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domingo, 3 de dezembro de 2017

Não sei se já falei sobre isso: autismo (espectro da associabilidade predominantemente involuntária) como um "desligue" natural e variável quanto às subjetividades sociais excessivas


Seriedade/literalidade/ objetividade

Eu já comentei e não tenho dúvidas que não fui o primeiro, nem o último a falar sobre isso, que os amigos são geralmente raros enquanto que colegas e conhecidos abundam entre nós. Mesmo dentro das famílias não é nada incomum termos mais colegas e conhecidos do que amigos. A amizade é o amor, geralmente sem sexo, ainda que também possa acontecer, perfeitamente falando, tendo o segundo. É a relação direta, de grande compreensão e carinho mútuos, isto é, entre dois ou mais indivíduos. E parece ser raro entre os seres humanos assim como também terrivelmente mal compreendida. 


Coleguismo é um nível intermediário consideravelmente mais comum e muito confundido com amizade.

O ser humano médio tem um fraco por subjetividades porque, parece que, adora viver neste breu de objetividades, por ser ou parecer, a priore, mais ameno de se fazê-lo do que em um mundo muito direto. Como resultado adaptou-se/foi sendo selecionado para mentir e para ser enganado quanto à uma grande quantidade de pendengas sociais ou interpessoais. Um dos efeitos colaterais da cooperação: baixando a guarda e por tabela também a sinceridade (invariavelmente falando). É um mundo lotado de artifícios que nada mais  são do que engôdos parciais ou totais, ainda que também existam fatos aí embutidos ou misturados, ou melhor, perdidos. E o autista não nasceu em média programado para jogar este jogo. Outro tipo neurodiverso que não parece ter nascido assim é o tdah, especialmente os tipos mais impulsivamente sinceros. Não estou querendo dizer que autistas em média não saibam mentir ou que também não acabem desejando por eufemismos de tratamento, especificamente direcionados pra si próprios, do que de sinceridades. Acho que os subtipos autistas (especialmente de aspergers) mais sociáveis são aqueles que mais buscarão por amizades só que...

... eles, geralmente, não conseguirão diferenciar amigos, colegas e conhecidos. Daí a ingenuidade...

Colegas podem até ser considerados como meio amigos ou o coleguismo como uma meia amizade, porque ainda terá muitos elementos que caracterizam ou que se expressarão de maneira similar à amizade. O conhecidismo é outro estágio das interações pessoais que dispensa maiores explicações. Pois então, subconscientemente ou nem tanto, a maioria dos neurotípicos consegue lidar com este espectro sabendo diferenciar, que não será sempre de maneira precisa, amigos, colegas e conhecidos. 


Interessante pensar que do outro lado do espectro autismo-psicoses, os psicóticos e arredores, também terão dificuldades para lidar com esta complexidade, e eu já comentei sobre isso ao denominar esta, digamos, falha, de "intolerância à ambiguidades interpessoais". Ou é amigo ou não é. Ou é colega ou não é. 

O autista médio não entende a ambiguidade. O psicótico médio a confunde, tal como ter um mínimo de conhecimento sobre algo e de ter grande motivação para lidar com ele só que não sem entendê-lo. 

Tal como esta metáfora: O autista, em média, não sabe cantar e/ou não sente motivação para cantar, mas precisa viver em uma sociedade onde todos cantam. O psicótico tem grande motivação para cantar, mas não sabe fazê-lo de modo minimamente apropriado [ao contexto neurotípico ou normativo].

Você me conhece ou me entende?


Os autistas e os psicóticos, em média, talvez sim talvez não, desejam estabelecer relações diretas/francas, só que como não compreendem essas diferenças entre amizade, coleguismo e conhecidismo, passam a exibir grandes dificuldades para lidar com o outro  [e neurotípico], se decepcionando e/ou também podendo atuar como os responsáveis pelo mal estar. 

No mais é isso. O mundo social é subjetivo, conveniente, excessivamente complexo, muitas vezes falso. Autistas, psicóticos e arredores tendem a ser o oposto por meios ou razões distintas. Como eu já falei, com certeza que tem um bocado de verdade, não apenas na assimetria e mal adaptação dessas desordens em relação ao meio social, mas também porque revela algumas das principais falhas dos meios de socialização humana, que por si mesma poderia ser entendida como uma desordem coletiva invariavelmente necessária para o estabelecimento de uma vida social robusta ou apenas dentro das normas. Como perfeccionistas histriônicos (ou talvez nem tanto), os dois tipos sofrem efeitos psicossomáticos causados por essa frustração diária no lido com os outros, com a maioria. O autista, em média, valoriza, de maneira instintivamente pura, pela verdade (mesmo que na maioria das vezes não a alcance, ao menos em seu início = espinha dorsal da macro realidade) enquanto que o psicótico o faz em relação à confiança [confiar no outro], e como ambas as imprescindibilidades filosóficas encontrar-se-ão ingratamente ralas ou caoticamente espalhadas pelo tecido social, então as suas tolerâncias excepcionalmente baixas para ambiguidades desta natureza interpessoal, inevitavelmente os farão reagir de modo excessivo (ou nem tanto) aos valores que prezam e que são na maioria das vezes fachadas ou arremedos.


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