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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

A ilógica da "democracia de maioria" ...

 ...ou democracismo. 


Uma questão que é fundamental à fragilidade do sistema democrático. 


"E se 53% querem e 47% não querem??"

Eu já comentei sobre o problema da definição de povo dentro do conceito de democracia e que esse equívoco, que é o de considerá-lo como sinônimo de maioria, praticamente transforma o ideal democrático em uma distopia que chamei de democracismo, em que opiniões majoritárias passam a ser consideradas como as mais certas, independente da qualidade objetiva, isto é, do nível de verdade e ponderação das mesmas. Pois se é irracional qualificar uma opinião por sua popularidade e não por sua qualidade intrínseca, mesmo se pensarmos por esta lógica de que a opinião da maioria é soberana, a própria definição de maioria já é arbitrária ou, pelo menos, mais complexa de como tem sido adotada, especialmente em "democracias' ocidentais, afinal, existe uma grande diferença entre 53% da população ser a favor ou votar em X e se for 83%, porque no primeiro cenário, mesmo que, matematicamente falando, possa ser considerado maioria, em termos mais realistas se traduziria em um quase empate técnico. Então, além da crença de que a opinião da maioria deva prevalecer, a democracia moderna, tal como tem sido pensada, também parece que se baseia na crença de que a matemática pode servir para julgar situações humanas por supostamente não apresentar grandes irregularidades ou ser absolutamente exata. Mas sua aplicação em nossos contextos políticos mais se assemelha a tentar sair de um labirinto traçando uma trajetória em linha reta, desprezando nuances e acima de tudo, as verdades do que está em jogo. 

O povo governado pelos seus melhores representantes

Além da democracia moderna se basear na falácia do democracismo, de "sabedoria das massas", ainda tem constituído sua classe governante, ou elite político-econômica, de políticos oportunistas ou demagogos e de empresários gananciosos, em outras palavras, os piores representantes do povo, de uma maioria de sujeitos que só pensam em poder ou dinheiro, que estão muito aquém do ofício de governar com justiça e inteligência. É por isso que podemos classificar as sociedades humanas  desde os primórdios da civilização, como idiocracias, porque ao invés dos mais sábios, têm sido governadas principalmente por idiotas morais, isto é, por sujeitos irracionais. 

Então, se a maioria não tem sempre razão, o ideal seria de buscarmos por aqueles que mais têm, isto é, pelos que mais desenvolveram suas capacidades racionais para que nos governem e sem ter a necessidade de excluir outras vozes, a partir de uma governança horizontal em que "todos' possam participar da democracia, mas sempre priorizando pela qualidade de ideias, propostas... do que por sua popularidade.

Então, novamente, a democracia ideal não deve ser fundamentalmente o governo DO povo, mas PARA o povo, isto é, a priori para todos os indivíduos e grupos que coabitam ou compartilham um mesmo espaço politicamente delimitado, principiando pelo conceito mais correto de povo, que não é o mesmo que maioria. Porém, para que "todos" possam ser atendidos e sem que suas demandas se sobreponham às dos outros, é preciso que o governo seja composto pelos membros do povo que são mais sensatos ou ponderados para que consigam tomar as decisões mais sábias ou justas. E afirmo que tais indivíduos não são comuns, se a maioria dos seres humanos apresenta níveis muito moderados de capacidade racional. Por isso, a priori, não importa se "50 a 80% da população aprova x ou y" e sim qual posicionamento que está mais certo, que se baseia na verdade ou conhecimento e, portanto, na justiça.  

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