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sexta-feira, 11 de julho de 2025

De novo, sobre a complexidade do humor

 Que eu já comentei em outros textos...


Léo Lins, humorista de stand up, foi preso por crime de pensamento. Foi preso por ofender grupos politicamente "protegidos'. Se tivesse ofendido apenas brancos, ricos, atletas e loiras, nenhuma abelha orwelliana da colmeia totalitária da "esquerda" teria se importado. Pelo contrário. É até provável que passariam a apoiá-lo como um novo "aliado" ou "camarada". Mas como ele não é mais um Duvivier vendido e domesticado por esses democratas anti-democráticos, passou a representar uma ameaça real ao poder cada vez mais invasivo desta colmeia.

Então, você poderia pensar que eu lido bem com humoristas como o Léo Lins, certo?? Mesmo eu fazendo parte de grupos que fazem parte do repertório típico de um humorista com o perfil do Léo, certo?? 

Mas não é bem isso que acontece, já que justamente por estar sempre na mira do deboche pago de tipos como ele, que eu nunca consegui, e acho que nunca conseguirei, naturalizar que uma pessoa possa trabalhar de ofender outras pessoas, ainda mais quando se tratam de ofensas dirigidas aos meus grupos de aderência mais natural, que me afetam a nível pessoal quando as escuto. Eu já problematizei o humor em textos anteriores. Já disse que tem que haver um certo controle; que o humorista deveria fazer humor autodepreciativo como maneira de parar de ofender outros, especialmente grupos "socialmente marginais"; que humoristas apresentam um viés para ofender certos grupos que outros, que o humor nunca se limita apenas à piada, ou que as pessoas o usam como incentivo ou inspiração para praticar abusos psicológicos, etc... No entanto, eu mudei de ideia, parcialmente. Não mudei de ideia quanto à aceitação da inevitável complexidade do humor em relação aos contextos social, cultural e moral, com os quais está sempre interagindo, de estar sempre debatendo criticamente sobre isso. Não mudei que, idealmente, deveria ou deve haver algum controle, e esse debate proposto seria uma maneira de controlar os seus limites. E que humoristas poderiam tentar o humor autodepreciativo ou priorizá-lo mais. Mas, desprezando o uso da violência física não-consentida (também incluindo qualquer tipo de chantagem envolvida) ou representação artística de humor que saia de todos os limites* minimamente aceitáveis, eu acredito agora que deve haver uma liberdade de criação mais irrestrita que restrita para o humorista, mesmo que faça suas piadas com grupos aos quais mais me identifico ou apresente um viés de preferência para o seu escracho. Mesmo que faça piadas ofensivas... A minha mudança relativa de opinião se deve por causa da percepção da conjuntura política atual, no Brasil e no mundo, em que existe uma crescente censura do politicamente correto da "esquerda" identitário-burguesa. Também porque nunca defendi que uma pessoa deva ser presa por dizer algo que me desagrada, pelo menos na instância do humor. Posso ter defendido que certos pensamentos e crenças não devam ser tratados como fatos ou referências científicas (o apelo ao bom senso), como, aliás, sempre tem acontecido. Mas nunca defendi por uma censura absoluta, especialmente para opositores ideológicos ou políticos...

* Dois casos que já comentei em que o humor saiu de todos os limites minimamente aceitáveis: de uma cena no filme Debi e Lóide (1994), em que fazem piada com um menino cego que tem um passarinho morto de estimação (sem saber que está morto justamente por causa de sua deficiência visual). E a "Casa dos Autistas", infame esquete do Comédia MTV, em que todos os autistas são retratados como "deficientes intelectuais", fazendo referência ao reality show do SBT, Casa dos Artistas...

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