organismo humano, ainda que o influencie de maneira indireta, pelo comportamento.
Ok, mas então como explicar esse padrão em regiões de clima tropical e equatorial, se esses climas se caracterizam por variações menos significativas de temperatura??
Pois mesmo se acontece uma menor variação térmica nessas regiões, o fator subjacente é o mesmo, de que existem diferenças de traços mentais entre os seres humanos que resultam em diferenças de hábitos, além do fato de que esses traços mentais não serem apenas abstrações, por também expressarem aspectos mais orgânicos e variavelmente hereditários do corpo. Então, mesmo se esse padrão não se confirma em todas as regiões, sua possível ausência de universalidade correlativa não invalida a sua comprovação de correlação específica. Mas, talvez, essa correlação não passe de uma "confusão genética" (ou genetic confounding, da expressão original em inglês), em que uma correlação que acusa uma causalidade ambiental para determinada tendência de comportamento, na verdade, tem como fatores subjacentes, primários e mais influentes, as características biológicas, como os traços de personalidade e que também são transmitidos de pais para filhos. E, antes de finalizar esse texto, me pergunto se o risco de parto prematuro (ou mesmo de aborto espontâneo) também pode ser uma predisposição intrínseca e variavelmente hereditária, não apenas um incidente completamente aleatório, isto é, que não apresenta a mesma probabilidade de acontecer com qualquer mulher grávida?? Eu sei que existem estudos mostrando diferenças desse risco entre grupos étnicos ou raciais (durante uma pesquisa rápida sobre esse tópico, encontrei estudos mostrando que, de fato, existe uma comprovação indireta de influência genética em relação a esse risco)...
Fontes:
Season of birth in schizophrenia: a maternal-fetal chronobiological hypothesis
Heritability of Schizophrenia and Schizophrenia Spectrum Based on the Nationwide Danish Twin Register
Family history is a predictor of current preterm birth
The Role of Genetics in Preterm Birth
Levels of the stress hormone cortisol are higher in women who give birth in the autumn and winter than those who give birth in the spring or summer, finds a new study by researchers at Cardiff University.
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