Se considerarmos como marcos evolutivos as diferenças entre as espécies, quanto à capacidade de compreensão da realidade, diga-se quanto ao que é mais essencial à inteligência, a percepção, então, a percepção humana, que consegue ir muito além de uma perspectiva primária de adaptação e sobrevivência, por exemplo, prestando atenção ou tendo curiosidade sobre tópicos, a priori, não-essenciais, tal como as estrelas no céu, pode ser considerada um grande marco na escala evolutiva da cognição, e isso é particularmente verdadeiro para certas perspectivas, como a realidade da finitude, sobre "tudo" que existe, incluindo a vida, se se trata de perceber algo que parece impossível de ser notado e, especialmente, compreendido por outras espécies e que também apresenta uma importância suprema, justamente nesse sentido, de compreensão de mundo, da própria existência...
Consequentemente, o ateísmo pode ser considerado uma expressão particular desta evolução cognitiva, de expansão do escopo perceptivo para muito além de uma perspectiva imediata ou limitada à adaptação e sobrevivência. Até porque, se, de acordo com o que tenho pensado e escrito sobre esse tópico, parece que existe uma relação intrínseca entre as crenças humanas que se baseiam em pensamento mágico, principalmente a crença religiosa, e o modus operandi de percepção de todas as outras espécies não-humanas, que eu denominei de autocentrismo, se se consiste em um nível muito básico de percepção de mundo, em que o ser vivo o percebe de maneira muito centrada em si mesmo, em suas próprias impressões (instintivas, emotivas...), ou de maneira definitivamente menos objetiva ou "impessoal".
No entanto, essa superioridade cognitivo-evolutiva seria apenas específica ao ateísmo em si e não necessariamente a todos os ateus, se existem muitos que apresentam outros tipos, mais discretos ou não, de crenças baseadas em pensamento mágico. Pois essa superioridade é mais provável de ser plenamente verdadeira, pelo menos com base nessa linha de pensamento que tracei, para os ateus mais racionais e que também são os seres humanos mais racionais, por serem os mais realistas, que conseguem construir sistemas de crenças predominantemente baseados em evidências (fatos ou verdades objetivas) e ponderação analítica. Seria tal como comparar a evolução gradual de uma capacidade ao longo de uma linha evolutiva, desde se movimentar até a andar ereto ou voar, por exemplo. Então, teríamos, desde as formas de vida mais primitivas, dotadas de um nível muito primário de alcance perceptivo, até nós (e especialmente os mais racionais ou realistas), que podemos pensar e aprender sobre fatos ou verdades que estão muito além das nossas perspectivas mais primárias e imediatas de sobrevivência e adaptação, incluindo os mais derradeiros, como a igualdade da vida por sua essência e finitude.
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