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terça-feira, 2 de setembro de 2025

Sobre o estado lastimável das "ciências humanas" com um exemplo de "anti-especialista"

Com certa frequência, e até gostaria que fosse menos, além de ver postagens ou publicações sobre geografia e história em redes sociais, eu também entro nas seções de comentários, por curiosidade. Mas aquele tipo de curiosidade que "matou o gato", porque geralmente me decepciona ver tanta besteira sendo dita por pessoas em espaços virtuais. E você, talvez, poderia completar: "essas pessoas... de direita, negacionistas da ciência..." Olha, eu até poderia concordar contigo que elas existem, são numerosas e que podem ser perigosas. Mas eu me vejo mais desconcertado com as pseudagens do outro lado da polarização, porque parece que são até piores que as tipicamente endossadas por autodeclarados conservadores. Porque essas pseudagens "de esquerda" correspondem, de maneira significativa (mas não absoluta), às próprias bases do sistema de crenças dito progressista, além de também se acoplarem a alguns dos conhecimentos mais básicos que nós, humanos, podemos ter, que chegam a ser até intuitivos à nossa percepção de tão básicos, particularmente uma subversão de alguns dos aspectos mais elementares de uma perspectiva psicológica, social, cultural, histórica, ou simplesmente humana, tornando-as tão ou mais perigosas, enquanto que as pseudagens "de direita" tendem a cair em categorias mais tradicionais ou características de pseudociência que geralmente e, pelo menos, não negam fatos tão básicos da nossa realidade prática, como as diferenças humanas de natureza mais intrínseca... 


Voltando às pseudagens "esquerdistas", por terem se tornado acadêmica e institucionalmente ratificadas, também se tornaram mais contextualmente perigosas que a maioria das pseudagens "de direita", ainda que não esteja querendo dizer que essas também não sejam perigosas e é por isso que sublinhei a diferença contextual, de poder entre elas, na atualidade. Então, ao invés da educação superior e, principalmente, das ciências humanas, onde a hegemonia ideológica de viés esquerdista é mais forte, estarem formando* especialistas em suas áreas, estão formando* anti-especialistas que se passam como "especialistas", que também podem ser chamados de pseudo intelectuais, com a diferença da ênfase no caráter de subversão ou inversão de função. 

*Na verdade, o que ocorre mesmo é um filtro ideológico induzido pelas "panelinhas" dentro das faculdades de ciências humanas (e outras que estão mais intimamente relacionadas, como a de comunicação) em que os estudantes que demonstram maior fidelidade à sua ortodoxia ideológica estão em grande chance de seguirem adiante em sua "formação acadêmica". 

Um exemplo anedótico do estado lastimável das ciências humanas atualmente, que foi retirado das minhas andanças em seções de comentários de redes sociais e que ainda pode ser extrapolado como um exemplo comum dos que se formam nessas áreas e em suas adjacências, é de um suposto "doutor em educação" que postou um comentário em uma postagem sobre o alto fluxo migratório para o estado de Santa Catarina nesses últimos anos, segundo o IBGE, em que ele torce para que nordestinos migrem em massa para lá e alterem as tendências políticas estaduais, para impor uma atmosfera política "mais humanista", com base em uma votação expressiva à "esquerda". Pois um especialista nas verdadeiras ciências humanas, antes, teria que ter deixado de pensar um bocado para ter feito esse comentário, acreditando se tratar de um comentário inteligente. Ele, primeiro, precisa ter desprezado que nordestinos tendem a votar na "esquerda" por dois fatores: assistencialismo estatal, basicamente bolsa-família, e identificação cultural com o maior líder da esquerda brasileira, Lula. Então, para que um hipotético estado de Santa Catarina nordestizado replicasse por longo prazo o padrão de votação dos estados da região Nordeste, deveria apresentar exatamente um predomínio de usuários de medidas assistencialistas, já que, sem isso, e mesmo os nordestinos aculturados talvez não continuassem tão homogêneos em seus padrões de votação. Além disso, a aculturação é provável que tornaria essa identificação com o Lula e o lulismo (culto à sua personalidade) mais fraca entre eles. Segundo que, importar ou receber massiva migração de uma população, em média, mais pobre e menos educada (e que também tende a significar "menos inteligente") do que a população nativa, resultaria em um aumento de problemas sociais, como a criminalidade. Aliás, é justamente o que tem acontecido por lá... 

Essa tal "humanização" de um dos estados mais ricos do país seria em qual sentido, exatamente?? 

O indivíduo que postou esse comentário deve compartilhar com os seus aliados ideológicos uma compreensão não apenas simplista ou insuficiente, mas essencialmente distorcida, em que muito do que é verdade ou factual dos tópicos aos quais se enveredam se torna o "errado', e o que não é verdade ou impreciso se torna o "certo', de acordo com as narrativas dogmáticas de sua doutrinação. Então, um exemplo do que é factual, sem sentimentalismo barato, sobre esses tópicos, é que: o mais ideal para uma região que apresenta um bom padrão de vida é que seu governo controle seus fluxos migratórios, até para evitar que ocorra um aumento significativo e ameacem sua própria capacidade de gerar bem-estar social. Interessante que, esses hipotéticos migrantes nordestinos em massa para o sul, estariam vindo de estados há um bom tempo governados pelo PT e que continuam apresentando os piores indicadores sociais entre os estados brasileiros, incluindo os índices mais altos de desigualdade social, e indo para o estado mais "de direita", atualmente, com alguns dos melhores indicadores. Além disso, faltou dizer no início que a procedência regional predominante dos migrantes para Santa Catarina, segundo o estudo, não é nordestina. Sim! O "doutor em educação", provavelmente embalado pelos seus sentimentos, não teve paciência de fazer uma pesquisa rápida para saber quais são os migrantes mais comuns que têm constituído esse fluxo migratório até esse ano de 2025. 

É conclusivo que esse mesmo "doutor em educação" basicamente está replicando a doutrinação de outros iguais a ele, severamente ignorantes sobre alguns dos conhecimentos verdadeiros das ciências humanas que são os mais importantes, e que, como todo conhecimento verdadeiro, primariamente não precisa ser ratificado pelos sentimentos de ninguém ou de nenhum grupo. Porque ele muito provavelmente pensa que não existem diferenças mais intrínsecas entre indivíduos e grupos humanos, especialmente em relação às suas capacidades cognitivas e aos seus traços de personalidade. E que pensar o oposto é "imoral", "fascista" ou "reacionário"... Que tudo sobre o social e o humano se resume ou se origina pelas diferenças sociais e históricas de privilégio e injustiça e que basta combater essas desigualdades,  eliminando-as, para que essas outras diferenças também sigam o mesmo rumo. Muito simples assim... É por isso que ele não vê problema que um estado passe por transformações demográficas significativas, porque parece acreditar que basta uma "educação de qualidade" aliada a um certo tipo de cultura para que tudo se resolva. Eu também já denominei essas crenças de "terraplanismos do comportamento", em outro texto. Resumidamente, ele memorizou um conjunto de pensamentos dogmáticos, de ignorância sobre a própria espécie humana, provavelmente acreditando que se consistem em conhecimentos legítimos, mas especialmente por não ser o mais objetivamente qualificado para obter um certificado de especialização sobre uma função de grande importância social, como é a educação, já que a nega por sua própria submissão às pseudagens "do bem", dominantes em sua área até esse ano em que escrevo esse texto. E o faz primariamente por ser incapaz de controlar sua autoprojeção: de sentimentos, expectativas ou crenças, sobre a sua própria percepção, expressando um padrão de comportamento intelectual oposto ao que é esperado e desejado para uma prática científica legítima, de imparcialidade e objetividade. E é até "engraçado" notar que, mesmo em relação a conceitos extremamente básicos e relevantes à ciência ou ao conhecimento humano, como os citados, esse tipo do exemplo tende a problematizá-los com base no que tem sido autodoutrinado a considerar como verdadeiro ou sensato, especificamente que, a objetividade não é possível (mesmo nenhum grau de objetividade) e que a imparcialidade, que também não seria possível de ser alcançada, ainda é o mesmo que neutralidade (e não é, se a primeira é um posicionamento que se baseia na busca pelo que é factual e a outra é sobre abdicar de ter um posicionamento).